Jornal Correio Braziliense

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A pedido de Lula, EUA concordam em retomar acordo de combate ao racismo

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, anunciou que levaria a demanda aos governantes, após carta assinada por 10 entidades do movimento negro brasileiro pedindo o reinício das ações

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os Estados Unidos concordaram em retomar um acordo entre os dois países para combater o racismo. O governo americano também deve anunciar, nas próximas semanas, o valor que será repassado ao Fundo Amazônia — a decisão passará pelo Congresso dos EUA.

As informações foram repassadas, ontem, pela Embaixada dos Estados Unidos, em coletiva de imprensa convocada para detalhar o encontro entre Lula e o presidente americano, Joe Biden, na última sexta-feira, na Casa Branca.

"O presidente Lula discutiu suas prioridades para a cooperação bilateral: democracia e Estado de Direito, clima, governança global — especialmente a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas —, igualdade racial, energia, comércio e investimento", declarou a embaixadora americana Elizabeth Bagley, que acompanhou a reunião entre os dois chefes de Estado.

Um dos temas do encontro foi a retomada de um acordo firmado em 2008 para combater o racismo, o Japer (sigla em inglês para Plano de Ação Conjunto para Eliminar a Discriminação Racial). A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, anunciou que levaria a demanda aos governantes, após carta assinada por 10 entidades do movimento negro brasileiro pedindo o reinício das ações.

"O Japer é um acordo bilateral histórico que trabalha pela igualdade racial, étnica e inclusão social. Essa é uma prioridade que já estamos discutindo com a ministra Anielle Franco, o chanceler Mauro Vieira e sua equipe do Itamaraty, o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) e sua equipe, e vamos compartilhar mais informações sobre os próximos passos do Japer em breve", frisou a embaixadora.

Fundo Amazônia

Também conforme Bagley, "o presidente Biden concordou em fazer parcerias em todas essas prioridades e ressaltou sua intenção de trabalhar com o Congresso (americano) e trazer todo o empenho do governo dos Estados Unidos para realizar uma contribuição inicial significativa para o Fundo Amazônia e outras iniciativas importantes destinadas a enfrentar a crise climática, bem como mobilizar recursos adicionais do setor privado e de instituições filantrópicas norte-americanas e internacionais".

Questionada sobre valores de repasse, a embaixadora respondeu que a definição passará, também, pelo Legislativo americano. "Ficamos muito felizes de fazer parte (do Fundo). Primeiro, a Casa Branca, e, depois, o Congresso, vão trabalhar juntos para estabelecer a quantidade exata", afirmou. "Mas antecipamos que isso vai ocorrer nas próximas semanas. O presidente (Biden) estava muito entusiasmado."

Atualmente, apenas a Noruega e a Alemanha contribuem para o Fundo, após uma pausa feita durante o governo de Jair Bolsonaro devido ao desmonte da política ambiental. Com a eleição de Lula, a União Europeia e a França também estudam contribuir. A participação dos países desenvolvidos vem sendo cobrada pela ministra do Meio Ambiente e da Mudança Climática, Marina Silva.

Delegação

Segundo Bagley, representantes do alto escalão de Washington virão ao Brasil nos próximos dois ou três meses para dar continuidade aos acertos e tratados iniciados na visita de Lula.

Biden também aceitou vir ao país, a pedido de Lula, em uma viagem ainda sem data marcada. "Gostaria de enfatizar que o encontro dos presidentes foi um dos mais significativos dos últimos anos, talvez da última década", frisou a embaixadora. "O presidente Biden percebeu que, no presidente Lula, tem um forte parceiro e aliado. Posso afirmar, em primeira mão, que os dois líderes estabeleceram, nessa reunião, os fundamentos para colaboração e parceria contínua nos próximos meses e anos", completou.