Nomeado para ser o número 2 de Anderson Torres na Secretaria de Segurança do Distrito Federal, Fernando de Sousa Oliveira prestou depoimento à Polícia Federal, nesta quinta-feira (19/1), e disse que o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) viajou para os Estados Unidos sem deixar "diretriz específica" para a segurança da Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro, data em que bolsonaristas invadiram os prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), Congresso Nacional e o Palácio do Planalto.
No dia da invasão, segundo Oliveira, a maior parte dos informes de inteligência da SSP/DF eram repassados por meio de dois grupos no Whatsapp. Em um deles, intitulado 'Difusão', estavam presentes Anderson Torres e o comandante-geral da PMDF, Fábio Vieira — atualmente, os dois estão presos.
As informações que chegaram por lá davam conta de que a situação era controlada, com mensagens como “ânimos pacíficos”, “situação tranquila e sem alteração”, “normalidade”, “tudo normal” e “policiamento reforçado”.
“Tais grupos eram responsáveis por subsidiar e difundir as informações de inteligência referentes às manifestações em tempo real. Recebeu por meio dos grupos DIFUSÃO e PERÍMETRO poucas informações sobre radicais, sendo sua grande maioria advinda de rede social e não de acompanhamento in loco, realizado por policiais de inteligência. Em linhas gerais, as informações de campo apontavam para um ambiente controlado”, detalhou o depoimento, obtido pelo Correio.
Instruções
Na véspera do quebra-quebra, ao meio-dia, Anderson Torres orientou Fernando a entrar em contato com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O próprio Ibaneis ligou às 13h e determinou que Fernando recebesse os pontos focais do Ministério da Justiça.
Segundo o governador, a divisão da segurança, estabelecida com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e a Força Nacional, ficou da seguinte forma: segurança do Palácio da Justiça e da sede da Polícia Federal era de responsabilidade da FN e as demais áreas do DF seriam cobertas pelas forças de segurança distritais, conforme o Plano de Ações Integradas original.
Além disso, Ibaneis informou que “durante o monitoramento de inteligência da madrugada do dia 07 para 08, as forças de segurança não reportaram nenhum movimento atípico até as 13h de domingo, inclusive com imagens de poucas pessoas na Esplanada dos Ministérios”.
Monitoramento
Dois dias antes do ato terrorista na Esplanada, em 6 de janeiro, ocorreu uma reunião, coordenada pela subsecretaria de Operações Integradas, coronel Cíntia Queiroz de Castro, para definir as matrizes de responsabilidade de cada órgão de segurança pública para possíveis manifestações. Estiveram presentes a Polícia Militar, Polícia Civil, Detran, Polícia Legislativa das duas Casas do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Ministério das Relações Exteriores.
Ao final do encontro, um plano estratégico foi produzido por Castro. O documento foi elaborado por meio de um relatório de inteligência da SSP/DF, que previa uma manifestação com ânimos exaltados, mas que não indicava a proporção tomada. O documento definiu as ações gerais e atividades a serem tomadas pela instituição e foi aprovado por Torres no mesmo dia.
Confirmação
Em depoimento, Oliveira também confirmou o que o interventor federal, Ricardo Cappelli, já havia dito sobre o período de férias de Anderson Torres. Torres informou a ele que sairia a partir do dia 9 de janeiro, um dia após os ataques. Portanto, Anderson deveria estar presencialmente em Brasília para atender à emergência.
“O Secretário Anderson sairia de férias apenas na segunda-feira dia 09/01/2023 sendo que Anderson era o titular da pasta até dia 08/01/2023, dia da invasão da praça dos 03 poderes”, diz o depoimento, obtido pelo Correio.
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