Depois de quase dois meses "de muita conversa, de muito ajuste", o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fechou a arquitetura da nova Esplanada dos Ministérios, com 37 pastas e cadeiras suficientes para acomodar quase todo o arco político que se uniu ao líder petista para, primeiramente, vencer o atual presidente, Jair Bolsonaro, na eleição mais polarizada e tensa da História, e, depois, construir a base de governabilidade da futura gestão.
Na sede do governo de transição, no CCBB, ontem, o presidente eleito anunciou os 16 nomes que faltavam para compor o gabinete do Poder Executivo. Entre eles, nove representando os três partidos de centro que se uniram à aliança de esquerda após a vitória no segundo turno das eleições.
Diante do time de convocados, com direito a foto oficial, Lula mandou um recado aos subordinados, que já começaram a montar suas equipes de segundo e terceiro escalões: "No meu governo, não há medo de escolher político". A frase sintetiza o conceito adotado por ele na complexa formação do novo ministério, que conta com participação inédita de 11 mulheres, a maior presença feminina já vista nos principais cargos do Executivo federal. E mais duas mulheres devem ser anunciadas hoje para postos estratégicos, os comandos do Banco do Brasil e da Caixa. (Leia reportagem na página 4).
A costura política norteou a escolha dos nomes. Dos 37 ministros, 11 não têm filiação partidária, mas nove deles atuam ou atuaram no ambiente político, com cargos no Executivo. Apenas duas ministras — Nísia Trindade (Saúde) e Ana Moser (Esporte) — podem ser consideradas neófitas.
Lula também anunciou seus comandantes no Parlamento: José Guimarães (PT-CE) será o líder do governo na Câmara; Jaques Wagner (PT-BA) foi designado para a liderança no Senado; e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ocupará a liderança no Congresso. (Leia na página 5)
"Boa sorte, que Deus abençoe cada um de vocês", disse Lula, antes de mandar seu primeiro recado ao time: "Sejam o mais democrata possível na montagem de seu governo (ministério). É importante a gente olhar pessoas que têm competência técnica, que têm qualificação técnica. E, no meu governo, não há medo de escolher político. Fora da política, a gente não encontra solução para quase nada no planeta".
Centrão e esquerda
O último movimento de peças no tabuleiro da Esplanada revelou o resultado das articulações que vinham sendo feitas com os três partidos do Centrão — MDB, PSD e União Brasil — que se uniram a Lula após as eleições. Cada um terá três cadeiras de ministro. A maioria dos nomes estava definida e foi apenas confirmada. Simone Tebet (MDB-MS) no Planejamento; Renan Filho (MDB-AL) nos Transportes, Jader Filho (MDB-PA) em Cidades; Carlos Fávaro (PSD-MT) na Agricultura; e Alexandre Silveira (PSD-MG) em Minas e Energia não surpreenderam. Mas a inclusão do União Brasil, um partido dividido entre o apoio a Lula e setores ligados ao bolsonarismo, deu mais trabalho, porém não afastou o presidente eleito de seus critérios pessoais e políticos.
André de Paula (PSD-PE), cotado para a pasta das Comunicações, foi deslocado para o Ministério da Pesca e Aquicultura, com o objetivo de abrir a terceira vaga ao União Brasil, que indicou o deputado federal pelo Maranhão Juscelino Filho. As outras duas contemplaram aliados do presidente eleito na legenda. Daniela do Waguinho, deputada federal mais votada no Rio de Janeiro, assumirá a pasta do Turismo. Ela é esposa do prefeito de Belford Roxo e presidente do União Brasil no Rio, Wagner Carneiro (o Waguinho), único da Baixada Fluminense majoritariamente bolsonarista a apoiar Lula no segundo turno, em uma aliança costurada pelo prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD).
Fechando a cota do União Brasil está o governador do Amapá, Waldez Góes, que nem do partido é. Ele é filiado ao PDT, mas teve seu nome apadrinhado pelo senador amapaense Davi Alcolumbre, peça-chave na articulação para garantir o apoio do partido tanto à PEC da Transição quanto ao Orçamento de 2023. Uma jogada ousada de Lula que ajudou a pacificar o partido de Luciano Bivar — a legenda enfrentava dissidências e ameaças de abandono do barco da governabilidade.
O PDT, que marchou com Ciro Gomes no primeiro turno das eleições presidenciais, foi contemplado com o Ministério da Previdência. O titular da pasta será o próprio presidente da legenda, Carlos Lupi.
A Rede, por sua vez, confirmou o retorno da deputada federal eleita Marina Silva (SP) à pasta de Meio Ambiente. O PCdoB emplacou a vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, na pasta de Ciência e Tecnologia.
Já o PSol será representado na inédita pasta dos Povos Indígenas, com a deputada eleita Sônia Guajajara (SP). Fechando a lista dos 16 anunciados, ontem, estão o general da reserva Gonçalves Dias como ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o deputado federal Paulo Pimenta (RS) no comando da Secretaria de Comunicação Social — o 10º ministro do PT.
Já anunciados anteriormente, o PSB terá três ministérios: Justiça (Flávio Dino); Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Geraldo Alckmin); e Portos e Aeroportos (Márcio França). E 11 titulares não têm vínculo partidário. Além de Nísia Trindade e Ana Moser, integram o gabinete de Lula José Múcio Monteiro (Defesa), Jorge Messias (AGU), Esther Dweck (Gestão), Margareth Menezes (Cultura), Anielle Franco (Igualdade Racial), Vinicius de Carvalho (CGU), Mauro Vieira (Itamaraty), e Silvio Almeida (Direitos Humanos).
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Simbolismo
A solenidade de anúncio dos ministros restantes foi marcada por gestos simbólicos, com o objetivo de passar a imagem de união da equipe e para marcar a diferença entre o governo que sai e o que entra. Quando foi chamada por Lula para ser apresentada como titular da pasta do Planejamento, Simone Tebet fez questão de convidar o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para fazer a foto oficial ao lado do presidente eleito. Perguntada se era um sinal de harmonia da equipe econômica, a senadora respondeu: "Sem dúvida alguma".
Ao agradecer aos líderes dos partidos que trabalharam para viabilizar a base de governabilidade, Lula criticou a gestão de Bolsonaro, classificada por ele como um "desgoverno", lembrou que herdará 13 mil obras paralisadas e que o Brasil foi "destruído" e "desmontado".
No fim das apresentações, citando a articulação política para aprovar a PEC da Transição, o presidente eleito ressaltou que as legendas aliadas "fizeram a proeza de se juntar para aprovar uma PEC que foi lembrada como a PEC do Lula quando, na verdade, a PEC era para cobrir a irresponsabilidade do governo que está saindo, que prometeu coisas e não cumpriu".
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