A violência dos apoiadores de Jair Bolsonaro, acampados na frente dos quartéis desde a derrota do ex-presidente nas urnas, foi colocada em prática e deixou parte de Brasília sob o signo do caos. A crônica da tentativa anunciada de golpe começou a ser colocada em prática por cerca de 100 ônibus que chegaram a Brasília, no último sábado, trazendo em torno de 4 mil pessoas. O grupo estava acampado em frente ao Quartel-General do Exército e desceu rumo à Esplanada dos Ministérios no início da tarde.
A Polícia Militar do Distrito Federal escoltou o grupo de manifestantes até em frente ao Congresso Nacional, onde eles não encontraram resistência suficiente da barreira montada no local. Os PMs tentaram, sem sucesso, deter os terroristas usando apenas sprays de pimenta.
O Congresso foi rapidamente tomado pelos criminosos. Quebraram os vidros, destruíram móveis, picharam obras de arte e devastaram tudo aquilo que alcançaram. O Salão Negro foi inundado, possivelmente pelo acionamento proposital do sistema anti-incêndio. A liderança do PT na Câmara foi completamente devastada pelos terroristas.
Saiba Mais
- Política Secretário interino do DF tranquiliza Ibaneis pouco antes da invasão
- Política Facebook removerá conteúdos de apoio aos atos terroristas em Brasília
- Política Governo da Bahia envia 70 policiais militares a Brasília após terrorismo
- Política Anderson Torres nega envolvimento com atos terroristas em Brasília
Deboche
Vídeos publicados pelos próprios vândalos mostram a invasão do Plenário do Senado. Um deles sentou-se na cadeira do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e caçoou. "Boa tarde, Brasil. Estamos aqui no expediente de domingo. Vou mandar recado por escrito: supremo é o povo", disse, rabiscando a frase em um pedaço de papel. Na área exterior, uma viatura da Polícia Legislativa foi incendiada e jogada no espelho d'água.
A horda golpista se dividiu entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). Na sede do Poder Executivo, todos os gabinetes foram invadidos e os bolsonaristas repetiram o roteiro de depredar vidraças, móveis, computadores e obras de arte. Aos gritos de "selva" e "faxina geral", esfaquearam o quadro "Mulatas", de Di Cavalcanti, de valor inestimável. A sala da primeira-dama Janja Lula da Silva foi depredada — o gabinete presidencial não sofreu porque não conseguiram mover a pesada porta que o protege.
Segundo o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, os terroristas roubaram armas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que estavam guardadas no Planalto. Ele divulgou um vídeo nas redes sociais, ao lado do secretário nacional do Direito do Consumidor, Wadih Damous, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostrando o resultado da invasão.
"Cada uma dessas maletas no chão, que vocês estão vendo, em cima da cadeira, em cima da mesa, são armas letais e armas não letais que foram roubadas pelos criminosos de dentro do Palácio do Planalto. E tentaram colocar fogo na sala", afirmou Pimenta. Damous, por sua vez, chamou atenção para o fato de que não houve depredação da sala, como no resto do Palácio.
"(Os terroristas) tinham informação do que deveriam levar daqui", acusou. Foram roubados, também, presentes dados aos presidentes do Brasil por chefes de outras nações, cujos valores são inestimáveis.
Saiba Mais
- Política Secretário interino do DF tranquiliza Ibaneis pouco antes da invasão
- Política Facebook removerá conteúdos de apoio aos atos terroristas em Brasília
- Política Governo da Bahia envia 70 policiais militares a Brasília após terrorismo
- Política Anderson Torres nega envolvimento com atos terroristas em Brasília
Réplica
No STF, os criminosos roubaram uma réplica da Constituição de 1988. Um bolsonarista escalou a estátua que representa a Justiça, em frente ao prédio, e abriu o exemplar para a multidão. A própria escultura foi pichada com a frase "Perdeu mané", escarnecendo do ministro Luís Roberto Barroso, que a usou ao ser hostilizado por bolsonaristas nos Estados Unidos.
No STF, vidros do prédio foram pichados com os dizeres "Destituição dos Três Poderes". Os terroristas também arrancaram as portas dos armários que guardam as togas dos ministros.
Os criminosos começaram a ser expulsos por volta das 17h30, após mais de duas horas de destruição. A tropa de choque da PM e o Batalhão da Guarda Presidencial atuaram para liberar os prédios, dispersando os bolsonaristas com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, fazendo-os recuar em direção à rodoviária do Plano Piloto. Por volta das 19h30, a linha de frente do choque estava na frente da Catedral — os golpistas os xingavam e os chamavam de "traidores". Um helicóptero da PM jogava bombas de gás e efeito moral contra a horda.
Os criminosos reclamaram da ação da PM. "Atiraram (bombas de gás) na gente do nada", disse um deles. "Depredação eu também sou contra, mas se agir pacificamente... Antes não deu em nada...", justificou-se uma terrorista.
Os bolsonaristas tentaram retornar ao QG do Exército, mas a maior parte foi impedida barrada por blindados das Forças Armadas, que isolaram o local. A ordem era que ninguém entraria no acampamento, só saísse. Muitos terroristas foram presos nas imediações.
Após a destruição e remoção dos golpistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o Palácio do Planalto e o STF para vistoriar os danos ao lado de Janja, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, de Paulo Pimenta e do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. No Supremo, foi recebido pela presidente da Corte, Rosa Weber, e pelo ministro Barroso.
Lula convocou para hoje reunião com governadores, prefeitos e capitais e com representantes dos Três Poderes para discutir a tentativa de golpe contra a República. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, confirmou que os financiadores do ataque foram identificados.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.