O ministro da Defesa, José Múcio, disse nesta segunda-feira (23/1), durante cerimônia da troca do comando do Exército Brasileiro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não dará perdão a militares que tenham apoiado ou até mesmo participado dos atos golpistas do 8 de janeiro.
"Lula não vai perdoar ataques golpistas. As investigações vão até o fim”, avisou o ministro. Múcio também disse que a demissão do general Júlio César Arruda, ex-comandante do Exército, foi motivada pela falta de confiança.
“Desde a questão dos acampamentos, do dia 8, houve uma quebra de confiança, entendeu? De maneira que fica muito difícil trabalhar quando as coisas ficam sob suspeita, se ia ou não tomar a providência”, acrescentou Múcio. Em viagem à Argentina, Lula também comentou a troca no comando do Exército.
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Há um consenso entre ministros, secretários e o próprio presidente Lula de que o ex-comandante do Exército teria trabalhado contra a desmobilização dos acampamentos de bolsonaristas extremistas em frente ao quartel general do Exército no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília.
Na noite do atentado aos Três Poderes, os radicais retornaram ao QG depois de terem promovido a destruição. No fim da noite, veículos blindados do Exército impediram que bolsonaristas fossem presos pela Polícia Militar.
Em meios às investigações e à procura por integrantes da administração pública partícipes ou coniventes aos ataques, Lula demitiu Arruda e nomeou, no último sábado, o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, ex-comandante militar da região Sudeste.
Segundo Múcio, Tomás Paiva está “entusiasmado” para assumir o cargo e vai precisar fazer “costuras internas”. “[Tomás] Prometeu servir ao país no comando do Exército. Está entusiasmado. Evidentemente que existem algumas costuras internas para fazer, a coisa foi muito rápida, mas nós tínhamos que fazer o que foi feito”, disse o ministro da Defesa.
Discurso pela democracia
Durante cerimônia em homenagem a militares mortos em missão no Haiti, na semana passada, durante terremoto ocorrido no ano de 2010, Tomás Paiva discursou em defesa da democracia, das urnas eletrônicas e da alternância de poder.
“Ser militar é isso, é ser profissional, é respeitar hierarquia e disciplina, é ser coeso, é ser íntegro, é ter espírito de corpo, é defender a pátria, é ter uma instituição de estado apolítica, apartidária. Não interessa quem está no comando, a gente vai cumprir a missão do mesmo jeito. Isso é ser militar. É não ter corrente”, disse Paiva, durante a solenidade realizada no último dia 18, em São Paulo (SP).
"Quando a gente vota, tem que respeitar o resultado da urna. Não interessa. Tem que respeitar. É isso que se faz. Essa é a convicção que a gente tem que ter. Mesmo que a gente não goste. Nem sempre a gente gosta. Nem sempre é o que a gente queria. Não interessa. Esse é o papel de quem é instituição de Estado. Instituição que respeita os valores da pátria, como de Estado", acrescentou.
Durante a fala, o general afirma que o respeito às premissas do Exército não anula a cidadania exercida individualmente por cada um dos militares. As palavras foram dadas em meio a apelos inconstitucionais de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por uma intervenção militar contra o recém-iniciado governo Lula.
"Isso não significa que o cara não seja um cidadão. Que o cara não possa exercer o seu direito, ter a sua opinião. Ele pode ter, mas ele não pode manifestar. Ele pode ouvir muita coisa, muita gente falando que ele faça isso, faça aquilo, mas ele faz o que é correto. Mesmo que o correto seja impopular. Porque a democracia pressupõe liberdade, garantias individuais, políticas públicas e, também, é o regime do povo, alternância do poder. É o voto", completou o novo comandante do Exército. O discurso pode ser visto na página do Comando Militar do Sudeste no YouTube.
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