Lisboa — Representante máximo da extrema-direita de Portugal, o deputado André Ventura usou a votação de um projeto de repúdio aos ataques terroristas aos Três Poderes no Brasil para insultar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O parlamentar, que apoiou o governo de Jair Bolsonaro, chamou o líder brasileiro de “bandido”. “Nós compreendemos perfeitamente a fúria e a angústia de milhões de brasileiros de verem seu país, e eu peço desculpas às autoridades brasileiras acreditadas em Portugal, governado por um bandido”.
Imediatamente, ele foi repreendido pelo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, que pediu a Ventura que respeitasse o Artigo 89 do regimento interno da casa. “Senhor deputado, essa é uma expressão ofensiva em relação ao presidente de um país muito amigo de Portugal. E, portanto, sou obrigado a pedir que vossa excelência não use essa expressão ao se referir ao presidente do Brasil ou de qualquer outra República”, afirmou, sob aplausos da maioria do plenário.
Ventura, que foi comentarista esportivo na tevê, elegeu-se apoiado em um discurso radical, xenófobo e recheado de fake news. Ele ataca constantemente os estrangeiros que vivem em Portugal, a quem acusa de tirar empregos dos nacionais e de incentivar a criminalidade. Curiosamente, parte da comunidade brasileira, a maior entre os imigrantes que vivem em território luso, votou maciçamente no Chega, contribuindo para que o partido da ultraditeira aumentasse a sua bancada de um para 12 deputados, tornando-se a terceira força no Parlamento português.
O projeto de repúdio aos ataques à democracia brasileira foi aprovado, inclusive com o voto do Chega, mas, antes da votação, legendas de todas as tendências fizeram questão de criticar o discurso do extremista e apoiar o Brasil, que vive momento bastante delicado. Representante do PS, partido que hoje governa Portugal, o deputado Pedro Delgado Alves afirmou que aqueles que apoiam os atos terroristas em Brasília não respeitam a democracia e ignoram o Estado de direito e o resultado das eleições, da qual Lula saiu vitorioso.
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“Foi perguntado aqui como se atura quem está no comando do Brasil. Se atura porque foi alguém que acabou com a fome, que permitiu que negros chegassem às universidades, que milhões de empregadas domésticas tivessem seus direitos e garantias reconhecidos”, ressaltou Alves. Ele destacou, ainda, o contínuo desrespeito à democracia pelo ex-presidente Bolsonaro nos quatro anos de governo, além dos constantes ataques ao Judiciário. “Um dos filhos (de Bolsonaro) dizia que um soldado e um cabo seriam suficientes para fechar o Supremo Tribunal Federal. Mas o que ficou demonstrado foi a robustez das instituições brasileiras. Nem um soldado, nem um cabo, nem uma turma de baderneiros fechou o Supremo”, emendou.
Para o deputado Tiago Moreira de Sá, a democracia está ameaçada de várias formas, e em várias partes do mundo, seja por regimes autoritários, seja pelo populismo. “Os extremistas colocam em risco a democracia e as liberdades individuais, o que nos foi caro conquistar. Portanto, condenamos o que ocorreu no Brasil”, frisou. Representando do Bloco de Esquerda, a deputada Joana Mortágua lembrou que o Brasil atravessou uma das mais violentas ditaduras militares do século 20. “Então, não deixa de ser uma tragédia ver bolsonaristas invadindo o Palácio do Planalto, desrespeitando a Constituição”, assinalou. Integrante da Iniciativa Liberal, o deputado Rodrigo Saraiva disse que seu desejo é que prevaleça no Brasil o que está escrito na bandeira do país: “Ordem e progresso”.
André Ventura, em seus ataques, questionou o fato de o Parlamento português estar aprovando uma moção de repúdio aos crimes cometidos no Brasil, mas ver o mesmo empenho dos parlamentes em condenar o que acontece no Peru e na Colômbia, “onde a violência da extrema-esquerda já matou muita gente”. Em resposta a ele, vários parlamentares lembraram das milhares de mortes provocadas por Bolsonaro durante a pandemia do novo coronavírus, ao desincentivar medidas protetivas, e das vítimas da violência política.
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