investigação

Entenda detalhes da operação da PF que frustrou plano do PCC para matar Moro

Corporação prende nove integrantes da organização criminosa que arquitetavam ataques a autoridades, entre as quais, o senador

Ândrea Malcher
postado em 23/03/2023 03:55
 (crédito: Lula Marques/ Agência Brasil)
(crédito: Lula Marques/ Agência Brasil)

A Polícia Federal (PF) prendeu, ontem, nove integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que planejavam atacar servidores e autoridades públicas. Entre os alvos estavam o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya. De acordo com a corporação os atos criminosos poderiam ocorrer simultaneamente, em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Paraná e Distrito Federal.

Conforme a PF, o PCC planejava homicídios e extorsão por meio de sequestro. Na ação, batizada de Operação Sequaz, 120 agentes cumpriram 24 mandados de busca e apreensão e 11 de prisão — sete preventivas e quatro temporárias. Foram retidos pela corporação joias, carro de luxo e maços de dinheiro.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que soube do plano da facção há 45 dias, por meio do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e informou ao chefe da PF, Andrei Rodrigues. As investidas da organização criminosa tinham como alvos, também, autoridades do sistema penitenciário e da polícia de diversos estados.

Segundo a investigação, os criminosos tinham imóveis alugados na mesma rua onde mora Sergio Moro, em Curitiba. Eles seguiam a família do senador desde, pelo menos, janeiro deste ano. O parlamentar, a mulher dele, a deputada federal Rosângela Moro, e os dois filhos vinham sendo escoltados pela Polícia Militar do Paraná.

O plano da organização criminosa teria sido motivado por mudanças nas regras para visitas a detentos. Moro proibiu as visitas íntimas em presídios federais quando era ministro da Justiça no governo Bolsonaro. Como titular da pasta, ele também coordenou a transferência e o isolamento dos líderes da facção nos presídios de segurança máxima.

Os atentados contra autoridades tinham também como alvo o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o grupo criminoso há cerca de 20 anos, além de agentes penitenciários e policiais de Mato Grosso e de Rondônia. A facção estabeleceu como Plano A — o objetivo principal dos bandidos — o resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do grupo, preso desde julho de 1999.

Monitoramento

Os criminosos comandados por Janeferson Aparecido Mariano, conhecido como Nefo ou NF, receberam, há seis meses, a ordem para monitorar o alvo. Alugaram chácaras na região de Curitiba. Segundo Dino, em uma das chácaras "havia compartimentos sendo preparados". "Compartimentos falsos, paredes falsas. E eles poderiam ser desde para armazenar armamento, droga, como para guardar pessoas", destacou.

Nefo também alugou uma casa perto da residência dos Moro e uma sala comercial ao lado do escritório político do senador, em Curitiba. Os integrantes do PCC fotografaram o cotidiano do casal e dos filhos. Escola, academia, compras e reuniões: tudo foi acompanhado pelos bandidos.

A facção tinha entre seus integrantes, ainda, Reginaldo Oliveira de Sousa, o Rê, da "Sintonia Final dos 14" — grupo responsável pelas ordens dirigidas aos membros do PCC que estão em liberdade. Eles teriam providenciado carros blindados para a ação. Investigadores desconfiam que toda a vigilância sobre a família Moro tinha como provável objetivo o sequestro do senador, da deputada e dos filhos, que seriam mantidos reféns em uma das chácaras, para obrigar o Estado a negociar a libertação de Marcola.

Moro soube em janeiro que era um dos alvos do PCC. Isso aconteceu quando Gakiya e o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, levaram a Brasília as informações de uma testemunha protegida ouvida pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco): o senador e sua família estavam sendo seguidos pela "Sintonia Restrita", o setor de operações especiais do PCC.

O ataque às autoridades estava pronto para ser executado quando Gakiya e Sarrubbo chegaram a Brasília. Além de informar à cúpula da PF sobre o caso, os dois avisaram a Polícia Legislativa. (Com Agência Estado)

Oposição e governo travam disputa de narrativas sobre caso

A Operação Sequaz, deflagrada pela Polícia Federal, se transformou em embate entre oposição e integrantes do governo Lula. O plano do PCC que tinha como alvo o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya resultou em uma disputa de narrativas.

Na véspera da operação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, durante entrevista, que, enquanto esteve preso em Curitiba, pensava: "Só vou ficar bem quando f* com o Moro". A proximidade entre a declaração do petista e a operação da PF mobilizou o Planalto.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, convocou às pressas uma coletiva de imprensa e afirmou que as tentativas de associar o presidente às ações de grupos criminosos eram "perversas" e "fora de propósito".

Mais cedo, Flávio Dino, ministro da Justiça, também veio a público refutar a vinculação do presidente com o caso. "É vil, leviano e descabido", disse. "É mau-caratismo tentar politizar uma investigação séria. Investigação essa que é tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo."

Segundo Dino, "não se pode pegar isoladamente uma declaração de ontem, literalmente, e vincular a uma investigação de meses". Ele ressaltou que, desde janeiro, autoridades tinham conhecimento do plano contra Moro e vinham acompanhando os movimentos do grupo criminoso.

Parte da oposição, porém, atacou Lula. O líder do bloco, senador Rogério Marinho (PL-RN), disse que o presidente revelou ter como motivação no cargo "se vingar de pessoas".

Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acusou o governo de disseminar ódio e ser leniente com o crime organizado. "Política não se resolve com tiro e facada. O que a gente sente na prática é que nos acusam de termos um perfil, mas na verdade somos vítimas do ódio", sustentou.

Apesar dos esforços do governo, a associação entre Lula e o plano do PCC tomou as redes sociais. A hashtag "impeachment" atingiu a marca de 34,4 mil publicações no Twitter até a tarde de ontem. Alguns parlamentares, como os deputados Luiz Philippe Bragança (PL-SP) e Carlos Jordy (PL-RJ), usaram a plataforma para pedir o impedimento do presidente.

Dos Estados Unidos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) comparou o plano do PCC à execução de Celso Daniel, em 2002, e ao atentado de que foi vítima em 2018. "Tudo não pode ser só coincidência. O poder absoluto a qualquer preço sempre foi o objetivo da esquerda", escreveu.

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