Governo

De 16 discursos, Lula já citou Bolsonaro em 14; Dilma é exaltada

Lula já se referiu a Bolsonaro como "genocida", "irresponsável", "desumano", "insensato" e "o coisa".

Agência Estado
postado em 11/02/2023 08:52
 (crédito: NELSON ALMEIDA / AFP)
(crédito: NELSON ALMEIDA / AFP)

"Acho que é bom a gente esquecer quem governou este país até o dia 31 de dezembro", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a um grupo de políticos em reunião na quinta-feira passada, no Palácio do Planalto, em referência a Jair Bolsonaro (PL). A orientação do petista aos aliados que integram o conselho da coalizão de governo, contudo, tem sido descumprida por ele mesmo.

Dos 16 discursos oficiais feitos por Lula desde a posse, em 1º de janeiro, em 14 oportunidades houve alusões ou menções diretas ao antecessor, a quem já se referiu como "genocida", "irresponsável", "desumano", "insensato" e "o coisa".

O Estadão analisou todos os discursos de Lula que o Planalto tornou disponíveis e identificou que a gestão Bolsonaro está entre as pautas centrais do petista. No discurso de ontem, após a reunião com o presidente americano, Joe Biden, ao falar sobre a necessidade de diálogo com outros países, os EUA em especial, Lula voltou a citar Bolsonaro afirmando que ele desprezava as relações internacionais.

O presidente investe na retórica ofensiva em relação ao antecessor, seja em eventos de lançamento de projetos do governo, seja em cerimônias mais descontraídas com aliados de movimentos sociais. O levantamento também indica que, apesar de o ex-presidente ser o alvo preferencial de Lula, é a correligionária Dilma Rousseff (PT) a pessoa mais mencionada em apresentações.

A presidente cassada foi citada por Lula de forma elogiosa 17 vezes em oito eventos em que tiveram discursos presidenciais. Uma das oportunidades em que Lula elogiou Dilma foi para dizer que, tanto no seu governo como no da companheira de partido, "foi bom para o mercado" ter o "povo vivendo dignamente". O petista também já se referiu publicamente ao impeachment como "golpe". Em outro momento, minimizou as vaias contra Dilma na abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014, a uma "classe média alta que conseguiu ter acesso" ao evento.

Militares

A defesa de Lula à companheira de partido é um dos fatores que tensionam a relação do governo com os militares. Integrantes das Forças Armadas das mais variadas patentes convergem em ataques ao governo Dilma por, dentre outras medidas, ter apoiado e sancionado a lei que instalou a Comissão da Verdade, cujo objetivo foi apurar os crimes cometidos na ditadura. Apesar disso, Lula já disse que as Forças nunca criaram problemas em seu governo e "não criaram com a Dilma também".

Lula citou nominalmente Bolsonaro ao menos dez vezes, sempre usando adjetivos e alusões. Figuras como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, foram mais mencionadas que o ex-presidente, com 11 e 14 citações, respectivamente.

Uma das ocasiões em que Lula falou do antecessor foi num café da manhã com jornalistas, no Planalto, onde disse que "o Exército de Caxias foi transformado no Exército de Bolsonaro". Para Lula, o aparelhamento da Força Terrestre foi negativo porque "todo mundo conhecia o passado do Bolsonaro" como "um cidadão expulso do Exército" por tentar "explodir o quartel".

O número menor de citações diretas ao nome de Bolsonaro, no entanto, não o exime dos ataques velados de Lula. O petista disse, no Rio, que nunca imaginou "que um presidente da República fosse capaz de mentir, descaradamente, sobre benefícios da vacina".

Indiretas

No discurso de posse no Congresso, Lula declarou que o país vivenciou o paradoxo de ter o SUS preparado para lidar com emergências sanitárias, mas sofrer com os piores resultados da pandemia de covid-19 por causa da "atitude criminosa de um governo negacionista e insensível à vida".

"Tudo que a gente fizer para melhorar a vida do nosso povo tem que ser tratado como investimento. E é para isso que me dispus a enfrentar esse genocida", afirmou o petista na posse da presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano.

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