Relações Exteriores

Alemanha barra venda de blindados brasileiros para as Filipinas; entenda

A decisão foi encarada no governo como uma retaliação à recusa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vender munição de tanques para Berlim repassar à Ucrânia, invadida pela Rússia.

Kelly Hekally - Especial para o Correio
postado em 25/02/2023 06:00
 (crédito: Exército Brasileiro)
(crédito: Exército Brasileiro)

O governo da Alemanha embargou a exportação de 28 carros blindados Guarani, fabricados no Brasil, para as Filipinas. A decisão foi encarada no governo como uma retaliação à recusa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vender munição de tanques para Berlim repassar à Ucrânia, invadida pela Rússia. O equipamento brasileiro tem componentes alemães.

O negócio com os filipinos foi fechado em 2021, por meio da empresa israelense Elbit. Para o transporte de tropas, foi escolhido o Guarani, que é uma parceria entre o Exército e a empresa italiana Iveco, cuja fábrica fica em Sete Lagoas (MG).

Para embargar a transação, a Alemanha justificou que os componentes fabricados naquele país não podem ser vendidos a terceiros sem autorização — o que levou ao Escritório Federal de Economia e Controle de Exportação do governo de Berlim determinar a suspensão dos cinco Guaranis que estavam prontos para serem entregues às Filipinas. A solução, para que o negócio seja concluído, é substituir os componentes de origem alemã.

A postura do Brasil em relação ao conflito entre russo e ucranianos tem suscitados críticas da comunidade diplomática dentro e fora do país. Um ano após o início da guerra, o Itamaraty mantém a estratégia de neutralidade frente ao conflito, posição considerada ambígua e que especialistas e embaixadores têm dúvidas se será viável manter em caso de escalada da guerra.

Isso porque, de um lado, a Ucrânia recebe apoio dos Estados Unidos e outros aliados estratégicos do Brasil. Mas, no extremo oposto, está a Rússia, parceiro comercial de longa data que sustenta o consumo de fertilizantes e integra o Brics. Assim como a China — cujo presidente, Xi Jinping, esteve há poucos dias em Moscou —, desde o governo Bolsonaro, e mantida no de Lula, a ideia tem sido não isolar os russos e adotar uma posição de diálogo com ambas as partes do conflito.

Essa posição foi o que levou o presidente a negar pessoalmente ao chanceler Olaf Scholz, na visita que fez ao Brasil, munição para os tanques Leopard-1 que Berlim remeteria para os ucranianos. Para o ex-embaixador do Brasil nos EUA e na China Roberto Abdenur, tal decisão foi um erro.

"O Ocidente não fornecer armas à Ucrânia para se defender seria condená-la à anexação total pela Rússia. Ser neutro diante da barbaridade que está acontecendo é ser leniente ou quase conivente com a Rússia", criticou.

"Dependendo do agravamento da guerra, o Brasil será instado a se posicionar, e a gente não sabe exatamente como vai conseguir atuar", lamenta o professor de Relações Internacionais da FGV, Guilherme Casarões.

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