Milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (8/1), motivados por um profundo "anticomunismo" e desinformação sobre as eleições vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Isso é o que se sabe sobre o ataque aos símbolos da democracia na capital federal:
Centenas de presos
A Polícia Federal deteve mais de 2.000 pessoas após os distúrbios, que ocorreram uma semana depois da posse de Lula e seu retorno à presidência para um terceiro mandato.
A maioria estava em um acampamento, instalado há dois meses em frente ao Quartel-General do Exército, de onde exigiam a intervenção dos militares para impedir a posse de Lula, eleito nas urnas em outubro.
Em uma ação inédita, mais de 200 pessoas foram detidas imediatamente após os ataques.
Mais de 1.100 permanecem sob custódia, enquanto cerca de 684 (idosos, doentes, pais de crianças pequenas e sem-teto) foram liberados para aguardar julgamento.
As acusações contra os envolvidos incluem "terrorismo", associação criminosa, atentado contra o Estado democrático, participação em tentativa de golpe de Estado e incitação ao crime.
Bolsonaro e aliados na mira
Bolsonaro, que por anos semeou dúvidas contra o sistema eleitoral e deixou o país antes do fim de seu mandato e da transmissão de poder, está sob o escrutínio das autoridades.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acatou o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para incluir o ex-presidente no inquérito que busca os instigadores e mandantes dos atos violentos de 8 de janeiro.
Moraes determinou que será analisado "oportunamente" o pedido de interrogatório de Bolsonaro, que está nos Estados Unidos.
Seu ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, foi preso neste sábado em Brasília, de onde também chegou vindo dos Estados Unidos.
Torres era secretário de Segurança da capital quando ocorreram os excessos, e Moraes emitiu uma ordem de prisão contra ele por suspeita de "omissão e conivência".
As autoridades também investigam o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (afastado provisoriamente do cargo); Fernando de Sousa Oliveira, ex-secretário interino de Segurança; e Fabio Augusto, comandante da Polícia Militar do DF, responsável pela segurança da capital durante as ações qualificadas como "terroristas".
Lula anunciou uma "triagem profunda" no Palácio do Planalto, convencido de que havia cumplicidade interna das forças de segurança.
Atrás dos financiadores
As autoridades abriram outra investigação para apurar quem financiou a logística dos manifestantes, muitos dos quais chegaram de ônibus de outros estados no dia do atentado.
A Advocacia-Geral da União (AGU) identificou na quinta-feira 52 pessoas e sete empresas suspeitas de terem pagado pelo transporte de quem invadiu os prédios públicos.
Mas também está na mira a logística por trás dos acampamentos montados em frente a comandos militares em várias cidades, desmantelados após os distúrbios.
“Não é possível um movimento durar o tempo que durou na frente dos quartéis se não tiver gente financiando. Vamos investigar e vamos chegar a quem financiou”, afirmou Lula.
Danos materiais
Brasília, projetada pelos arquitetos Lúcio Costa e Óscar Niemeyer, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1987. Os três prédios vandalizados - o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso - são obra de Niemeyer.
Além de representar o Estado, os espaços estão repletos de móveis raros e obras de arte de valor inestimável, assim como doações internacionais.
Os vândalos rasgaram quadros, destruíram móveis e saquearam salas do poder, chegando até mesmo a urinar.
Entre as obras do patrimônio público afetadas estão a estátua de granito "A Justiça" (1961), de Alfredo Ceschiatti; um relógio feito por Balthazar Martinot, relojoeiro do rei Luís XIV da França; e o quadro "As Mulatas" (1962), de Emiliano Di Cavalcanti, um dos mestres do modernismo brasileiro.
“De maneira geral, o relatório mostra que a maioria dos danos aos edifícios é reversível”, disse na quinta-feira Maurício Goulart, coordenador técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela inspeção dos danos.
"Anticomunismo" e desinformação
Simpatizantes de Bolsonaro se recusam a ver Lula governando novamente. Acreditam que ele vai implantar o "comunismo" no Brasil, um discurso que Bolsonaro repetiu durante a campanha.
Seguindo seu líder, que nega qualquer ligação com a violência, eles creem, sem provas, que houve fraude nas eleições de outubro, nas quais o petista venceu o segundo turno por margem estreita.
Segundo especialistas ouvidos pela AFP, a divulgação de falsas alegações, principalmente nas redes sociais, foi um elemento relevante para a "racionalização" dos ataques.
"Nós vamos ser muito duros contra a fábrica de fake news. Esse povo não pode estar subordinado à mentira", declarou Lula na quinta-feira, anunciando mais firmeza contra o bolsonarismo radical, que considera "fascista".
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