Em meio à tensão entre militares e o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reunirá hoje, às 10h, no Palácio do Planalto, com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e com os comandantes do Exército, general Júlio César de Arruda; da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen; e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno.
Oficialmente, a pauta é a modernização das Forças Armadas, mas Lula deve falar sobre a despolitização das três instituições e os atos golpistas em 8 de janeiro.
O entendimento do presidente e de ministros próximos é que há necessidade de pacificar a relação com as Forças Armadas, apesar da participação de militares — por omissão ou conivência — nos atos terroristas. Há relatos, por exemplo, de membros do Batalhão da Guarda Presidencial que tentaram impedir a prisão de bolsonaristas que invadiram o Palácio do Planalto. "Não quero ter problemas com as Forças, não quero que eles tenham problemas comigo. Quero que a gente volte à normalidade. As pessoas estão aí para cumprir suas funções, e não para fazer política", enfatizou Lula, na semana passada.
O clima, porém, é tenso, porque Lula já admitiu, mais de uma vez, não confiar em parte dos militares. Na entrevista que deu à Globonews, na quarta-feira, o presidente foi categórico ao afirmar que "todos que participaram do ato golpista serão punidos". "Todos. Não importa a patente, não importa a Força de que ele participe."
Ele também frisou que "quem quiser fazer política, tire a farda, renuncie ao seu cargo, crie um partido político e vá fazer política". E disse que os serviços de inteligência do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Agência Brasileira da Inteligência (Abin) e de Exército, Marinha e Aeronáutica não serviram para avisá-lo que a manifestação bolsonarista poderia resultar no vandalismo que ocorreu no dia 8 de janeiro. O presidente ainda repetiu que as portas do Palácio do Planalto foram abertas para os golpistas deliberadamente.
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Reação
As críticas dele à caserna provocaram reação. O general da reserva Sérgio Etchegoyen, ministro do GSI durante o governo Michel Temer, declarou que "um presidente da República, comandante supremo das Forças Armadas, que vai à imprensa dizer que não confia nas suas Forças Armadas, sabe, desde já, que nenhum general vai convocar uma coletiva para responder à ofensa. Então, isso é um ato de profunda covardia", disparou.
Também fez azedar mais as relações a série de dispensas de militares feita por Lula. Ele exonerou, até a noite de ontem, um total de 56 integrantes das Forças Armadas que atuavam no Palácio do Planalto, sendo 13 do GSI, e nas residências oficiais da Presidência, o Palácio da Alvorada e a Granja do Torto.
Do lado do governo, as exonerações foram normalizadas. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse, na terça-feira, que as mudanças são comuns. "As trocas de assessores, que são cargos comissionados, estão ocorrendo em todos os ministérios, e elas ocorrerão independentemente de serem militares ou civis. Vocês verão essas trocas mais intensas a partir do dia 23, quando roda a chave no sistema para que os novos ministérios passem a existir nos sistemas eletrônicos, nos sistemas digitais do governo. Portanto, o grosso das nomeações, das exonerações, será feito a partir do dia 23 até o final do mês", ressaltou.
Segundo Rui Costa, "não se trata de confiança". "Mesmo dentro das áreas militares nós trocamos comandantes. É natural que todos os outros assessores, mesmo dentro das Forças Armadas, haja um rodízio, para dar oportunidade a outros militares, até porque outras pessoas têm capacidade técnica para poderem exercer esses cargos. Não tem nenhuma novidade ou mistério", acrescentou.
Ontem, questionado pelo Correio sobre a avaliação que faz das investigações a respeito dos atos terroristas, Rui Costa respondeu que os trabalhos estão seguindo seu curso normal e que "chegarão aos culpados".
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