Lisboa — Líder da extrema-direita de Portugal e presidente do Chega, o deputado André Ventura está convocando grupos evangélicos, empresários e instituições bolsonaristas para o que ele está chamando de “a maior manifestação contra um chefe de Estado estrangeiro” no país europeu. A meta, segundo ele, é tumultuar ao máximo a visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que estará na capital portuguesa em abril para participar da reunião de cúpula entre Brasil e Portugal. A gritaria maior dos extremistas é contra um possível discurso de Lula na Assembleia da República em 25 de abril, quando se comemora a Revolução dos Cravos, dia da independência lusa. Tanto no governo português quanto em Brasília, esse movimento é visto como "chantagem" de Ventura.
A guerra em torno da visita de Lula a Portugal foi deflagrada na semana passada, quando, em visita ao Brasil para tratar da reunião de Cúpula, o ministro de Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, anunciou que o presidente brasileiro falaria no Parlamento português em 25 de abril. Nada, porém, havia sido combinado com as lideranças dos partidos da Assembleia, nem mesmo com o Partido Socialista (PS) do primeiro-ministro, António Costa. Houve muitas reclamações, inclusive de legenda aliadas, pois o governo, segundo os parlamentares, não pode definir a pauta do Congresso, muito menos em um dia histórico. Coordenadora do Bloco de Esquerda, a deputada Catarina Martins considerou o anúncio uma “trapalhada”. Lula, se confirmado, será a primeiro-chefe de Estado estrangeiro a discursar no Congresso português em data tão simbólica.
O tumulto foi tamanho, que o presidente da Assembleia, o socialista Augusto Santos Silva, disse que convocará o colégio de líderes para definir que caminho será seguido. “Tudo está a ser feito de forma que, numa das próximas conferências de líderes, eu tenha toda a informação de que preciso para propor aos grupos parlamentares e deputados únicos a forma como devemos organizar a sessão de boas-vindas ao presidente do Brasil”, frisou. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também tentou baixar a fervura. “O importante é que a visita corra bem, mas há que respeitar a competência da Assembleia da República e o funcionamento da separação de Poderes”, frisou.
Ordem é tumultuar
De olho do crescimento do eleitorado conservador em Portugal e com pretensões de, em algum momento, chegar ao comando do país, Ventura afirmou que o “Chega fará o que for possível para impedir que Lula discurse no 25 de abril no Parlamento”. Ele assegurou que todos os contatos que têm feito com associações de imigrantes brasileiros, empresários, igrejas evangélicas — com forte presença da ultradireira — e aliados no Brasil mostram que é possível mobilizar a comunidade para a maior manifestação de sempre contra um chefe de Estado estrangeiro. “Quero deixar claro que Luiz Inácio Lula da Silva não terá vida facilitada em Portugal. Vamos promover, divulgar, organizar, transportar, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance contra a presença dele”, assinalou.
Na Assembleia da República, a determinação do Chega é promover o maior tumulto possível para impedir Lula de falar. Ventura disse que pode até aceitar que Lula visite o Parlamento em outro dia, que não 25 de abril, pois, como chefe de Estado, tem esse direito, caso convidado. “Se for em outro dia, ainda que não concordemos com a presença dele lá, teremos uma postura mais amistosa. Mas, no dia 25 de abril, não. É um dia da democracia portuguesa. Abrir o discurso será uma provocação desnecessária”, destacou. Ele disse, ainda, que, num momento em que todos falam em pacificação, levar o conflito para dentro da Assembleia é desnecessário. “Não sei o que faremos, mas a reação será firme, será frontal. Nós não sairemos para deixar Lula da Silva entrar”, acrescentou.
Mesmo que a Assembleia mude a data do discurso de Lula, Ventura disse que as manifestações nas ruas contra o líder brasileiro vão ocorrer. “Entendemos que é um protesto democrático”, frisou, reconhecendo, porém, a legitimidade do governo português em convidar Lula para visitar o país, como ocorreu em novembro passado, logo depois de o petista ter sido eleito. “Mas entendemos que não é normal, que não é bom para a democracia, pois há uma corrupção endêmica ligando Brasil e Portugal, como mostra uma série de processos em andamento nos dois países e em outros lugares”, ressaltou.
Bolsonaro e PL
Ventura, que apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro, derrotado nas urnas, afirmou que não falou com o brasileiro, que está nos Estados Unidos, sobre as manifestações contra Lula. Mas revelou que tem mantido conversas com integrantes do Partido Liberal (PL), pelo qual o ex-presidente concorreu, e há a promessa de apoio aos protestos, assim como de outras legendas. O deputado reconheceu que Lula venceu as eleições com grande margem em Portugal, mas frisou que há muitos “revoltados” com a presença dele no país. “Lula nunca discursaria em um governo que eu estivesse presente”, exaltou.
Instituições que dão suporte a brasileiros em Portugal repudiaram as falas de Ventura. Segundo a Casa do Brasil, o presidente Lula é muito bem-vindo em Portugal. “É, portanto, uma enorme alegria ter o presidente no 25 de Abril, Revolução dos Cravos, dia tão importante para a democracia e a liberdade”, destacou, em nota. A entidade assinalou que “partidos de extrema-direita elegem como inimigos, principalmente, as pessoas imigrantes” e a tentativa de impedir a visita Lula “é um ato deplorável e não representa a comunidade brasileira”.
Para a Casa do Brasil, “grande parte da comunidade defende em Portugal e no Brasil a luta pela democracia, fato comprovado na eleição de 2022, em que Lula obteve maioria em Portugal, com 65 % dos votos válidos no segundo turno”. Assegurou que associações e entidades representativas dos imigrantes brasileiros não estarão presentes nos protestos organizados pelo Chega. "A livre manifestação e a liberdade de expressão são um direito de todas as pessoas. Contudo, discurso de ódio e ataques a pessoas ou líderes políticos, legítimos e eleitos democraticamente, são um ataque direto a própria democracia."
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