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Indicado de Lira para o TCU é denunciado por indígenas

Indígenas acusam deputado Jhonatan de Jesus, que pode ir para o TCU, de ligações com exploradores das terras ianomâmi

Tainá Andrade
Raphael Felice
postado em 02/02/2023 03:55
 (crédito: Nilson Sebastian/Agência Câmara)
(crédito: Nilson Sebastian/Agência Câmara)

Às vésperas da eleição para o Tribunal de Contas da União, os indígenas que acompanham a crise humanitária dos ianomâmis, em Roraima, denunciam a indicação do deputado federal Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR), apadrinhado pelo presidente reeleito da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para o TCU. A preocupação é porque a bancada roraimense, segundo os representantes dos povos originários, é adversária da questão indígena e vários são os políticos do estado com conexão estreita com empresários que têm interesse na exploração das terras ianomâmis. Por isso, fazem pressão para que Jhonatan seja investigado antes da nomeação.

"Quando chegar ao TCU, não tem volta. Não se pode colocar uma pessoa que está no cargo para investigar (questões que, supostamente, são de seu interesse). Não é novidade que todos os deputados de Roraima são contra a questão indígena. Sou favorável que tenha uma investigação para ver se há ligação direta", defende Ariene Susui, jornalista e ativista do povo wapichana, e que falou em nome de várias nações.

Ela salienta que os povos que vivem nas reservas do estado acompanham com preocupação a movimentação dos políticos roraimense, cujas decisões, além de impactar a saúde indígena, são majoritariamente contrárias à população originária. Segundo Ariene, os três últimos gestores do Distrito de Saúde Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) foram feitas indicações de pessoas ligadas à família de Jhonatan, que tinha conexão com o presidente Jair Bolsonaro.

Apadrinhamentos

Ariene enumerou as pessoas com alguma relação com o deputado. Segundo ela, em 2019 assumiu o DSEI-Y o major do Exército Francisco Dias, indicação senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), pai de Jhonatan. Um ano depois, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) exonerou o militar.

Rômulo Pinheiro foi a indicação de Jhonatan na sequência, em 2020. Ele acumulou denúncias de desassistência dentro da terra ianomâmi e é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). Sucedeu outra indicação do pai de Jhonatan: Ramsés Almeida, ex-vereador do município de Mucajaí (RR), que ficou até novembro de 2022. Foi denunciado por servidores pelo desvio de vacinas, que seriam para indígenas, em troca de ouro. Foi alvo de 10 mandados de busca e apreensão cumpridos pelo MPF e pela Polícia Federal (PF).

Em todas as nomeações, os indígenas fizeram mobilizações para pedir que os postos fossem ocupados por alguma representação dos originários. "Sempre se fazia mobilização para a ocupação dos cargos. A questão da saúde, especificamente, não teve um retorno porque sabíamos que estava na mão desses políticos. Os dois DSEI Leste e Yanomami foram sempre palco de acordos acordos e indicações políticas de pai e filho (Jhonatan e Mecias). A gente vê a questão sempre ser contrária aos indígenas e favorável ao garimpo", acusou Ariene.

O Correio entrou em contato com a assessoria de Jhonatan, mas obteve como resposta que seria "difícil (uma manifestação do deputado) por causa da posse" dos parlamentares no Congresso Nacional.

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