DINHEIRO PÚBLICO

Cartão corporativo: Bolsonaro comia pastel na rua e picanha em casa

Seis meses após ser eleito presidente, em 7 de junho de 2019, o cartão corporativo foi utilizado para comprar 6,3 kg de picanha maturatta, 15 kg de filé mignon sem cordão. As compras eram frequentes, às vezes mais do que uma vez na semana

Correio Braziliense
postado em 23/01/2023 19:03 / atualizado em 23/01/2023 19:03
No lugar de pastel, Bolsonaro abastecia a despensa de casa com picanha, filé mignon, camarão e bacalhau -  (crédito:  Rede Sociais)
No lugar de pastel, Bolsonaro abastecia a despensa de casa com picanha, filé mignon, camarão e bacalhau - (crédito: Rede Sociais)

Notas fiscais de uma parcela dos gastos do cartão corporativo de Jair Bolsonaro (PL) durante os quatro anos de mandato, avaliadas pela agência de transparência Fiquem Sabendo, revelam um presidente diferente do que era mostrado nas redes sociais. O cardápio na residência do ex-chefe do Executivo era, comumente, composto de camarão, bacalhau e corte nobres de carne, alimentos bem mais caros do que o pastel e o espetinho com farinha que ele saboreava nas saídas presidenciais e postava na internet.

Os registros fiscais foram analisados pela Fiquem Sabendo e por repórteres do Estadão, em um trabalho feito pessoalmente nos registros da Secretaria Geral da Presidência. As notas não são digitalizadas e a consulta, autorizada após um pedido da Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), foi feita "in loco", durante três dias, período em que cerca de 20% do total de notas foi averiguada pela equipe.

De acordo com a agência e o Estadão, o cartão pode ser utilizado para despesas da residência, mas Bolsonaro “disse por 15 vezes em lives que não utilizava o método de pagamento (cartão corporativo)”. O então presidente também não recebia convidados ou promovia jantares no Palácio da Alvorada, o que aponta que os gastos eram apenas para si e a família, sem ocasião especial.

Seis meses após ser eleito presidente, em 7 de junho de 2019, o cartão corporativo foi utilizado para comprar 6,3 kg de picanha maturatta, 15 kg de filé mignon sem cordão e ainda peças de costela defumada, batata palha, potes de palmito e azeitona. Um mês depois, em um café da manhã com a imprensa, Bolsonaro afirmou que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira” e classificou o tema como um “discurso populista”.

Ainda antes de junho, em abril de 2019, outra compra de itens luxuosos foi registrada: foram adquiridos 7,2 kg de bacalhau, 4,2 kg de camarão rosa e 108 kg de filé de robalo. Em um ano, foram ao menos 14 compras de picanha, 47 de filé mignon e 15 de bacalhau, De acordo com a agência, as despesas eram frequentes e realizadas, às vezes, mais do que uma vez na semana.

Os registros fiscais também mostram gastos em restaurantes, como 19 idas ao Outback, um total de R$ 5,7 mil com uma média de R$ 300 por visita no estabelecimento — a última ida registrada foi em 17 de dezembro de 2022, pouco mais de 20 dias antes de encerrar o mandato.

Com o Brasil de volta ao Mapa da Fome, o então presidente negou os dados de agências nacionais e internacionais, que afirmam que 30 milhões de brasileiros estão na linha de pobreza, e disse que ninguém “vê alguém pedindo pão no caixa da padaria”.

“Extrema pobreza é quem ganha até 1,9 dólares por dia, são 10 reais. O Auxílio Brasil hoje paga 20 reais por dia, então esses 30 milhões podem buscar o Auxílio Brasil”, declarou em uma entrevista à Jovem Pan em 26 de agosto de 2022.

Até o momento, R$ 40 milhões de gastos de Bolsonaro nos quatro anos de mandato foram registrados. O valor é inferior ao usado por Lula (PT) nos dois mandatos e por Dilma Roussef (PT) em um mandato. No entanto, apenas Bolsonaro afirmava que "nunca tirei um centavo" do cartão. 

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