Dia de festa

Brasileiros lotam a Esplanada para celebrar a democracia

Militantes e simpatizantes de várias regiões do DF e do Brasil lotaram a Esplanada dos Ministérios para acompanhar a posse

Sibele Negromonte
Rafaela Martins
Eduardo Fernandes
Pedro Ibarra
Aline Brito
Samuel Calado
postado em 02/01/2023 03:55
 (crédito: Samuel Calado/CB/D.A Press)
(crédito: Samuel Calado/CB/D.A Press)

Nem as poucas horas de sono, após a virada de ano, impediram que as pessoas fossem logo cedo à Esplanada dos Ministérios para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Alguns optaram por chegar de metrô e de ônibus, que paravam na Rodoviária do Plano Piloto, outros de carros — estacionados nas ruas nos arredores do local da festa. O acesso, apesar das interdições, fluiu sem tumultos. Muitas crianças, idosos e até cadeirantes circulavam com facilidade.

As revistas para acessar ao gramado da Esplanada não mudaram o humor do público e as 40 mil vagas para assistir, da Praça dos Três Poderes, à esperada subida do presidente e do vice, Geraldo Alckmin, à rampa do Palácio do Planalto logo foram preenchidas.

O clima era de festa. A cor vermelha predominava em camisetas, faixas e bonés, assim como bandeiras do Brasil, do PT e do arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA . Um boneco gigante de Lula dava as boas-vindas a quem decidiu participar da festa popular. Depois de sucessivos dias de chuva, o sol apareceu com força total em Brasília. O dia foi quente e abafado, mas não fez ninguém arredar pé. Os postos de distribuição de água gratuita da Caesb ficaram bastante concorridos.

Por volta do meio-dia, muita gente começou a se aglomerar próximo ao alambrado que cercava o local por onde Lula e a primeira-dama, Janja da Silva, passariam, no trajeto da Catedral Metropolitana de Brasília até o Congresso Nacional, onde o novo presidente seria empossado.

Depois da rápida passagem do Rolls Royce presidencial, a maioria do público se dirigiu ao gramado central para assistir, dos telões, o discurso de Lula. Sentadas na grama, as pessoas ouviram a fala do presidente já empossado em impressionante silêncio, quebrado apenas nos momentos em que, principalmente, fez a defesa de causas sociais e garantiu acabar com todo tipo de desigualdade. Foi ovacionado quando afirmou que a partir de agora o Brasil teria "democracia para sempre".

A festa se repetiu quando Lula recebeu a faixa presidencial das mãos de oito pessoas que representavam a diversidade do povo brasileiro. A essa altura, muitos que tinham chegado cedo começavam a deixar a Esplanada, enquanto uma outra multidão surgia para assistir aos shows, que iniciaram às 18h30 e foram noite adentro.

A quantidade de pessoas foi tanta que provocou congestionamento. Muitos apoiadores do petista tiveram dificuldades para se retirarem da Esplanada rumo à Rodoviária. O congestionamento provocado pela grande movimentação de pessoas paralisou a saída do local, que ficou parada por cerca de 10 minutos. Algumas pessoas, inclusive, chegaram a passar mal e precisaram de atendimento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. Porém, nem isso prejudicou o clima da festa e a empolgação continuou.

Ambulantes

O clima de alegria e esperança estava contagiante, das pessoas da rua aos vendedores, todos tinham em comum o desejo por um Brasil de mais oportunidades desse 1º de janeiro para frente. O pipoqueiro Elielson Vieira, 42 anos, deslocou-se para o centro da capital por volta das 5h. Com a expectativa alta, ele disse que não tem hora para ir embora, e estava feliz com o resultado das urnas e pelas venda do dia. "Estou trabalhando com um sorriso. Espero que hoje as vendas sejam 100%, não quero voltar com meu produto (pipocas doce e salgada) para casa. Mais do que isso, espero que os quatro próximos anos possam ser melhores", disse.

Assim como Elielson, o vendedor de blusas, bandeiras e faixas, João Silva, 52, chegou no fim de semana para alavancar a comercialização dos itens e garantir um lugar especial para assistir a posse de Lula. Ele mora em Feira de Santana (BA) e espera que o melhor aconteça ao seu estado nos próximos anos. "Teremos investimentos na cultura, educação, alegria e a picanha novamente. O Nordeste com certeza voltou a sorrir", apontou João.

A irreverência também tomou conta do evento. Sósias de Lula e de Obama fizeram sucesso entre os apoiadores que compareceram nas festividades. Daniel Vieira, natural de Arapiraca (AL), viajou 1.790km para prestigiar o presidente, com quem tem muitas semelhanças físicas. Ele conta que parecer com o Lula era motivo de apreensão, mas que a vitória do presidente o trouxe um alívio. "Eu fui muito perseguido na cidade e até ameaçado de morte. Quando Lula ganhou, eu amei! Assim como ele, eu não tenho medo", afirmou.

