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Foco do Itamaraty será retomada da linha diplomática brasileira e diversidade

Primeira mulher a assumir o 2º posto mais importante do MRE, Maria Laura da Rocha anuncia o retorno à linha diplomática brasileira, mas com participação de novos atores

Luana Patriolino
postado em 05/01/2023 03:55
 (crédito: Pedro França/Agência Senado)
(crédito: Pedro França/Agência Senado)

A embaixadora Maria Laura da Rocha tomou posse, ontem, no posto de secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores e, pela primeira vez, uma mulher torna-se a número dois na linha de comando do Itamaraty. A cerimônia de transmissão foi marcada pelo discurso sobre a necessidade de diversidade na diplomacia brasileira e de resgate da política externa pela qual o país sempre foi reconhecido e respeitado.

Maria Laura salientou, na posse, a representatividade feminina na carreira, além de outros segmentos da sociedade. "Essa designação, tenho certeza, possui um sentido especial não só para mim, mas também para muitas mulheres, que, como eu, têm uma carreira de dedicação à Casa de Rio Branco e ao Brasil", salientou.

Ela ressaltou a necessidade de recuperar as relações diplomáticas do país, com foco no desenvolvimento e na harmonia institucional. "Será, antes de tudo, uma política que busca reinserir o Brasil em sua região e no mundo. E retomar o protagonismo, na medida certa que nos cabe, em tantos temas em que o Brasil tem condições de aportar uma contribuição reconhecida e esperada por seus parceiros", afirmou, traçando uma linha demarcatória entre o que será o MRE daqui para frente e o que foi no governo Bolsonaro.

"O Brasil terá de reconstruir pontes com países e grandes foros de debate, a começar pela sua própria região sul-americana, e na América Latina e Caribe, além de colocar em marcha uma nova dinâmica no relacionamento com a África, com a Ásia e com parceiros prioritários como a Europa, os Estados Unidos, a China e os demais membros do BRICS", ressaltou.

Protagonismo

Um ponto de destaque na solenidade de posse foi o resgate de políticas públicas e parcerias internacionais em relação à pauta da sustentabilidade e recuperação das florestas. Maria Laura destacou que o país deve voltar a investir no setor e respeitar tratados com outras nações — já alinhando o Itamaraty à transversalidade proposta pela ministra Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática.

"A diplomacia brasileira voltará a refletir a posição do Brasil como grande país em desenvolvimento detentor da maior floresta tropical do mundo, buscando contribuir para as metas do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima como parte de uma estratégia de desenvolvimento que garanta renda, empregos de qualidade e melhores condições de vida para seu povo, inclusive os mais de 27 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica", observou.

Ela destacou a própria experiência no tema e elencou outras demandas que terão atenção no MRE. "O Brasil pode e deve voltar a ser uma voz a favor de soluções negociadas, da reforma democrática de organismos internacionais, a começar pelo Conselho de Segurança da ONU, e de uma ordem internacional baseada no direito, como desde o Barão do Rio Branco tem sido parte de nossa identidade diplomática", afirmou.

A secretária-geral do Itamaraty é auxiliar direta do ministro Mauro Vieira, encarregado de conduzir a política externa a partir das instruções e diretrizes da Presidência da República. Também ficará a cargo de Maria Laura a ascendência sobre o quadro de funcionários no Brasil e no exterior.

Chanceler reforça a inclusão no MRE

O chanceler Mauro Vieira fez, na posse de Maria Laura da Rocha na Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores, uma defesa enfática da importância da inclusão social na carreira diplomática. Isso porque, de acordo com os últimos dados do MRE, de abril de 2022, o quadro de 1.540 diplomatas era formado por 356 mulheres (23%) e 1.184 homens. Como embaixadoras do Brasil, elas ocupam apenas 34 postos ao redor do mundo.

Para o ministro, é de suma importância a nomeação de mais mulheres, negros, indígenas e a população LGBTQIA na carreira. "A diversidade não pode ser entendida apenas de forma instrumental. Por um lado, é inegável que um corpo de funcionários diverso e inclusivo aumenta a excelência do trabalho diplomático, uma vez que enriquece sua capacidade de análise e de atuação, e fortalece seu vínculo com a população que representa", ressaltou.

O chanceler salientou, ainda, que a diplomacia não pode se entendida somente como o principal canal de relacionamento entre as nações. "Resta óbvio que a maior presença de colegas negras e negros, mulheres, indígenas, pessoas LGBTQIA , pessoas com deficiência e pessoas oriundas de distintas regiões do Brasil, constitui o alicerce maciço sobre o qual se assenta a própria democracia", disse.

Segundo o ministro, esse ponto deve ser considerado um "novo capítulo" das lideranças no MRE. "Mais que ponto de chegada, contudo, convido a todos a viverem esta data como um ponto de partida na construção de uma nova tradição no Itamaraty, essa bicentenária instituição na qual tradições são tão importantes: a construção de um novo capítulo na galeria de retratos de suas lideranças, na qual o conjunto do povo brasileiro possa se reconhecer cada vez mais", observou Vieira. 

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