A posse ganhou um caráter festivo nunca antes visto nesta magnitude, em um evento da política nacional. Durante todo o dia e se estendendo pela madrugada, mais de 60 artistas subiram aos palcos Elza Soares e Gal Costa do Festival do Futuro para animar o público durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O público aproveitava cada momento cantando junto e vibrando com os discursos. Os artistas seguiram nessa onda e foi possível enxergar uma sinergia única na Esplanada dos Ministérios. O paraibano Chico César, que subiu ao palco junto ao pernambucano Geraldo Azevedo, atestou essa energia logo na primeira canção da dupla, Dia branco. Em um momento emocionante, Chico afirmou que ontem poderia ser chamado de "Dia vermelho", em alusão à cor do Partido dos Trabalhadores.
A subida de Lula ao palco foi especial, com direito a discurso emocionado, promessa de que vai trabalhar para melhorar o Brasil e beijo na esposa Janja da Silva — o 39º presidente do Brasil foi a estrela em uma noite que mais parecia uma constelação. Contudo, quem roubou a cena foi o poeta pernambucano Antônio Marinho, que apresentou um texto emocionante sobre o retorno de Lula ao poder.
Outra figura do atual governo que subiu ao palco foi a ministra da Cultura Margareth Menezes. Ela foi convidada do show da banda BaianaSystem e foi recebida pelo público sob os gritos de "ministra, ministra" além de cantar o sucesso da carreira Faraó, puxou o grito "olê olê olê olá, Lula Lula". Ela encerrou a participação com a frase "É nós nesse Brasil", agradeceu à banda pelo convite.
Martinho da Vila também protagonizou um momento bonito da noite. O sambista subiu ao palco cantando Tom maior, pouco depois voltou com todos os integrantes do show especial Amanhã vai ser outro dia, ao lado de Aline Calixto, Fernanda Abreu, Jards Macalé, Maria Rita, Paula Lima, Leoni, Renegado, Rogéria Holtz, Teresa Cristina, Romero Ferro, Zélia Duncan e Delacruz, para apresentar ao público as músicas Canta canta, minha gente e Aquarela brasileira.
Nem problemas técnicos desanimaram o público, que permaneceu muito ativo durante todas as apresentações. O caso mais emblemático do início da noite foi no show da banda mineira Francisco, El Hombre. O grupo, que costuma ser pico de animação em festivais Brasil afora, enfrentou problema de som e os presentes nas proximidades do palco cantaram junto com a banda.
Todos que pegavam o microfone tinham um momento, mesmo que breve, para agradecer aos presentes pela festa e muitas vezes colocar a opinião sobre a situação política do Brasil e trazer mensagens de esperança. Rogéria Holtz abriu a própria participação no Palco Elza Soares pontuando que a prosperidade está por vir. "Hoje estamos aqui no Festival do Futuro, porque o futuro é nosso, o futuro é do Lula, o futuro é do povo brasileiro". Fernanda Takai deu o tom de comemoração. "Viva o Brasil, viva o povo brasileiro, viva Lula", gritou. A mesma reação teve Tulipa Ruiz: "Feliz ano novo, feliz governo novo. Viva a cultura, viva Lula presidente", comemorou a artista.
Os músicos aproveitaram o espaço não só para cantarem as próprias canções, mas também para músicas que transmitissem a mensagem do sentimento da noite: a de que dias melhores estão por vir. Teresa Cristina cantou Vai passar, de Chico Buarque; Aline Calixto entoou Tá escrito, do grupo Revelação; Zélia Duncan escolheu Toda forma de amor, de Lulu Santos; Paula Lima cantou, Olhos coloridos, de Sandra de Sá; Maria Rita tocou É, de Gonzaguinha; e Fernanda Abreu optou por É Hoje; de Caetano Veloso. O repertório de covers foi bem aceito pelo público que acompanhou com energia os shows.
