Ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e professor de sociologia da Universidade de Brasília, Arthur Trindade tem pesquisado e publicado trabalhos sobre violência urbana, polícias, segurança pública, democracia e cidadania. Ele destaca a gravidade e o inusitado da tentativa de explosão de uma bomba em Brasília. "Não se tem notícia, durante o curso da Nova República, desde a redemocratização, de atentado com fins políticos, para impedir a posse do presidente ou protestar", afirmou, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília. A seguir, os principais trechos:
Gostaríamos de uma análise do senhor sobre a tentativa de atentado em Brasília.
De fato é gravíssimo o que aconteceu. Uma tentativa de atentado terrorista, a bomba, com motivação política. Algo que acreditávamos que o Brasil já tinha superado pelo menos há 50 anos. Não se tem notícia, durante o curso da Nova República, desde a redemocratização, de atentado com fins políticos, para impedir a posse do presidente ou protestar.
- Envolvidos em atentado estiveram no Senado com parlamentares bolsonaristas.
- Polícia procura por comparsa de empresário que planejou atentado no DF.
George Washington foi indiciado por prática de terrorismo. Não me recordo de um indiciamento por prática de terrorismo, pelo menos, não nos últimos cinco anos. Isso é um crime considerado gravíssimo?
Temos leis que são aplicadas em situações como essa. A nova lei de proteção do Estado democrático, que substituiu a Lei de Segurança Nacional, tem sido aplicada por várias autoridades. O ministro Alexandre de Moraes, por exemplo. E tem a lei antiterrorismo, aprovada por ocasião dos Jogos Olímpicos. Diria que não é algo que não acontece há cinco anos, não acontece há 50 anos, alguém ser enquadrado na lei de terrorismo por um ato com motivação política, daí a gravidade do fato. Queria chamar a atenção em relação aos CACs (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores). Não é só um excesso de armas em circulação, não é só o fato de a legislação atual ser bastante permissiva com essas armas, mas também o risco de permitir a criação de células terroristas no país. É a articulação de grupos de milícias armadas.
O empresário contou em depoimento que trouxe o arsenal do Pará, na maior facilidade. Esse livre registro de armas é algo que precisa ser revisto?
Não vi nenhuma notícia ainda que esse empresário tivesse a guia de transporte, que é uma autorização para que transportasse essas armas. E mesmo que tivesse, a guia permitiria o transporte da residência do colecionador, atirador ou caçador para o estande tiro, ou para o local de uso da arma. Não para viajar. Ele viajou transportando as armas em rodovias federais, que supostamente deveriam ser guarnecidas pela Polícia Rodoviária Federal.
São situações isoladas, ou falamos de organização criminosa terrorista?
Tudo leva a crer que, sim, há uma organização criminosa que planeja esses atos. Resta saber o tamanho dessa organização, quem financia e o grau de articulação dessa rede. Provavelmente diz respeito a uma série, um número possível de outros CACs que se articulam em vários estados.
A gente precisa relembrar do cenário de guerra que ocorreu aqui na área central de Brasília, no dia 12. Qual é a preocupação em relação a isso?
O próprio empresário, criminoso, anunciou que a sua atitude tem conexão com os atentados de 12 de dezembro. São fatos conectados, com origem nesses grupos que estão protestando às portas dos quartéis das Forças Armadas. O que chama a atenção é a inação das autoridades, principalmente das federais, mas as locais, também. Porém é uma situação muito delicada para as autoridades locais, uma vez que as pessoas acampadas estão em área militar, portanto, sob jurisdição militar e das forças federais.
Como avalia o vandalismo do dia 12?
Os atentados aconteceram no dia da diplomação de Lula. Algumas pessoas têm feito o paralelo com a situação do Capitólio nos Estados Unidos, quando houve aquele atentado também, no dia em que o Congresso ia reconhecer o resultado das eleições. Então, aquilo ali não foi uma data qualquer. Outra questão que temos de cobrar das autoridades federais é o fato de que essas pessoas estão acampadas na frente do QG do Exército há bastante tempo, e que os serviços de inteligência não estão fazendo o monitoramento adequado dessas pessoas.
*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa
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