Em mais um capítulo da guerra que abriu com o Banco Central por causa das taxas de juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse não ter de pedir licença para governar e enfatizou o direito de estabelecer sua política econômica. As declarações ocorreram no Palácio do Planalto, durante a reunião com líderes partidários do Conselho Político da coalizão.
"Confio que a economia vai voltar a crescer. A gente não tem de pedir licença para governar, a gente não tem de agradar ninguém. Tem de agradar o povo brasileiro, que acreditou em um programa que nos trouxe aqui. E é esse programa que vamos cumprir para obter o sucesso que o povo espera do nosso governo", frisou.
Aos parlamentares presentes no encontro, Lula ressaltou que "ninguém tem de ter vergonha de ser deputado ou senador ou que foi eleito por isso e por aquilo". "Foram eleitos pelo povo brasileiro e, portanto, todos vocês e todo o governo têm o direito de estabelecer sua política econômica, têm o direito de estabelecer a sua política social", sustentou. "Temos de tentar fazer, dentro da nossa possibilidade, aquilo que foi o propósito pelo qual ganhamos as eleições. Houve um programa, houve um discurso e houve uma votação, e o resultado somos nós", emendou, citando que a reunião marca "uma nova relação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo".
No último dia 6, Lula ressaltou não haver razões para a taxa de juros estar a 13,75% desde 3 de agosto. Uma semana antes, chamou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de "esse cidadão". No mês passado, disse considerar uma "bobagem" a independência do BC. A nova investida contra a instituição ocorreu um dia depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificar como "amigável" a ata do Comitê de Política Monetária (Copom).
O chefe do Executivo informou que, após a visita aos Estados Unidos — ele viajará hoje a Washington —, percorrerá o Brasil retomando obras paradas e falou em colocar a "roda gigante da economia para funcionar". Destacou que "não quer saber de quem é a obra e em que período de governo foi feita". "Se conseguirmos fazer com que todas as obras que estão paradas comecem a funcionar, a gente pode contribuir para fazer com que a economia brasileira não seja o desastre previsto pelo FMI na última avaliação deles", frisou, numa referência ao Fundo Monetário Internacional.
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Lula ainda deu indiretas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sem citá-lo, afirmou que "é bom a gente esquecer quem governou este país até o dia 31 de dezembro". Reforçou, porém, que não se deve "nunca esquecer a tentativa de golpe em 8 de janeiro".
O petista relatou ainda o histórico de protestos pacíficos realizados por movimentos sociais e, em nova indireta a Bolsonaro, frisou os atos golpistas teriam sidos "arquitetados pelo responsável maior de toda a pregação do ódio".
Ele ressaltou, também, querer "restabelecer a conversa mais civilizada possível com o Congresso" e que Parlamento e governo não são inimigos. "Outro dia, me perguntaram qual seria a minha base no Congresso. Disse que ia começar a minha administração com 513 deputados na minha base na Câmara e com 81 senadores no Senado, e que depois que o jogo começasse, a gente ia ver para onde as pessoas iam se arrumando." O presidente acrescentou estar confiante de que conquistará maioria ampla para aprovar as reformas e projetos da sua gestão.
"Eu tenho certeza de que a gente vai conquistar uma maioria ampla para fazer as mudanças que precisamos neste país", afirmou. "Sabemos que, em tempo de autoritarismo, muitas coisas são aprovadas e, depois, a gente fica tendo consciência de que essas coisas não serviram ao propósito em que muita gente acreditou e apostou."
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