A professora e pesquisadora da história da África pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernanda Thomaz assumirá amanhã (27/3) a Coordenação-Geral de Memória e Verdade sobre a Escravidão e o Tráfico Transatlântico, integrada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
A coordenação é inédita no governo federal. Segundo o MDHC, Fernanda terá a missão de enfrentar "a herança maldita da escravidão", como diz o ministro Silvio Almeida. O órgão será dedicado a reconstruir a história do tráfico de escravos, promovendo a conscientização e sensibilidade da população sobre o racismo e sobre o processo violento de colonização e escravidão que ocorreu no Brasil.
- "Direitos humanos não são guetos", diz presidente do Fórum de Afrodescendentes da ONU
- Anielle sobre decretos de igualdade: "Um lugar que é nosso por direito"
- Silvio Almeida convoca reunião sobre trabalho análogo à escravidão no RS
"Pretendemos tratar as memórias da escravidão e do tráfico humano pelo viés da busca incessante por justiça social. A reparação e o reconhecimento dessas injustiças históricas precisam ser encarados pela população brasileira", declarou a coordenadora. "Não tem como não pensar na escravidão quando olhamos para as desigualdades estruturantes do nosso país", acrescentou.
"Nossa missão é criar uma política de Estado. Não precisamos de mais campanhas", diz coordenadora
Fernanda citou que a preservação e memória do Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, é uma de suas prioridades. O local foi o principal ponto de tráfico no país e é reconhecido como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O comitê gestor do Cais tomou posse na última quinta-feira (23/3).
A coordenadora defende que é preciso abrir diálogo com a sociedade civil para enfrentar a questão do racismo e estabelecer mecanismos institucionais.
"Nossa escuta contemplará membros dos movimentos negros, intelectuais de todo o país, entre os mais diversos setores. Nossa missão é criar uma política de Estado. Não precisamos mais de campanhas", disse Fernanda. "Vai dar trabalho, mas é urgente que a União caminhe na direção da reconstrução da dignidade humana de cada cidadão brasileiro", completou.
Fernanda Thomaz é formada em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde também completou mestrado e doutorado em História. A pesquisadora também possui pós-doutorado pelo Instituto de Estudos Africanos da Universidade de Ibadan, Nigéria, e pelo Instituto Max Planck, Alemanha. Ela é professora da UFJF e realiza pesquisas na área de Estudos Africanos, além de coordenar a sessão Memória, Áfricas e Escravidão do Laboratório de História Oral e Imagem da universidade.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.