A emoção foi para além de comemorar a chegada do novo governo, ou de um futuro próspero que acredita-se que está a caminho. Houve espaço para homenagens aos que não puderam acompanhar a história sendo feita de perto. Talvez o momento mais marcante tenha sido a homenagem feita pelos artistas Alessandra Leão, Chico César e Geraldo Azevedo, Fernanda Takai, Francisco El Hombre e Luê, Johnny Hooker, Lirinha, Marcelo Jeneci, Odair José, Otto, Paulo Miklos, Tulipa Ruiz e Thalma de Freitas juntos cantaram Divino, maravilhoso, canção eternizada na voz de Gal Costa, em tributo a artista que morreu em novembro de 2022 e dava nome ao palco.
Elza Soares, nome do outro palco do evento, também recebeu a devida homenagem após deixar uma legião de fãs órfãos em janeiro do ano passado. Zélia Duncan e Teresa Cristina cantaram em uma só voz a faixa Malandro, enquanto o cantor mineiro Renegado cantou A carne, ambas composições marcadas pelo timbre único da cantora carioca.
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De todos os cantos
De Salvador para Brasília. Renata Damásio, 39 anos, veio para a capital do país em 30 de dezembro, com um único objetivo: ver os shows e o presidente Lula. Caracterizada com uma camisa que leva o título de "Lulapalooza", a baiana conta que o processo para a confecção da camiseta começou ainda no primeiro turno das eleições presidenciais. "Começamos a nos programar cedo, porque sabíamos que o movimento seria grande. Com isso, mandamos fazer a blusa, porque essa eleição é algo que vai entrar pra história", conta.
Ao lado dela, Camila Oliveira Grazim, 36, que também veio de Salvador e confessou estar animada para as programações musicais do Festival do Futuro. Muito empolgada para os shows, ela acredita que a cultura e arte são uma forma de se engajar ainda mais politicamente, e devolver, principalmente, o que foi perdido nos últimos anos.
"A música é maravilhosa. Quero muito ver todos os artistas", afirma. Além disso, a baiana diz que estar na capital para acompanhar a posse foi um sonho lindo. Agora, a ideia é continuar com o princípio de coletividade, levando união e e reconstruindo a paz que foi tomada.
"O sol há de brilhar mais uma vez". A música Juízo final, escrita por Nelson Cavaquinho, também conhecida na voz de Clara Nunes, é o motivo do visual da mineira Nádia Gondinho da Silva, 60, que veio de Juiz de Fora (MG) para acompanhar a posse. A peça extravagante, segundo ela, representa a esperança de dias melhores e o amor que emergiu durante a cerimônia de posse. "Sentimento maravilhoso hoje. É como se tivéssemos sido exorcizados de todo mal", comenta.
A apoiadora de Lula ainda ressaltou que é preciso acreditar que o sol, de fato, irá renascer daqui para frente. Além disso, a vestimenta também é um bom ornamento para aproveitar os shows, que a mineira diz também aguardar com muita animação.
A festa da posse não foi aproveitada apenas por forasteiros. Os brasilienses também participaram da celebração. André Luís Barros, 51, acredita que a "sociopatia" do governo anterior foi superada. "Hoje o representante do povo gosta do povo", declarou.
O empresário brasiliense lutou pela eleição de Lula em 1989, quando Fernando Collor venceu a corrida pelo Palácio do Planalto. Apesar do tempo que passou, ele acha que a sociedade era mais democrática e tolerante àquela época. "No último 30 de outubro, meu carro foi amassado porque tinha a bandeira de Lula", relata o brasiliense.
O pernambucano Jean Castro, 36, também fez questão de fazer parte da festa da posse. O corretor de imóveis mora em Brasília desde os 4 anos de idade. Ele veio para a festa para prestigiar o Rael da Rima. Jean foi para Esplanada cedo. Chegou às 9h no local da festa. Ele veio de bicicleta de Águas Claras, 20km do centro da capital da República. "A careca já queimou com o sol", brinca o pernambucano. "A alegria está contagiante. São Pedro deu uma trégua e a gente pode comemorar em paz, sem chuva", comemora. A expectativa dele para o novo governo é que as pessoas tenham mais oportunidade de estudar, preservação da família e que haja mais possibilidade de as pessoas conseguirem seus objetivos.
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