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Novo comandante assume "desbolsonarização" do Exército

Primeira missão do líder do Exército, Tomás Paiva, foi facilitada pela decisão do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro de pedir adiamento da promoção polêmica. No Palácio do Planalto, militares continuam sendo afastados de funções estratégicas

Vinicius Doria
Victor Correia
postado em 25/01/2023 03:55
 (crédito: Divulgação/EsPCEx )
(crédito: Divulgação/EsPCEx )

A primeira missão do novo comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, foi cumprida com mais facilidade do que previa o próprio governo. Ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid não vai mais assumir a chefia do 1º Batalhão de Ação de Comandos, em Goiânia. Ontem, ele encaminhou um pedido ao general Paiva solicitando o adiamento de sua designação por causa da investigação aberta por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) nas contas de assessores de Bolsonaro por suspeita de caixa 2.

A dificuldade que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, encontrou para barrar a nomeação de Mauro Cid foi apenas o estopim da demissão do então comandante, general Júlio César Arruda, que ficou menos de um mês no cargo. Ontem, o ministro comentou as suspeitas que pairam sobre o ex-auxiliar de Bolsonaro, mas disse que é preciso aguardar as investigações.

"Eu estava com muita dificuldade de tratar desse assunto com o comando do Exército. Muita dificuldade. Há um espírito de corpo muito forte, há um ambiente político muito forte", afirmou José Múcio. "Primeiro, a gente precisa ter acesso a isso (às provas). O presidente foi o primeiro a dizer: 'Olha, essa história de condenar por condenar, eu já fui vítima disso. Vamos averiguar o que é que tem'. Precisa ver ao que vamos ter acesso nesse inquérito, ou nessas denúncias, porque não tem nem inquérito", completou.

O 1º Batalhão de Ação de Comandos, em Goiânia, é considerado estratégico porque tem autorização para atuar em operações de emergência em Brasília. A mudança de Mauro Cid estava prevista desde o primeiro semestre do ano passado, quando saiu a lista de promoções do Exército. O adiamento da promoção do tenente-coronel não o impede, porém, de se habilitar a cargos compatíveis com sua patente, mas o próprio militar informou ao comandante que vai esperar a conclusão das apurações em torno das denúncias de uso de caixa 2 por assessores de Bolsonaro antes de fazer nova solicitação.

O veto à promoção do ex-ajudante de ordens do Palácio do Planalto partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está empenhado em desmilitarizar o Palácio do Planalto e afastar os auxiliares mais ligados a Bolsonaro. Dar solução para o caso era a primeira incumbência do novo comandante da Força. A iniciativa de Mauro Cid significou um problema a menos na mesa do general que, ontem, reuniu-se pela primeira vez com o Alto-Comando do Exército, em Brasília. O governo espera que o novo líder da instituição faça valer a sua autoridade para recolocar o Exército no trilho de suas atribuições constitucionais.

A reunião do Alto-Comando foi presencial e contou com 16 generais de quatro estrelas, posto mais alto da corporação. A expectativa do governo é de que, com a troca do comandante, haja a identificação de militares da ativa e da reserva que participaram dos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília, com a consequente punição de quem apoiou o quebra-quebra na Praça dos Três Poderes.

Número 2 demitido

O governo federal deu continuidade, ontem, ao processo de reestruturação dos órgãos ligados à Presidência da República, em especial, os que estão sendo ocupados por militares. Em decisão assinada pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), o cargo de secretário executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) — número 2 na hierarquia — passou do general Carlos José Russo Assumpção para o general Ricardo José Nigri.

O governo também estuda um plano para desmilitarizar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que sairá do GSI, comandado pelo general da reserva Gonçalves Dias, para a Casa Civil, chefiada pelo ministro Rui Costa. A Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, responsável pela segurança dos prédios da Presidência, também foi alterada: sai o general Carlos Feitosa para a entrada do general Marcius Cardoso Netto.

No Exército, o Batalhão da Guarda Presidencial, atualmente liderado pelo tenente-coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, também verá mudanças no comando em breve. Segundo fontes militares, a decisão de tirar Fernandes da Hora do cargo já está tomada. O coronel foi gravado, em vídeo, discutindo com policiais militares do Distrito Federal para tentar impedir a prisão de bolsonaristas que invadiram o Palácio do Planalto em 8 de janeiro.

Ao longo dos quatro anos de governo Bolsonaro, o verde-oliva tornou-se uniforme predominante na Presidência da República, dado o alto número de militares convocados para assumir cargos de natureza civil de assessoramento do Palácio do Planalto. Muitos também se alinharam ao projeto político de reeleição do então presidente, que acabou derrotado por Lula nas eleições de outubro. O antigo comando do Exército também foi acusado de ser leniente com os acampamentos golpistas instalados na frente de quartéis da Força e de tentar impedir sua remoção após a depredação das sedes dos Três Poderes da República.

Nomeação em maio

No ano passado, o então comandante-geral, general Marco Antônio Freire Gomes, nomeou Mauro Cid como comandante do 1º BAC. A portaria é de 12 de maio. Ele nunca assumiu porque estava requisitado pelo Gabinete de Segurança Institucional e exercia a função de assessor-chefe na Ajudância-de-Ordens de Bolsonaro. Cid só foi dispensado em 4 de janeiro pelo chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Ribeiro Santana. Em seguida foi "revertido" à Força Terrestre e poderia começar os trâmites para assumir o batalhão. O Exército não informou por quanto tempo a nomeação de Cid ficará em "suspenso", mas, diante do veto político, o mais provável é que ele não assuma mais essa chefia.

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