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Lula monta tropa de choque no Legislativo com parlamentares de confiança

Ao colocar Wagner, Randolfe e Guimarães em lideranças, presidente eleito escolhe parlamentares nos quais confia plenamente

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, ontem, os líderes do futuro governo no Legislativo. Ficam responsáveis pela articulação política o deputado federal José Guimarães (PT-CE), na Câmara; e os senadores Jaques Wagner (PT-BA), no Senado, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), no Congresso. Os três têm estreita ligação com o petista.

As escolhas de Lula são estratégicas. Wagner, que chegou a ser cotado para ocupar um ministério, atuou na articulação para a aprovação da PEC da Transição no Congresso — que viabilizou o cumprimento de promessas da campanha o presidente eleito. O senador, por sinal, já ocupou postos no primeiro escalão de governos petistas: foi ministro do Trabalho (2003-2004), da Secretaria de Relações Institucionais (2005-2006), da Defesa (2015) e da Casa Civil (2015-2016).

Ao anunciar os membros que faltavam para fechar os postos na Esplanada, Lula explicou por que não entregou pastas a Wagner e à presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR). "São duas pessoas que tive a liberdade de dizer: vocês não serão ministros. Wagner, porque eu precisava dele no Senado. E Gleisi, porque ela tem que trabalhar muito para costurar as várias tendências que nosso partido tem, e que não é fácil. Mas ela faz isso com muita competência", salientou.

O futuro líder no Senado foi governador da Bahia por dois mandatos, de 2007 a 2014, e chegou a ser apontado, em 2018, para concorrer à Presidência da República, quando Lula estava judicialmente impossibilitado de disputar.

Segundo petista do trio, José Guimarães ocupa pela segunda vez uma liderança por indicação do Palácio do Planalto — foi líder do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. O parlamentar é frequentemente ligado ao episódio no qual José Adalberto Vieira, então seu chefe de gabinete, foi preso, em 2005, no aeroporto de Congonhas (SP), com US$ 100 mil escondidos na cueca, além de US$ 209 mil e uma mala de mão.

Guimarães é irmão de José Genoíno, ex-integrante da Guerrilha do Araguaia, ex-presidente do PT e ex-deputado federal — condenado a quatro anos e oito meses de reclusão em regime semiaberto por envolvimento no escândalo do Mensalão.

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Pedra no sapato

Futuro líder no Congresso, Randolfe Rodrigues (AP) tem estreita ligação com os partidos de esquerda. Egresso do PT e com passagem pelo PSol, hoje integra a bancada da Rede e foi um dos principais adversários do atual governo, tanto no Parlamento quanto nas ações que impetrou no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na CPI da Covid, da qual foi vice-presidente, transformou-se em uma pedra no sapato de Jair Bolsonaro — que, irritado com a atuação de Randolfe na comissão de inquérito, disse que o senador era especialista em "medicina intergaláctica", além de em um áudio divulgado pelo também senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) afirmar que "vou ter que sair na porrada com um bosta desse."

O presidente ainda debochou do tom de voz de Randolfe e costumava chamá-lo de "Harry Potter", por considerá-lo parecido com o personagem do cinema. Na corrida eleitoral, o senador coordenou a campanha de Lula.

Logo após o anúncio dos líderes, Randolfe já falou como líder no Congresso, ao mandar um recado para o União Brasil. Isso porque setores do partido não gostaram da atuação do senador Davi Alcolumbre (AP) e fizeram chegar a Lula que a legenda se manterá independente nas votações.

"Não quero acreditar que um partido que tem vários ministérios vá ficar independente. Estou confiante de que o União votará conosco", avisou.