Ao lado do presidente Alberto Fernández, após reunião na Casa Rosada — sede do governo argentino —, Luiz Inácio Lula da Silva salientou a afinidade dentre ele e o comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Segundo o presidente, os dois pensam da mesma forma sobre o apartidarismo das Forças Armadas e a respeito do papel que os militares, como servidores de Estado, devem exercer, independentemente de qual seja o governo.
"Escolhi um comandante do Exército e não foi possível dar certo", disse Lula, referindo-se ao general Júlio César Arruda, que ficou somente 23 dias à frente da Força. "Tirei e escolhi outro comandante. Tive uma boa conversa e ele (Tomás) pensa exatamente com tudo que tenho falado sobre as Forças Armadas. Elas não servem a político, elas não existem para servir um político. Existem para garantir a soberania do nosso país, sobretudo contra possíveis inimigos externos e para garantir tranquilidade ao povo brasileiro", salientou.
Um dia antes de Lula dispensar Arruda, Tomaz — então à frente do Comando Militar do Sudeste — fez um discurso, no Quartel-General Integrado (QGI), em São Paulo, durante evento que homenageava os militares mortos durante terremoto no Haiti em 2010, no qual destacou pontos que vinham sendo ignorados por seus colegas de farda. Chamou a atenção para o papel dos militares na defesa da democracia, apontou o respeito ao resultado das urnas na última eleição presidencial, atacou as mentiras disseminadas nas redes sociais e rejeitou a politização dos quarteis.
Segundo Lula, o presidente Jair Bolsonaro violou o preceito constitucional de que as Forças Armadas não podem ficar alinhadas a qualquer governo. "Está claro na Constituição. O que aconteceu é que Bolsonaro não respeitou a Constituição, nem as Forças Armadas. Tenho certeza que vamos colocar as coisas no lugar e o Brasil vai voltar à normalidade", assegurou.
Cooptação
O presidente deixou claro, mais uma vez, que instituições de Estado devem se manter equidistantes do governo da vez. Lula citou o Ministério das Relações Exteriores (MRE) como exemplo da cooptação feita por Bolsonaro ao projeto político que tentou implantar no país.
"O Itamaraty não tem que servir ao Lula, tem que servir a qualquer outro presidente. E assim vale para os militares. Não têm que servir ao Lula", disse, acrescentando que qualquer agente de Estado tem direito a preferências políticas, mas, se quiser entrar para a vida pública e partidária, deve deixar a carreira.
Segundo Lula, o terrorismo de 8 de janeiro, em Brasília, foi anormal. "Aconteceu um fenômeno no Brasil. Se pedir para que eu explique, não sei explicar. Mas Bolsonaro conseguiu maioria em todas as forças militares, na polícia dos estados, na PRF (Polícia Rodoviária Federal), uma parte da PM e uma parte das Forças Armadas. Isso é reconhecido por qualquer cidadão que faça política no Brasil", afirmou.