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Educação básica deve estar no centro do debate para mudanças no país

Especialistas defendem que políticas públicas deem prioridade à educação básica e estejam acopladas a um sistema de financiamento para o ensino superior e técnico

Tainá Andrade
Marcos Braz*
postado em 16/12/2022 03:55
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A educação é um caminho incontornável para o país encontrar na estrada do desenvolvimento. As dificuldades em todos os níveis de ensino refletem a complexidade do sistema e a necessidade de uma discussão profunda acerca da pauta, a ser encarada como uma das prioridades do próximo governo. Durante o painel Educação: a sociedade quer ser ouvida, no seminário Desafios 2023 — O Brasil que queremos, realizado ontem, em Brasília, especialistas afirmaram que as transformações necessárias passam pela educação básica, que deve estar no centro dos debates.

O presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Celso Niskier, e a diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudia Costin, defenderam o fortalecimento da educação de base e destacaram a implantação do ensino em tempo integral como fundamental.

Para Costin, somente esse modelo de educação, iniciado no ensino fundamental 2 até o ensino médio, dará às crianças a preparação necessária para um mercado de trabalho em transformação veloz, que cobra habilidades complexas, no desenvolvimento do pensamento sistêmico e possibilitando análises mais aprofundadas e a resolução colaborativa de problemas com criatividade.

"Quero ver alguém ensinar uma educação que, de fato, ensine a pensar e não só despeje conhecimento na cabeça dos alunos. Quero ver fazer o que Pernambuco, um estado bem mais pobre que o Distrito Federal e que São Paulo, faz. Ensino médio integral, em tempo integral, trabalhando não só aulas, nas oficinas, clube de matemática, clube de dança, atividades diversificadas. É importante que o ensino médio não só prepare para o ensino superior, que ele diversifique, prepare para o mundo do trabalho. Virou tabu no ensino médio falar em educar para o mundo do trabalho, como se o dia de nós adultos, o filé mignon, não fosse o trabalho. É fundamental se preparar para o mundo do trabalho que está em intensa transformação", assegura a diretora.

Para isso, ela diz que o olhar para o ensino, em todas as etapas, deve ser mais "acolhedor". Opinião compartilhada por Celso Niskier, que vê com preocupação a queda no número de matrículas nos últimos três anos e os 38 milhões de jovens, na faixa de 18 a 24 anos, que nem estudam e nem trabalham — a geração "nem nem".

De acordo com o presidente da ABMES, trata-se de um desafio que passa pela inclusão das camadas menos favorecidas da população na educação superior. "A saúde mental dos jovens afeta a qualidade da educação, precisamos transformar em política pública, precisamos reconhecer o desafio que temos. Precisamos não só recuperar a aprendizagem, mas o aprendiz", ponderou.

Financiamento

Junto a isso, outro reflexo da pandemia e da crise econômica é o impedimento de acesso dos estudantes às modalidades de financiamento para o ensino superior, ocasionado, em grande parte, pelo não alcance da nota mínima — 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) — para concorrer ao subsídio. "Milhões de jovens não chegam a essa nota no Enem, portanto, a ampliação da inclusão e do acesso à educação superior passa pela melhoria da educação básica", disse.

Como solução, o especialista apontou a criação de um amplo programa de recuperação da aprendizagem em que estudantes de universidades públicas e privadas fariam extensão universitária, junto a professores da rede pública. De acordo com a proposta do presidente da ABMES, esses graduandos atuariam nas salas de aula "ajudando os alunos que ficaram para trás".

Ao concluir o ensino médio, os estudantes encontram ainda um outro entrave, dar segmento à formação por meio do ensino técnico ou ingressar em uma universidade. A diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudia Costin, enfatizou que ocorre um desequilíbrio no ingresso de cidadãos nos dois caminhos.

"Um discurso é o de que está todo mundo indo para a universidade e ninguém para o ensino técnico. Sinto informar que não está ninguém indo para lugar nenhum, em termos relativos. Só 25% dos adultos de 25 a 34 anos no Brasil tem diploma universitário. É verdade que tem pouca gente que vai para o ensino técnico e profissional. Nós temos que aumentar dos dois lados. Alguém que vai fazer ensino técnico não deveria ser proibido de ir pra universidade depois", exemplificou a especialista.

Nesse sentido, os participantes do painel defenderam que políticas públicas deem prioridade à educação básica e estejam acopladas a um sistema de financiamento para o ensino superior e técnico. O presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), Celso Niskier, reforçou que o Programa Universidade para Todos (ProUni), "merece ser mantido e até ampliado", mas com atenção à inclusão das camadas mais vulneráveis da sociedade.

*Estagiário sob a supervisão de Michel Medeiros

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