A democracia brasileira foi, ontem, brutalmente vilipendiada. Terroristas bolsonaristas tentaram, por meio da violência, abolir o Estado Democrático de Direito, aproveitando-se do fraco esquema de segurança montado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para invadir e depredar as sedes dos Três Poderes: o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Uma situação inédita na história do país, registrada por cenas de vandalismo golpista que, inclusive, correram o mundo.
O resultado foi a intervenção na segurança do GDF, a ser assumida pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli. O decreto foi assinado no começo da noite pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pelo menos três centenas de pessoas foram presas pela Polícia Civil do DF, outras pela Polícia do Exército e também pela Polícia Legislativa — número que pode chegar a 300 detidos. Quarenta ônibus que trouxeram os golpistas foram apreendidos.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, culpou o governador Ibaneis Rocha — afastado do cargo pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF — e o ex-secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres — exonerado diante da total ausência de um esquema para conter os terroristas —, pelo caos na Esplanada dos Ministérios, cujo saldo da invasão foi de destruição de bens públicos e da União, alguns deles históricos e de valor incalculável. Além de afirmar que o governo não admitirá tentativas golpistas de romper a ordem democrática, Dino avisou que os terroristas, seus financiadores e aqueles que os instigam serão identificados e processados.
Convocação
Na semana passada, a movimentação dos bolsonaristas, nas redes sociais, era frenética. Não escondiam que pretendiam invadir as sedes dos Três Poderes e, ali, depredar o que encontrassem. O convite era explícito: haveria ônibus saindo de várias partes do país com estrutura e conforto para quem quisesse participar do vandalismo.
Não houve nenhum bloqueio que os impedisse de chegar à capital do país. E, já dentro de Brasília, não se viu restrição para que acessassem a Esplanada dos Ministérios.
No sábado, Dino convocou a Força Nacional para auxiliar na proteção da região dos ministérios, mas a tentativa de conter os criminosos foi em vão. Imagens que circularam na internet mostram situações em que a Polícia Militar do DF foi, no mínimo, tolerante com os terroristas. Em uma delas via-se um par de viaturas da PMDF passando pela lateral do Conjunto Nacional, descendo o Eixo Monumental, rumo à rodoviária do Plano Piloto, que abre as portas da Esplanada.
Mas esta não foi a única imagem, que os próprios bolsonaristas compartilharam na redes, dando a entender que contavam com a escolta da PMDF para praticarem as invasões, que começaram por volta das 15h. Vídeos mostraram grupos de policiais militares apenas assistindo a marcha dos terroristas rumo à praça dos Três Poderes ou conversando com criminosos.
O primeiro local a ser invadido, e depredado, foi o Congresso. Enquanto parte dos bolsonaristas subia a rampa da sede do Legislativo, outra promovia quebra-quebra nas instalações do Senado e da Câmara. A Polícia Legislativa, em número insuficiente, foi atropelada pelos terroristas — um dos carros, inclusive, caiu no espelho d'água do Congresso. Dali, o grupo se dividiu entre o Palácio do Planalto e o Supremo.
Torres, que está nos Estados Unidos, tuitou no momento das invasões: "Cenas lamentáveis agora na Esplanada dos Ministérios. Determinei ao setor de operações da SSPDF, providências imediatas para o restabelecimento da ordem no centro de Brasília". Mais tarde, divulgou nota dizendo ter vivido "o dia mais amargo da minha vida pessoal e profissional". Ao mesmo tempo em que ocorriam as depredações, integrantes da PMDF continuavam acompanhando os bolsonaristas de longe.
Devastação
Nas redes, circulavam nas contas dos terroristas vídeos mostrando o ataque por dentro. Uma das imagens trazia o bolsonarista invadindo o STF com um escudo da tropa de choque da PM. Outro vídeo apresentava o brasão da República, que orna o Plenário, na poltrona de um ministro, do lado de fora do Supremo. Também foi exibida a porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, arrancada e apresentada aos vândalos em delírio.
Só se viu ação da PMDF depois de o STF ser tomado. Um grupo de cinco policiais a cavalo tentou dispersar os criminosos, mas não conseguiu. Para piorar, um deles foi arrancado da cela e agredido pelos golpistas — que, por sinal, não fizeram questão alguma de se esconderem; todos exibiam seus rostos nas rede sociais, como Vilmar José Fortuna, capitão reformado da Marinha e assessor do Ministério da Defesa, que posou ao lado da mulher, sorridente, enquanto os criminosos invadiam o Congresso.
O rastro de destruição já era imenso — o acervo de bens históricos do Planalto e do Congresso foi vandalizado —, quando surgiram dois blindados da PMDF, por volta das 17h30, lançando jatos de água contra criminosos que estavam na rampa do Palácio. Dentro da sede da Presidência da República, os soldados que fazem a segurança prenderam alguns terroristas, mas o dano estava feito.
Apesar do aumento da segurança na Esplanada, os criminosos continuaram as depredações. Pelas 20h30, numa operação claramente orquestrada, um dos trend topics do Twitter era "Brasil was stolen" (Brasil foi roubado), mantra dos bolsonaristas que espalham a versão de que houve irregularidade na vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reação, a página no Instagram contragolpebrasil trazia rostos de terroristas, a fim de facilitar a identificação e a eventual prisão de cada um.