O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva vai indicar Marina Silva para comandar novamente o Ministério do Meio Ambiente. Ela recusou o convite feito por ele, ontem, para ocupar o cargo de Autoridade Nacional de Segurança Climática. Em reunião com o petista, a deputada eleita pela Rede disse que essa função, a ser criada pelo novo governo, precisa ser desempenhada por um técnico, e não por alguém de perfil político.
Diante do impasse, Lula chamou mais uma vez a senadora Simone Tebet (MDB-MS), com quem já havia conversado pela manhã, na tentativa de encontrar uma saída. O presidente eleito queria que as duas fizessem uma dobradinha, com Tebet à frente do Ministério do Meio Ambiente. A proposta já havia sido apresentada à senadora em outras duas ocasiões pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
Desta vez, Tebet respondeu que só aceitaria a pasta se Marina concordasse em assumir a Autoridade Climática, o que não ocorreu. Nas redes sociais, a deputada eleita negou que esse tenha sido o assunto da reunião com o futuro chefe do Executivo. "Tive uma boa conversa com o Lula sobre os rumos da política socioambiental do país. Esclareço que no encontro não tratamos sobre convite para assumir a autoridade climática, que defendo ser um cargo técnico vinculado ao Ministério do Meio Ambiente", escreveu ela no Twitter.
Marina tem uma atuação histórica e sólida centrada na questão ambiental, o que lhe conferiu o reconhecimento como um dos nomes brasileiros mais respeitados internacionalmente no assunto. A indicação dela era tão certa que o anúncio chegou a ser aguardado durante a Conferência Climática da ONU no Egito, a COP27.
Outro aspecto que reforça a volta de Marina para o ministério são os resultados na sua gestão da pasta, quando o país registrou a maior redução no desmatamento da Amazônia — de 25 mil para menos de 13 mil quilômetros quadrados.
Agronegócio
A deputada eleita, porém, encontra resistências quanto a sua volta ao ministério no setor de agronegócio, que ainda a vê como uma ambientalista radical. A necessidade de construir um diálogo do campo com o setor ambiental é apontado como um dos motivos para o convite de Lula a Tebet. Interlocutores dizem que a senadora do Mato Grosso do Sul, um estado importante na produção agrícola, tem diálogo e trânsito tanto no agronegócio como em diversos setores do empresariado, o que teria sido demonstrado durante a campanha presidencial, em que se cacifou como a opção da terceira via.
Até agora não está definida a pasta que Tebet assumirá. O Estadão apurou que, durante voo de Brasília para São Paulo, Lula disse a ela que não poderia dispensar sua colaboração no governo. Uma das ideias é que a senadora fique com o Ministério das Cidades.
O problema é que a pasta já foi prometida pelo presidente eleito para a bancada do MDB na Câmara. Pelo Senado, o indicado do partido é Renan Filho, ex-governador de Alagoas, que será ministro dos Transportes.
O deputado José Priante (MDB-PA) tinha sido indicado para Cidades, mas o governador do Pará, Helder Barbalho, que é seu primo, vetou o nome. Os dois não se dão bem. "Eu me sinto lisonjeado por ter sido lembrado pela bancada, mas todo partido tem sua neura. Sempre tem muita confusão. Tem um colega nosso que diz que só acredita em Deus e no Diário Oficial", frisou Priante.
Tebet foi convidada para o Meio Ambiente após o PT barrar o nome dela para comandar o Ministério do Desenvolvimento Social, entregue ao senador eleito Wellington Dias (PT), ex-governador do Piauí. Nas redes sociais, entidades climáticas criticaram a possibilidade de a parlamentar ser titular da pasta, sob o argumento de que ela é ligada ao agronegócio. Foi criada até a hashtag #TemQueSerMarina.
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