O comandante do Exército, general Tomás Paiva, em conversa com oficiais subordinados, disse que a maioria do Exército não desejava a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais do ano anterior. "Não dá para falar com certeza que houve qualquer tipo de irregularidade. Infelizmente, foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado, mas aconteceu", disse o general. A conversa aconteceu em 18 de janeiro de 2023, quando ele ainda era comandante militar do Sudoeste.
No início da gravação, divulgada nesta segunda-feira (27/2) pelo podcast Roteirices, mas que já circula em grupos de troca de mensagens de militares há alguns dias, o general Tomás Paiva pede aos presentes que não gravem nada. “Eu me recuso a ter que pedir ao pessoal para deixar o celular fora, então eu tenho plena confiança naqueles que são meus comandantes militares. Então eu peço que ninguém grave nada, até pelo que vou falar não tem nada demais. São coisa que estão públicas, mas vocês têm que ouvir de maneira direta e franca o que o comandante pensa”, disse Paiva.
A gravação foi realizada de forma escondida por um militar que participou da conversa com o comandante, mas não foi identificado. No discurso, Tomás Paiva aponta a situação política do país como um terremoto que não irá ameaçar a organização militar. “Ser militar é isso, é ser profissional, é respeitar a hierarquia e disciplina, é ser coeso, é ser íntegro, é defender a pátria, é ser uma instituição de Estado apolítica, apartidária, não interessa quem está no comando a gente vai cumprir a missão de qualquer jeito, é não ter corrente”, disse o militar.
O general aponta que o círculo militar está em uma ‘bolha’, "nós estamos na bolha fardado, militarista, de direita e conservadora", mas aponta que existem no país outras bolhas e que elas não são pequenas. Em determinado ponto da fala, Tomás Paiva admite que a ordem do comando das Forças Armadas era não impedir as manifestações na frente dos quartéis do país. "Havia um entendimento do comandante em chefe das Forças Armadas, que era o presidente da República, que não era para mexer, que era legítimo – os acampamentos-. Não teve nenhuma intercorrência, ninguém se manifestou, nem a Justiça, nem o Ministério Público, não teve nada", fala Paiva na gravação.
Na conversa, o comandante deixa claro que o processo eleitoral não apresentou nenhum sinal de irregularidade, lembrando que as Forças Armadas realizaram uma fiscalização do sistema eletrônico de votação. "A diferença nunca foi tão pequena, mas o cara fala assim: ‘General, teve fraude’. Nós participamos de todo o processo de fiscalização, fizemos relatório, fizemos tudo. Constatou-se fraude? Não. Eu estou falando para vocês, pode acreditar. A gente constatou fraude? Não." disse o general que concluiu, "Este processo eleitoral que elegeu o atual presidente e que não elegeu o ex-presidente [Jair Bolsonaro] foi o mesmo processo eleitoral que elegeu majoritariamente um Congresso conservador. Elegeu majoritariamente governadores conservadores."
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