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Qualidade do ensino deve ser mais importante que gastos, diz especialista

Segundo presidente do Insper, se as crianças não estão aprendendo as competências básicas, existe um problema grave, que deve ser questionado pelas autoridades e pelos educadores

Fernanda Strickland
postado em 16/12/2022 03:55
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O déficit de aprendizagem e os elevados índices de evasão escolar foram apontados como problemas a serem enfrentados pelo Brasil para avançar na pauta da educação. As afirmações são do presidente do Insper, Marcos Lisboa, que participou do Debate 2023: O Brasil que queremos, realizado ontem, em Brasília.

Para o economista, "o foco da educação não tem que ser o gasto e sim o aprendizado dos alunos". Segundo ele, esse é um tema de extrema importância, mas que nunca é colocado em discussão no Brasil.

Ainda conforme avaliação de Lisboa, o país demorou a despertar para a discussão sobre a educação. "Temos vários desafios: os estudantes aprendem pouco e aprendem fora do tempo certo. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) mostram isso. Parte do desenvolvimento de competências fundamentais como matemática e português, a partir dos 15 anos de idade, não se compara com o resto do mundo. Isso acontece mesmo com países que gastam a mesma quantia que o Brasil, ou até menos que o Brasil", pontuou.

De acordo com o presidente do Insper, se as crianças não estão aprendendo as competências básicas como o português e a matemática, existe um problema grave, que deve ser questionado pelas autoridades e pelos educadores. "Eles estão aprendendo o que devem aprender? Estão desenvolvendo competências como matemática e português, que são essenciais no ensino básico? E, a partir disso, aperfeiçoar esse desenvolvimento das competências necessárias", afirma.

Evasão

O especialista ressalta que é preciso evoluir na discussão do tema, mas que o ponto de partida para a educação não deve ser o montante de recursos gastos, mas o que os estudantes estão aprendendo. Segundo Lisboa, os reflexos da deficiência da educação podem ser avaliados com os elevados índices de evasão escolar no Brasil. "Não é à toa que a evasão é tão alta", pontua.

No entanto, reconhece que o problema já foi maior, quando sequer havia um currículo a ser seguido. "Eu acho que agora temos um currículo mínimo, ainda que considere que possua uma série de problemas graves. Mas está melhor que antes. De fato, tem um processo de avaliação e gestão do processo educacional para garantir o desenvolvimento dessas competências."

Segundo o economista, o próprio processo educacional é pouco discutido. Para ele, tanto a gestão quanto o desenvolvimento das competências dos estudantes não são tratados de forma correta e com a seriedade necessária. "A gente discute muito os números graves como os da evasão, ou o gasto total com educação no Brasil", diz. "A população entendeu isso e aumentou significativamente o investimento nos últimos 30 anos. Ainda é um atraso em relação ao resto do mundo, mas aumentou. Mas, no entanto, as competências não foram desenvolvidas", conclui.

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