a festa da posse

Lula chora durante discurso ao falar sobre a fome no Brasil

No parlatório, Lula chora ao mencionar a miséria que atinge famílias brasileiras e os desempregados pedindo ajuda nos semáforos

Luana Patriolino
postado em 02/01/2023 03:55
 (crédito: AFP)
(crédito: AFP)

Após subir a rampa do Palácio do Planalto e receber a faixa presidencial de representantes do povo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso forte no Parlatório. Ele estava diante de 40 mil pessoas concentradas na Praça dos Três Poderes, mas fez questão de frisar que falava para os 215 milhões de brasileiros. Prometeu que governará para todos, não apenas para os que votaram nele. O principal ponto do pronunciamento foi em relação à pobreza. O petista disse que vai lutar para tirar o Brasil do mapa da fome e chorou quando comentou sobre crianças e mães em situação de miséria no país.

"Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância a que têm direito", afirmou, sendo amparado pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.

Lula mencionou os desempregados que ficam nos semáforos exibindo "cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: 'por favor, me ajuda'". "Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna."

Ele destacou que "a fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil". "A desigualdade apequena este nosso país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem", sustentou.

Lula subiu a rampa e recebeu a faixa presidencial ao som da música Amanhã, do cantor e compositor Guilherme Arantes, interpretada pela Orquestra Sinfônica de Músicos pela Democracia. Assim como nos versos da canção, que falam sobre esperança de dias melhores, o presidente enfatizou que vai recuperar a estabilidade social, política e econômica do país.

"Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância", frisou.

O petista também relembrou momentos difíceis como quando ficou preso 580 dias em Curitiba. "Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um e a cada uma de vocês. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebia todos os dias do povo brasileiro — representado pela Vigília Lula Livre —, num dos momentos mais difíceis da minha vida", ressaltou.

Em contrapartida, destacou a felicidade pelo momento. "Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo tempo tão cheia de significado", afirmou. "A vocês, que vieram de todos os cantos deste país — de perto ou de muito longe, de avião, de ônibus, de carro ou na boleia de caminhão. De moto, bicicleta e até mesmo a pé, numa verdadeira caravana da esperança, para esta festa da democracia", acenou.

O presidente também criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro. "Nesses últimos anos, vivemos, sem dúvida, um dos piores períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito sofrimento", mencionou. "Mas esse pesadelo chegou ao fim, pelo voto soberano, na eleição mais importante desde a redemocratização do país." 

Trechos do discurso de Lula no parlatório

Pobreza

"Há muito tempo, não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando lixo em busca de alimento para seus filhos. Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo. Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância a que têm direito. Trabalhadores e trabalhadoras desempregados, exibindo nos semáforos cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: 'por favor, me ajuda'. "Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de jatinhos particulares. Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma sociedade justa e democrática, e de uma economia próspera e moderna."

Igualdade racial

"Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou menos obstáculos apenas pela cor de sua pele. Por isso estamos recriando o Ministério da Igualdade Racial, para enterrar a trágica herança do nosso passado escravista."

Povos indígenas

"Os povos indígenas precisam ter suas terras demarcadas e livres das ameaças das atividades econômicas ilegais e predatórias. Precisam ter sua cultura preservada, sua dignidade respeitada e sua sustentabilidade garantida. Eles não são obstáculos ao desenvolvimento — são guardiões de nossos rios e florestas, e parte fundamental da nossa grandeza enquanto nação. Por isso, estamos criando o Ministério dos Povos Indígenas, para combater os 500 anos de desigualdade."

Mulheres

"Não podemos continuar a conviver com a odiosa opressão imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas. É inadmissível que continuem a receber salários inferiores ao dos homens, quando no exercício de uma mesma função. Elas precisam conquistar cada vez mais espaço nas instâncias decisórias deste país — na política, na economia, em todas as áreas estratégicas. As mulheres devem ser o que elas quiserem ser, devem estar onde quiserem estar. Por isso, estamos trazendo de volta o Ministério das Mulheres."

Radicalismo

"O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria radicalizada que se recusa a viver num regime democrático. Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz. A disputa eleitoral acabou. Repito o que disse no meu pronunciamento após a vitória em 30 de outubro, sobre a necessidade de unir o nosso país. 'Não existem dois brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação'."

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