Após exatos 20 anos, a Câmara volta a bater recorde na votação para a presidência da Casa: candidato favorito, Arthur Lira (PP-AL) venceu o pleito por 464 votos, contra 21 de Chico Alencar (PSol-RJ) e 19 de Marcel Van Hattem (Novo-RS). Foram cinco votos em branco e quatro nulos. Em 2003, João Paulo Cunha (PT-SP) foi eleito para o cargo com 434 votos. O número decorre da composição que Lira construiu nos últimos meses, e azeitou durante o recesso parlamentar, que inclui PL, PP, Republicanos, União Brasil, PT, PSD e MDB na Mesa diretora, partidos mais numerosos da Casa e com mais prerrogativas regimentais.
A vitória consagradora mostra que Lira chega à 57ª legislatura com potencial de negociação entre quase todas as 23 siglas, à exceção de PSol e Novo, que apresentaram candidaturas independentes como sinalização de que procurariam fazer uma oposição forte ao presidente.
Ao discursar pela primeira vez como presidente reconduzido, Lira defendeu o Estado Democrático de Direito. "Esta Casa não acolherá, defenderá ou referendará nenhum ato, discurso ou manifestação que atente contra a democracia", enfatizou. "Quem assim atuar terá a repulsa deste Parlamento, a rejeição do povo brasileiro e os rigores da lei."
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Ele criticou os atos golpistas de 8 de janeiro e afirmou que o dia de ontem "é prova do funcionamento pleno da nossa democracia". "Não é a baderna de alguns, atacando-a materialmente, que tirar sua presença da vida, do dia a dia e do espírito dos brasileiros".
O deputado também elogiou as Forças Armadas. "No que pese possíveis omissões e erros pontuais que aconteceram no 8 de janeiro e estão sendo apurados, o conjunto das Forças Armadas reconhece a obediência ao poder civil escolhido democraticamente em eleições livres, seja qual for a linha política. (...) O Legislativo é o poder moderador da República e assim continuará sendo", destacou.
Lira ainda aproveitou para mandar recados. Chegou a usar a frase "cada um no seu quadrado" ao frisar que cada Poder atuaria dentro de suas competências. E criticou os questionamentos de leis, aprovadas na Casa, levados ao Supremo Tribunal Federal (STF) por partidos e parlamentares.
"Seguiremos devotos da democracia e, para tanto, serei uma voz firme a favor das prerrogativas e liberdade de expressão de cada parlamentar, porque precisamos exercer nosso mandato de maneira plena", afirmou.
Na linha do também reeleito à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Lira se utilizou de um discurso integralmente republicano, com citações a negros, população LGBTQIA e minorias.
Com presença na Câmara desde 2010, o deputado é conhecido pela abertura a diálogos com parlamentares da oposição e da base, a fim de negociar aprovações de proposições legislativas. A estratégia rendeu-lhe bons frutos dentro e fora das sessões. Com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à sua reeleição, deve guiar a legislatura considerando os interesses do Planalto, assim como fez com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
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