Dilma: "Ditadura nunca mais. Daqui para frente é democracia"

Ex-presidente compareceu à posse da ministra de Gestão e Inovação dos Serviços Públicos, Esther Dweck, e fez críticas à ditadura, ao teto de gastos e ao neoliberalismo

Rosana Hessel

postado em 02/01/2023 18:25 / atualizado em 02/01/2023 18:44

(crédito: AFP / EITAN ABRAMOVICH)

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) aproveitou a cerimônia de transmissão de cargo da ministra Esther Dweck (Gestão e Inovação dos Serviços Públicos), nesta segunda-feira (2/1), para dar o troco naqueles que a impediram de governar, pois aproveitou para lembrar que suas contas foram aprovadas no fim de 2022”.

Ela lembrou que Esther foi uma das economistas que preparou um texto “que explicava porque não havia pedaladas fiscais”, mas evitou citar a palavra golpe. A ex-presidente reconheceu que o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá grandes desafios, mas foi enfática ao criticar a ditadura.

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“Ditadura nunca mais. Mas daqui para a frente é democracia. Sempre democracia, sempre. Sem nenhuma estrutura de organização popular, não nos mantém. Sinto informar. Por isso, cada um de nós aqui tem sua importância para levantar o problema da nossa”, afirmou Dilma, que teve de ouvir elogios do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) direcionados ao torturador general Brilhante Ulstra — o algoz de Dilma quando jovem — quando votou pelo impeachment dela, em 2016.

 

"Temos de nos organizar"

A ex-presidente ainda destacou que, agora que está fora do governo, percebeu o que é preciso ser feito. “Percebemos que temos de nos organizar para conseguir apoiar as medidas legislativas e políticas que o governo venha a tomar, sem apoio, sem sustentação, e que não ocorra nenhuma ruptura que nós não possamos enfrentar”, disse.

Ao mesmo tempo, Dilma não foi humilde em reconhecer os erros cometidos em sua gestão e que acabaram fazendo com que ela sofresse o processo de impeachemnt. “Nós não somos um governo qualquer. Nós somos um governo que sabe governar o Brasil. Nós temos esse conhecimento na marra em governar um país. E governar um país é algo extremamente complexo, principalmente um país dessa dimensão. Então, eu sei como é que foi o governo de 2003, eu sei como foi o governo de 2006, sei como foi o governo de 2010”, comentou.

Elogios e teto de gastos

Dilma também elogiou a ex-chefe de Esther no Planejamento, Miriam Belchior, agora a número dois do ministro Casa Civil, Rui Costa, e rasgou elogios para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que foi ministra-chefe da Casa Civil em sua gestão.

“Eu quero dizer o seguinte: as mulheres sempre tiveram um grande papel. Eu olhei e vi, para mim, uma das melhores ministras-chefe da Casa Civil, hoje, presidente do PT, a minha querida companheira Gleisi. Esse processo é um processo de companheirismo que nós construímos. E a Esther teve um papel fundamental, porque o governo tem um processo muito importante que eu exerço”, afirmou.

A ex-presidente ainda criticou o teto de gastos e o citou como uma das amarras atuais para o novo governo, junto com a reforma trabalhista, a Lei das Estatais e o Programa de Parceira de Investimentos (PPI), que vieram após a saída dela do governo.

“Basicamente, ele tinha esse conteúdo para explicar qual era o desastre, porque nós voltaríamos um pouco. E eu creio que hoje toda questão que cria problemas para a nossa gestão está sintetizada nas quatro medidas tomadas no ano de 2016: teto de gastos públicos, reforma trabalhista, lei das estatais e PPI. Elas refletem justamente essas amarras”, afirmou.

Para Dilma não tem só uma questão fiscal. “Tem uma questão fiscal, tem uma questão administrativa, de gestão e tem uma questão fundamental. Nós estamos representando o Estado brasileiro. O Executivo deste país somos nós. Nós temos aqueles que governaram o Executivo, outros governos, mais especificamente o governo Lula”, afirmou.

Ao comentar sobre o seu retorno ao Palácio do Planalto com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ontem, Dilma foi nostálgica ao comentar sobre o Palácio do Alvorada. Ela disse, inclusive, que pretende visitá-lo “para matar saudades”.

“Ainda não entramos no Palácio da Alvorada, mas um dia visitaremos o Alvorada para matar a saudades”, disse ela, agradecendo o convite de Esther Dweck para a cerimônia. Antes, Dilma participou da cerimônia de posse do ministro das Relações Intitucionais, Alexandre Padilha, no Palácio do Planalto, mas não discursou. Dilma, ao lado do também ex-presidente José Sarney (MDB), foi ovacionada pelos presentes que também gritaram “sem anistia” para Bolsonaro.

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