Jornal Correio Braziliense

STF

Rosa Weber defende mais mulheres no poder para fortalecer democracia

No aniversário de 91 anos da conquista do voto feminino no Brasil, presidente do STF, Rosa Weber, ressalta que a baixa representatividade do gênero significa um deficit para o próprio Estado Democrático de Direito

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, fez uma reflexão, ontem, a respeito do aniversário de 91 anos da conquista do voto feminino no Brasil. Em pronunciamento divulgado pela Corte, ela destacou que, apesar do avanço, o país ainda carece de maior presença de mulheres nos espaços de poder. Segundo a magistrada, essa mudança tem papel decisivo no fortalecimento da democracia.

"Ainda hoje, insatisfatórios os índices de presença das mulheres na política, em que há verdadeira sub-representação feminina, a despeito de as mulheres serem a maioria da população", frisou. "O Brasil se situa entre os últimos colocados no ranking da presença feminina nos parlamentos dos países da América Latina e do mundo, enquanto, por exemplo, a Argentina, a Bolívia, o México e o Paraguai já estão a alcançar a paridade de gênero", comparou.

No Brasil, o número de mulheres com direito a voto representa 52,65% do eleitorado total, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar disso, elas ainda estão em minoria em poder de decisão, já que ainda são poucas no Congresso Nacional, tribunais superiores e outros cargos de primeiro escalão.

Rosa Weber lembrou das magistradas brasileiras, que ainda têm menor presença se comparadas aos homens. "O deficit de representatividade feminina significa um deficit para a própria democracia brasileira", destacou. "Não é uma busca apenas em benefício das mulheres, mas de todos, e se confunde, por isso mesmo, com o próprio fortalecimento da democracia."

A presidente do STF também ressaltou que a busca pela igualdade de gênero é papel não apenas das mulheres, mas também de toda a sociedade. "Reverter essa disparidade histórica de representação é um desafio que a todos se impõe: homens e mulheres, partidos políticos, sociedade civil e instituições de Estado — Legislativo, Executivo e Judiciário. Trata-se, na verdade, de aperfeiçoar a democracia, transformando um potencial direito em direito efetivamente exercido", declarou.

Conquista

O direito ao voto foi concedido às mulheres em maio de 1932, por meio do decreto que criou a Justiça Eleitoral. Apenas em 3 de maio do ano seguinte, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, a mulher brasileira, pela primeira vez, em âmbito nacional, votou e foi votada. Essa conquista é tida como o grande momento de transformação social e política, e em 24 de fevereiro foi instituída uma data para comemorar o reconhecimento legal do voto feminino.

Mesmo assim, de lá para cá, a participação de mulheres na política tem sido desafiadora no Brasil. O país teve apenas uma representante feminina na Presidência da República — Dilma Rousseff (2011-2016) —, que, durante todo seu mandato, sofreu com apelidos e comentários pejorativos em relação à sua aparência e condição de mulher.

Na Câmara dos Deputados, atualmente, o número de representantes da bancada feminina saltou de 77 parlamentares eleitas em 2018 para 91 no pleito de 2022, um aumento de apenas 18%.

No Senado, elas somam 14 dos 81 representantes na Casa. Apenas quatro mulheres foram eleitas em outubro do ano passado. Na disputa anterior, sete candidatas assumiram cadeiras.

No primeiro escalão do governo, a terceira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) bateu o recorde de Dilma Rousseff (PT): nomeou 11 mulheres, de um total de 37 órgãos, para o comando das pastas na Esplanada dos Ministérios. Com Dilma, eram oito ministras. Ainda assim, no atual governo, elas são apenas 29% do total.

Com o objetivo de ampliar a diversidade e incentivar a participação feminina, o Congresso aprovou uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para aumentar os recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) de legendas com mais mulheres e negros candidatos.

Paralelo a isso, a Lei das Eleições possui uma regra que obriga todos as siglas a terem, no mínimo, 30% de candidaturas de cada gênero para o Legislativo. O TSE também tem uma resolução que determina o repasse de pelo menos 30% do FEFC para as candidatas.

Política de cotas

Para a advogada Fátima Cristina Pires Miranda, a solução está nas políticas públicas de incentivo à igualdade de gênero. "É preciso que a política de cotas de gênero também se dê para cargos de direção partidária, nas mesas das Casas Legislativas, nas Comissões Legislativas, para que, assim, os partidos políticos levem a sério as candidaturas femininas, dando-lhes as mesmas condições financeiras, de propaganda, de visibilidade, que são dadas aos expoentes do sexo masculino", apontou.

Já a advogada Paula Bernardelli, integrante da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político, ressaltou que esse é um trabalho conjunto. "Passa por uma ressignificação dos papéis sociais que são esperados de homens e mulheres, para que mulheres que se lançam na política possam ter verdadeiramente apoio familiar, social e partidário para estar nessa disputa", frisou.

Na avaliação da advogada Carla Rahal Benedetti, é necessário fazer um resgate histórico para corrigir a desproporção dos cargos. "O deficit da presença das mulheres traz como resultado não apenas a afronta aos direitos e garantias individuais, mas a falta de oportunidade da sociedade em ter acesso, nas proporções que deveria e poderia, a opiniões do senso comum que, pela falta de pluralidade de visões entre o masculino e o feminino, podem nos conduzir a relacionamentos e pensamentos muitas vezes equivocados", destacou.

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