O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) finalizou, na última quinta-feira, o desenho de nova Esplanada dos Ministérios. No primeiro escalão, o petista acomodou nove dos partidos que declararam apoio ao novo governo durante e após a campanha eleitoral. Mas isso será suficiente para garantir a governabilidade e a aprovação, no Congresso, de pautas de interesse do Palácio do Planalto? Quem foi contemplado, garante que sim. Quem não, enxerga um horizonte cinzento à frente.
Depois do PT e do PSB, que formaram a chapa presidencial, legendas de centro como União Brasil, MDB e PSD ocupam o maior espaço, com três pastas cada. Com fortes bancadas no Congresso, as legendas que não apoiaram formalmente o então candidato petista na corrida eleitoral desbancaram outras menores, de esquerda, que compuseram a coligação oficial. PSol, PCdoB e Rede ficaram com um ministério cada. Já o PDT, que declarou apoio ao petista no segundo turno, ganhou um modesto quinhão.
Dos 16 partidos que apoiaram Lula nas eleições, ficaram de fora do primeiro escalão PV, Solidariedade, Pros, Avante, Agir, Cidadania, PCB, PSTU, PCO e UP. Segundo a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), as siglas serão contempladas em cargos como secretarias-executivas dos ministérios, a pedido de Lula. "Vamos começar agora as discussões das composições de segundo escalão, porque nenhum ministério tem a porteira fechada", assegurou. A escalação deve começar na primeira semana do governo.
Gleisi lamentou, ainda, não ter incluído mais legendas aliadas na Esplanada. "Gostaríamos muito que estivessem participando de ministérios, mas, infelizmente, não tinha espaço. A gente sente muito isso, mas vamos procurar contemplar", explicou.
Lula priorizou União, MDB e PSD na composição do primeiro escalão como parte da negociação para formar a base no Congresso. A governabilidade na Câmara e no Senado é uma de suas maiores preocupações desde a campanha, já que parlamentares de centro e de direita são maioria na nova legislatura, que inicia em fevereiro. O partido do agora ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL, elegeu a maior bancada entre as siglas.
Somados, os partidos que formam o primeiro escalão do governo Lula têm 282 deputados na Câmara, embora o apoio real tem tudo para ser menor. O presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), declarou que sua legenda terá atuação "independente" e não se comprometerá em seguir as orientações do Palácio do Planalto.
Para o novo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, senador Carlos Fávaro (PSD-MT), Lula foi "extremamente habilidoso" na montagem do primeiro escalão. "Ele contemplou o arco de alianças da governabilidade com gente comprometida e não tem vergonha da política. Ele sabe quem está comprometido, e quem sabe dialogar são políticos, como ele próprio disse. Mas nós temos a obrigação e o compromisso firmado com ele de que as áreas técnicas serão ocupadas (por especialistas) para que possamos desempenhar o papel político e a boa gestão do governo Lula", salientou.
O novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), endossa a opinião do correligionário e, agora, de ministério. "O presidente pacificou sua base, teve muita sabedoria, e os resultados virão, com certeza", disse.
Ceticismo
Aliados de Lula, porém, criticam o espaço dado ao Centrão. "Vai dar merda", previu uma liderança petista, sem meias palavras. O presidente nacional do PSol, Juliano Medeiros, fez um alerta ao futuro presidente: "Uma agenda de centro não é capaz de resolver a crise que o país vive. Por isso, espero que Lula se mantenha fiel ao programa escolhido na eleição", observou.
O líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes, prevê problemas na Câmara a partir do ano que vem. "Muito espaço para o Centrão (nos ministérios) e acordos mal costurados. A composição foi muito malfeita, com muitas escolhas pessoais. Uma costura que não representa o Plenário. Nove ministérios para o Centrão é muito. E não tem a ver com o PT, que já tem muito ministério", criticou.
O cientista político André Rosa discorda do deputado. Para ele, o acerto com MDB, PSD e União Brasil foi "muito bem orquestrado", pois Lula "terá um vespeiro esperando ele a partir de fevereiro". Mesmo com a base de apoio, o novo governo deve enfrentar dificuldades com a oposição — sobretudo com o PL.
"Ele (Lula) vai ter que ter muito controle do Orçamento, principalmente na fase da lua de mel, que talvez nem tenha. A coisa ficou muito complicada com os últimos desdobramentos de Bolsonaro", avalia.
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