Em depoimento à Polícia Federal, na quarta-feira, o ex-secretário executivo de Segurança Pública do Distrito Federal Fernando de Sousa Oliveira disse considerar que houve erro na ação da Polícia Militar para conter os atos golpistas em 8 de janeiro.
De acordo com Oliveira, era responsabilidade da PMDF todo o planejamento quantitativo de efetivo policial, equipamentos, viaturas e tropas especializadas a serem utilizadas. Ele informou, ainda, que não tomou conhecimento das estratégias da corporação.
O ex-número dois da equipe de Anderson Torres na SSP-DF — que entregou o celular à PF — relatou que havia um monitoramento, um plano estratégico e grupos de WhatsApp montados com o objetivo de facilitar as respostas às manifestações antidemocráticas.
Horas antes dos atos, porém, a maior parte das informações da inteligência comunicadas nos grupos era de que a situação estava controlada. Ciente das informações, Torres, que já tinha viajado aos Estados Unidos, em férias, determinou "continuidade do monitoramento dos atos".
Segundo Oliveira, foram poucas as atualizações enviadas aos grupos da segurança, ainda que, em um deles, nomeado "Difusão", estivessem presentes Torres e o então comandante da PMDF, Fábio Augusto Vieira. O teor das mensagens anunciavam "ânimos pacíficos", "situação tranquila e sem alteração", "normalidade", "tudo normal" e "policiamento reforçado".
"Tais grupos eram responsáveis por subsidiar e difundir as informações de inteligência referentes às manifestações em tempo real. Recebeu por meio dos grupos Difusão e Perímetro poucas informações sobre radicais, sendo sua grande maioria advinda de rede social, e não de acompanhamento in loco, realizado por policiais de inteligência. Em linhas gerais, as informações de campo apontavam para um ambiente controlado", detalhou o depoimento, obtido pelo Correio.
Oliveira, ao tomar conhecimento do tamanho do caos pela televisão, disse que se deslocou até a Esplanada, tentando se aproximar pelo Itamaraty, onde se encontrava o comando das tropas especializadas.
Saiba Mais
Vieira já estava no local, tomando medidas junto à corporação. Segundo Oliveira, ele solicitou reforço das tropas especializadas da instituição para proteger as instalações do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto, uma vez que o Congresso já havia sido invadido.
"Diante da ausência do titular da pasta, secretário Anderson, achou por bem acionar o gabinete de crise com a convocação de todos os comandantes das forças, deslocamento de todas tropas localizadas nas cidades satélites para a Esplanada, recrutamento dos policiais de folga e também determinou que fossem efetuadas prisões de pessoas que se encontrassem em situação flagrancial e a identificação dos invasores", ressalta um trecho da oitiva.
Contato com Ibaneis
Na véspera do quebra-quebra, ao meio-dia, Torres orientou Oliveira a entrar em contato com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O próprio Ibaneis ligou às 13h e determinou que Oliveira recebesse os pontos focais do Ministério da Justiça.
De acordo com o governador, a divisão da segurança, estabelecida com o Ministério da Justiça e a Força Nacional (FN) tinha ficado da seguinte forma: segurança do Palácio da Justiça e da sede da Polícia Federal era de responsabilidade da Força Nacional, e as demais áreas do DF seriam cobertas pelas forças de segurança distritais, conforme o Plano de Ações Integradas original.
Além disso, Ibaneis informou que "durante o monitoramento de inteligência da madrugada do dia 07 para 08, as forças de segurança não reportaram nenhum movimento atípico até as 13h de domingo, inclusive com imagens de poucas pessoas na Esplanada dos Ministérios".
Saiba Mais
Monitoramento
Dois dias antes do ato terrorista na Esplanada, ocorreu uma reunião, coordenada pela subsecretaria de Operações Integradas, coronel Cíntia Queiroz de Castro, para definir as matrizes de responsabilidade de cada órgão de segurança pública do DF para possíveis manifestações.
Estiveram presentes Polícia Militar (PMDF), Polícia Civil (PCDF), Detran, Polícia Legislativa das duas Casas do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ao final do encontro, um plano estratégico foi produzido por Cíntia Castro, baseado no relatório de inteligência da SSP/DF que previa manifestações exaltadas. No mesmo dia, o documento foi aprovado por Torres.
De acordo com Oliveira, antes dos ataques, todo o monitoramento era feito por redes sociais por meio de uma rede de inteligência que acontecia individualmente pela central de cada instituição e era difundida para os demais. (Colaborou Kelly Hekally, especial para o Correio)
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.