Relações Exteriores

Brasil não quer "apresentar solução pronta" para resolver guerra, diz chanceler

Segundo Mauro Vieira, chefe do Itamaraty, a posição brasileira é pelo diálogo e negociação da paz, envolvendo um grupo de países que não participam do conflito

Victor Correia
postado em 24/02/2023 17:33 / atualizado em 24/02/2023 17:41
 (crédito: Fayez Nureldine/AFP)
(crédito: Fayez Nureldine/AFP)

O ministro das Relações Internacionais, Mauro Vieira, defendeu nesta sexta-feira (24/2) que o Brasil não tem a “pretensão de apresentar uma solução pronta” para solucionar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que completa hoje um ano de duração. O chanceler condenou a invasão russa, mas argumentou que é preciso “dar voz” ao grupo de países que não estão envolvidos no conflito, mas querem articular a paz.

Segundo o chanceler, o atual governo está ciente de que os esforços anteriores do Brasil em relação à guerra levaram apenas a ações pontuais, como questões humanitárias e a retomada da exportação de grãos da Ucrânia. “O Brasil não chega para o debate em curso, portanto, com a pretensão de apresentar uma solução pronta. Chega, sim, para ouvir e dialogar com os países e blocos dispostos a explorar o caminho do entendimento”, escreveu o ministro em artigo publicado no Estadão.

Vieira também rebateu as críticas sobre a recusa do Brasil em tomar partido na guerra, especialmente por não ter enviado munições para tanques à Ucrânia, pedido feito pelo governo alemão. Para o chanceler, embora haja críticas internas a essa posição, chefes de Estado e organismos internacionais compreendem o posicionamento brasileiro.

Vários desses interlocutores chegam a sugerir que ela é bem-vinda a esta altura, ainda que sejam pessimistas quanto ao fim do conflito no futuro mais imediato”, argumentou o ministro. O artigo frisou ainda que “é inequívoca a condenação da invasão russa e da violação territorial de um Estado soberano, a Ucrânia”.

Negociação pela paz

O chefe do Itamaraty também reforçou a demanda brasileira para que países que não estejam envolvidos na guerra formem um grupo para negociar a paz. A posição é defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Vieira afirmou, durante sua participação na Conferência de Segurança de Munique, na semana passada, que representantes de outros países também estão dispostos a integrar o grupo.

“Em nenhum dos encontros citados, entre eles com os chanceleres da Ucrânia e de vários outros países, ouvi qualquer crítica à disposição brasileira de explorar, em conjunto com outros interlocutores, caminhos que busquem criar as condições para o fim do conflito”, disse o ministro. Mauro Vieira participará, na semana que vem, da reunião ministerial do G-20, na Índia, onde a proposta deve ser debatida entre os representantes governamentais.

Ontem (23), o chanceler russo Mikhail Galuzin declarou à agência de notícias estatal russa Tass que o país reconhece os esforços do Brasil para articular uma proposta de paz, mas que isso depende da situação da guerra “no terreno”, ou seja, no combate armado entre os dois países.

“Nós tomamos nota das falas do presidente do Brasil sobre uma possível mediação para encontrar formas políticas de prevenir a escalação na Ucrânia, corrigindo cálculos errados no campo da segurança internacional na base do multilateralismo, e considerando o interesse de todos os envolvidos”, comentou o chanceler. “Estamos examinando iniciativas, principalmente do ponto de vista da política equilibrada do Brasil. E, é claro, levando em conta a situação no terreno”, completou.

O chanceler russo destacou ainda a recusa do presidente Lula em enviar armas e munições à Ucrânia, e afirmou que os Estados Unidos estão “botando pressão no Brasil” para tomar partido no conflito.

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