No dia da diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do vice, Geraldo Alckmin (PSB), nesta segunda-feira, os manifestantes bolsonaristas preferiram se deslocar do Quartel General (QG) do Exército de Brasília para o gramado do Palácio da Alvorada. Com os portões abertos desde sexta-feira (9/12), a mando de Jair Bolsonaro (PL), para receber os apoiadores, a atitude foi considerada uma "estratégia" para evitar o confronto com petistas.
A segurança do local tem sido feita pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI). Uma grande fila se formou para que os funcionários oficiais fizessem a revista. Porém, mulheres passavam sem a verificação completa e os homens não tinham todas as partes do corpo verificadas, ficando de fora pernas e pés.
Por não terem guardas do gênero feminino disponíveis, era solicitado apenas que abrissem as bolsas, sem toques. Um dos seguranças revelou à reportagem que apenas uma mulher foi lotada para o trabalho, no turno da manhã, o que seria pouco para a demanda. Uma das manifestantes, inclusive, fez a ressalva a um homem de paletó que estava na multidão - e confirmou ser do staff. Ele prometeu levar a situação para um coronel de dentro do GSI.
No final da tarde, detectores de metal desmontáveis estavam sendo fixados no local e foi confirmado que mais efetivo feminino compareceria à barreira a partir de terça-feira (13). Além disso, banheiros químicos chegaram ao local e foram fixados em todo o perímetro de entrada do bloqueio. No mesmo local estão os ambulantes que vendem acessórios, comidas e bebidas a quem passa.
Discurso
A expectativa durante toda a tarde era de que Bolsonaro falasse ao público presente. Por volta das 17h30, o chefe do Executivo saiu da porta principal da residência oficial e atravessou o gramado a pé, ao lado de um padre - não identificado - que segurava a bandeira do Brasil, de seguranças e da equipe que transmitia a movimentação ao vivo. Ele acenava e, visivelmente emocionado, andou de um lado ao outro em frente ao espelho d'água.
Novamente, Bolsonaro não discursou. Mas, assim como no domingo (11/12), deixou as crianças se aproximarem. Dessa vez, um diverso grupo de pequenos - entre eles indígenas -, a maioria vestidos com a camisa da Seleção Brasileira, rodeou o presidente. Um bebê de colo foi entregue a Bolsonaro, que o beijou e o levantou acima da cabeça. A ação foi ovacionada pelo público, que gritava "eles são o futuro da nação". Antes disso, o padre que acompanhou a movimentação rezou, em coro com os manifestantes.
"Algo maior"
Há três dias, os manifestantes têm se deslocado para o Palácio da Alvorado com o propósito de mostrar apoio ao presidente. Alguns aguardam a autorização para acamparem no local, mas o GSI confirmou que a ação está proibida, já que o perímetro faz parte da área de segurança nacional.
Para os bolsonaristas, a diplomação, ocorrida hoje é mera formalidade, mas a sua aprovação é "mais uma prova" para a fraude das eleições. Insistem que a eleição, sem apresentar um código fonte para ser verificado, é um golpe contra a "vontade do povo". Por isso, muitos "esperam um sinal", que seriam as ordens de prisão de petistas, até 31 de dezembro, véspera da posse.
Enquanto Bolsonaro aparecia para o público, o aliado, ex-policial, ex-senador e deputado federal eleito José Medeiros (PL-MT) circulou entre os manifestantes. Tirou fotos, respondeu perguntas de forma lacônica e atendeu ao chamado para conversar com um grupo que vestia camisas do Brasil.
Para Medeiros, as pessoas deveriam ter seguido o direcionamento para comparecer à Esplanada dos Ministérios, no último domingo (11/12), pois a intenção era repetir a cena de Sete de Setembro deste ano. "Aqui está bonito, mas deveriam ter ido para a Esplanada", lamentou. "Tem que acontecer algo grande para mudar alguma coisa. Eles estão agindo acima da lei", completou.
Ao ser questionado se deveriam partir para a ações violentas, como "furar o Xandão [Alexandre de Moraes]", o parlamentar desconversou. Apenas ressaltou que estão agindo de maneira opressora, inclusive há riscos de a família Bolsonaro ser perseguida, na avaliação do parlamentar. "Já querem prender os filhos", mencionou. Um manifestante sugeriu "atacarem" no aeroporto, o parlamentar concordou que isso "seria algo grande".
No entanto, o silêncio de Bolsonaro e de seus filhos sobre ações para reverter a posse tem incomodado algumas pessoas. "Bolsonaro teria que fazer alguma coisa, mas acho que não vai fazer mais. Temos que insistir vindo aqui", confessou um manifestante que carregava o celular.
"A diferença entre a direita e a esquerda é que a esquerda é mais organizada, sabe o que quer. A direita só quer liberdade", lamentou o homem.