Outro personagem esteve presente na Esplanada: Roulian Vieira, sósia do ex-presidente norte-americano Barack Obama. Ele saiu de Minas Gerais para acompanhar a posse de Lula e disse sentir orgulho de ser parecido com Obama. "Quem parece com pessoas boas sente orgulho. Então parecer com Obama é um orgulho para mim, para minha raça", afirmou. Na solenidade, Roulian estava na companhia de Daniel, sósia de Lula. "Estar ao lado do sósia do presidente Lula não tem preço", concluiu com boas risadas.

A festa era para todos e abarcou tanta gente, que até os vizinhos argentinos vieram presenciar. Daniel Pincotini, 66, veio de Buenos Aires para acompanhar a solenidade. Para ele, o petista é um dos maiores políticos do continente. "Um homem que pode representar o melhor para o país e ajudar a integrar a diversidade", aponta.

Ao lado da esposa, a brasileira Patrícia Porto, com quem está junto há seis anos, Daniel conta que a celebração da posse foi belíssima. A mulher, na mesma narrativa, afirma que, agora, o Brasil pode viver, novamente, seus dias de glória. "É uma felicidade total para o nosso país", destaca a fisioterapeuta.

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  • João Silva veio de Feira de Santana (BA) para vender lembranças
    João Silva veio de Feira de Santana (BA) para vender lembranças Foto: Rafaela Martins/CB/D.A Press
  • O Beirute da 107 Norte ficou cheio de militantes petistas
    O Beirute da 107 Norte ficou cheio de militantes petistas Foto: Vítor Gripp/CB/D.A Press
  • A Esplanada dos Ministérios foi tomada por petistas vindos de várias regiões do país para festejar a posse
    A Esplanada dos Ministérios foi tomada por petistas vindos de várias regiões do país para festejar a posse Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press

Um carnaval nos bares e avenidas

Frequentadores de bares e cafés celebraram o resultado positivo do turismo com vigor político e social

 (crédito: Vítor Gripp/CB/D.A Press)
crédito: Vítor Gripp/CB/D.A Press

Pedagoga desempregada desde 2018, vinda de Contagem (MG), Susan Perpétuo, 54, celebrava  em frente ao bar Pardim (405 Norte) e tinha na ponta da língua a frase "dias melhores virão". Ao lado das duas filhas, dizia que o show que tanto esperávamos era a subida de Lula na rampa do Planalto. "Houve a pluralidade de todas as tribos e até representantes de religiosidades diversificadas", comentou a mãe de Olga Perpétuo, 33, Anita, 14, batizadas em homenagem às revolucionárias Olga Benário e Anita Garibaldi. As três se reuniram ao restante da família e seguiram para a Esplanada. 

"Sempre militante", desde o movimento estudantil, a nutricionista Giselle Freitas veio de Goiânia para a celebração de ontem. "Passei por toda a história da redemocratização do país", disse, orgulhoso, ao lado da filha Mariah Monteiro, 29, historiadora, e estudante na Alemanha, que veio testemunhar a "virada de página" do país. Ambas fizeram um intervalo para tomar um café que revigorasse a jornada, iniciada às 10h.

"É uma vitória que não tem parâmetros. A gente tinha deixado o registro no mapa da fome, e infelizmente, voltamos. Mas espero um novo Brasil, novamente", demarcou Giselle, com a veia de estudante dos anos de 1980, quando na UFG, testemunhou, a distância, a ascensão de Lula na liderança do cenário político. 

"Tenho a honra, o prazer e o orgulho de me ver plenamente realizada", contou, ao falar da posse e do sucesso da filha Mariah, estudante da Universidade Católica de Eichstätt-Ingolstadt, na baviera alemã.

Morador de Goiânia,  Lucas Nakamura, 30, testemunhou pela primeira vez uma posse presidencial. "Antes, eu não sabia dimensionar muito bem o sentido de tudo. Hoje, me sinto muito feliz, vivendo um momento histórico. Foi realmente um sonho ver a posse", descreveu.

No Beirute (107 Norte) o servidor municipal Vandré Cleiton dos Santos, 36, veio do Rio de Janeiro para a posse. "A cidade me tratou muito bem. Estávamos apreensivos, tínhamos medo de atentados", comentou. Professor de artes para séries iniciais, Vandré (com nome em homenagem ao cantor e compositor Geraldo Vandré) descreveu ao Correio, as melhoras de vida da família, quando, a partir dos governos petistas, passou a "andar de avião e conseguiu e a usufruir de churrascos de fim de semana". A compra da passagem para a posse, veio tão logo confirmado o resultado do segundo turno.

"Foi meu objetivo principal vir para a posse. Não houve menção à comunidade LGBTQIA nos discursos, mas, ainda assim, me senti contemplado nas palavras do Lula, como cidadão, professor, homem preto, pobre e alguém atento às políticas sociais", comentou.

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