Jornal Correio Braziliense

a festa da posse

Tarcísio e Claudio Castro reforçam vínculo com Bolsonaro

Apesar de admitirem vínculo com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que teve papel decisivo em suas campanhas, Claudio Castro e Tarcísio de Freitas optaram por adotar tom conciliador ao assumir o comando das principais capitais do país

Os governadores dos estados de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), reforçaram o vínculo com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante discursos proferidos nas cerimônias de posse, ocorridas ontem. Mesmo diante da expectativa de que assumam posição crítica ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os bolsonaristas adotaram o tom conciliador no primeiro dia de governo.

Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e seu vice, Felício Ramuth (PSD), tomaram posse encerrando 28 anos de gestão tucana no Estado. Em seu primeiro discurso, o ex-ministro dos Transportes agradeceu o presidente Jair Bolsonaro, reafirmou promessa de realizar uma gestão técnica e pediu maior força política ao Estado.

Alinhado com o governo federal, o discurso de Tarcísio foi focado em políticas sociais e na diminuição da pobreza. Para o novo governador, o Estado deve ampliar o próprio peso político para equiparar com o econômico. Para tanto, se comprometeu a promover um ambiente de diálogo na Alesp. "Vamos trabalhar na construção de consensos e convencimento por meio de trabalho técnico. Vamos buscar maioria para realizar programas e manter profundo respeito pelos adversários", afirmou.

O novo governador tem, como principal desafio, o desejo de consolidar seu próprio grupo político. Eleito na esteira de seu padrinho Bolsonaro, vê no presidente do PSD e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab seu principal articulador político. "Os primeiros dias serão de muito trabalho. Pretendemos fazer as primeiras entregas e leilões importantes, como o do Rodoanel", afirmou. Freitas destacou, ainda, que buscou formar um governo com quadros técnicos.

O novo chefe do Executivo paulista organizou um governo montado com cargos distribuídos entre o "bolsonarismo raiz" e evangélicos, o que anuncia um governo liberal na economia e conservador nos costumes. Com potencial para assumir a oposição do PT, também há quem especule que o governador possa herdar parcela significativa do espólio de Bolsonaro e emergir como o nome de direita para a próxima disputa presidencial.

Celebração

Entre os atos da cerimônia, o novo governador de São Paulo recebeu das mãos do presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB), uma réplica do Monumento às Bandeiras, do artista plástico Victor Brecheret.

Participaram do evento o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PSD e futuro secretário de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab, autoridades e deputados estaduais. Entre eles, acompanhou a cerimônia o deputado Douglas Garcia, que hostilizou a jornalista Vera Magalhães em debate na TV Cultura e foi criticado por Tarcísio Freitas. Também participou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), Paulo Galizia, a quem Tarcísio elogiou pela condução do processo eleitoral.

Ao chegar na Alesp, Freitas foi recebido com gritos de apoio por manifestantes bolsonaristas, entre eles os que ocuparam a porta do Comando Militar do Sudeste, vizinho à Assembleia. O grupo questionou o resultado das urnas e pedia intervenção militar.

Rio de Janeiro

Já o governador reeleito do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), tomou posse pela manhã na Assembleia Legislativa (Alerj), junto ao vice-governador eleito, Thiago Pamplona (União Brasil). Embora seja forte apoiador de Bolsonaro e importante representante do bolsonarismo no estado de origem do ex-presidente, Castro evitou citar a troca de comando na Presidência. "Com todo carinho e respeito, eu não sou comentarista das ações dele [Jair Bolsonaro]. Acho que ele deve ter seus motivos pessoais e eu só tenho que respeitar", ressaltou.

Castro assume o mandato em meio a investigações. Em dezembro, a Procuradoria Regional Eleitoral pediu a cassação de Castro e Pamplona por abuso de poder econômico e político nas contratações da Fundação Ceperj e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Já a Procuradoria Geral da República (PGR) pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para investigar o governador por suposto esquema de propina.

Contudo, a declaração mais polêmica é sobre o uso de câmeras em fardas de policiais civis e militares. Durante a posse, Castro declarou que seguirá recorrendo à Justiça para evitar que os agentes das forças especiais, como o Bope e o Batalhão de Choque da PM, sejam obrigados a usar câmeras em suas fardas. Nos batalhões comuns, já foram instalados 9 mil equipamentos de filmagem.

Em dezembro, decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin pediu a apresentação do cronograma de instalação dos equipamentos nas chamadas tropas de elite, mas o governo do Rio recorreu da decisão. Ainda no domingo, Castro confirmou que o cronograma prevê a instalação de 21 mil câmeras em 2023.

Na última sexta-feira, o novo governador do Rio anunciou seu secretariado, formado por 32 pastas, duas a menos que as atuais, e a criação da Secretaria Especial de Mulheres. Entre os nomes convidados para assumirem como titulares, estão os de aliados, como o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis (MDB) cotado para vice na chapa de Castro no período eleitoral e vetado devido a impedimentos juntos à Justiça Eleitoral —, e o deputado federal Hugo Leal (PSD).

Castro manterá 13 dos atuais secretários, como os da área econômica e da segurança pública. Entre as suas principais propostas para o governo está a geração de mais de um milhão de empregos até o fim de 2026, a maioria com carteira assinada e "salários valorizados".