O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apontou erro por parte dos serviços de inteligência, como os do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e das Forças Armadas, por não terem alertado-o sobre a possibilidade de ataques e depredações nos atos ocorridos na Praça dos Três Poderes, no último dia 8.
"Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso", criticou, em entrevista, ontem, à Globonews. "Se eu soubesse, na sexta-feira, que viriam oito mil pessoas aqui, não teria saído de Brasília. Saí porque estava tudo muito tranquilo. Até porque, a gente estava vivendo ainda a alegria da posse."
Lula repetiu que acredita que as portas do Palácio do Planalto foram abertas deliberadamente. "Não foi nenhum analfabeto político que invadiu isso aqui. Era gente que preparou isso durante muito tempo. Eles não tiveram coragem de fazer nada durante a posse", frisou. "Na verdade, nós cometemos um erro, eu diria, elementar: a minha inteligência não existiu. Saí daqui na sexta-feira com a informação que tinham 150 pessoas no acampamento, que estava tudo tranquilo, que não iriam permitir que entrasse mais ônibus, que não iriam permitir que juntasse mais ninguém. Eu viajei para São Paulo na maior tranquilidade. E aconteceu o que aconteceu."
O chefe do Executivo admitiu que, num primeiro momento, achou tratar-se de um golpe de Estado. "Fiquei com a impressão que era o começo de um golpe de estado. Fiquei com a impressão, inclusive, que o pessoal estava acatando ordem e orientação que o Bolsonaro deu durante muito tempo".
Sobre o ex-presidente, Lula acrescentou: "Acho que a decisão dele de ficar quieto depois de perder as eleições, semanas e semanas sem falar nada, a decisão de não passar a faixa para mim, de ir embora para Miami, como se estivesse fugindo com medo de alguma coisa, e o silêncio mesmo depois do acontecimento daqui, me davam a impressão de que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo." Para o presidente, "possivelmente, Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe".
Lula também disparou contra o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres, preso desde o último sábado. "(Ele) sabia o que ia acontecer. Foi embora e, quando voltou, deixou o celular lá, para a gente não fazer as investigações. Mas vamos fazer", enfatizou.
Forças Armadas
Ele confirmou que se reunirá com os comandantes das Forças Armadas para discutir o fortalecimento das instituições e a despolitização das três. Segundo ele, "quem quiser fazer política, tire a farda, renuncie ao seu cargo, crie um partido político e vá fazer política". Afirmou, ainda, que todos os militares que participaram dos atos golpistas serão punidos, "não importa a patente, não importa a Força que ele participe".
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, alvo de críticas no episódio de vandalismo, foi elogiado pelo presidente. "José Múcio é meu amigo de muitos anos, é uma pessoa que eu confio, de muita habilidade política. Por isso que ele foi escolhido, porque é um homem que, sempre que possível, tenta evitar qualquer conflito. Tem gente que não gosta disso", alfinetou.
O chefe do Executivo se mostrou contrário à instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apuração dos ataques terroristas, acenada por congressistas. "Temos instrumentos para fiscalizar o que aconteceu neste país. Uma comissão de inquérito pode não ajudar e pode criar uma confusão tremenda. Não precisamos disso agora", argumentou. "É uma decisão do Congresso Nacional, não é minha. Portanto, os partidos políticos, na Câmara e no Senado, é que vão decidir", emendou.
Segundo Lula, se fosse consultado, se posicionaria contra a instauração. "O que podemos investigar numa CPI que a gente não possa investigar aqui e agora? Estamos investigando, tem 1.300 pessoas presas", justificou.
Ao ser questionado se Bolsonaro poderia disputar as eleições e retornar ao poder, Lula disse que isso dependerá das investigações, mas que não considera "ninguém carta fora do baralho". "Vai depender da participação dele nesse processo todo. Em todas as provocações que ele fez, vai ter muito processo contra ele, ou seja, vai depender muito da Justiça", frisou.