Correio Debate

Economistas defendem que gastos sejam feitos, mas com responsabilidade

Na visão da economista Juliana Damasceno, políticos e gestores precisam dar mais atenção ao planejamento para alcançar o equilíbrio entre o social e o fiscal

Raphael Pati*
postado em 16/12/2022 03:55
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press)

A responsabilidade fiscal e a responsabilidade social são difíceis de serem alcançadas em razão da falta de planejamento. É o que acredita a economista da Tendências Consultoria, Juliana Damasceno, que esteve no seminário Correio Debate — Desafios 2023: o Brasil que queremos.

"Quando a gente fala em responsabilidade, um dos pilares que não tem sido muito respeitado e bastante esquecido, é o planejamento. O planejamento é básico em qualquer contexto que você queira imaginar para além do amanhã", argumentou.

Para a economista, essa organização passa pela questão da sustentabilidade econômica. Ela destacou que é importante lutar para corrigir os erros do passado e teceu críticas ao sistema de emendas de relator, chamado popularmente de Orçamento Secreto. Para ela, a correção desses erros está diretamente ligada à questão cultural dos políticos do país.

"Falta um pouco da cultura, de reavaliação de gastos, algo que lá fora é constantemente aplicado, se a gente ver a literatura e as boas práticas orçamentárias internacionais, existe toda uma metodologia muito bem elaborada e que o Brasil deveria se espelhar para voltar em programas que são ineficientes, corrigir esses problemas e fazer com que os recursos sejam melhor gastos", considerou.

Poucos resultados

Durante o painel, a economista também aproveitou para afirmar que "o político se orgulha de quando ele gasta muito, quando a métrica não deveria ser o gasto, mas o resultado", e também argumentou que é necessário alocar bem os recursos, ainda mais se forem escassos.

"Enquanto a gente não mudar esse olhar e os políticos não colherem méritos porque estabilizaram as condições macroeconômicas, conseguiram gerar crescimento através de juros baixos, incentivos à produtividade, reformas microeconômicas, enquanto for o gasto responsável por ser, sozinho, esse motor do crescimento, a gente vai continuar incorrendo mesmos erros e tendo problemas de cultivar essa sustentabilidade", avaliou.

Entre os exemplos, a economista destacou o Auxílio Brasil, que, segundo ela, o governo falhou ao mudar a forma de distribuir os recursos. Em vez de repassar os valores, segundo a quantidade de membros na família, como no antigo Bolsa Família, o novo programa passou a adotar o modelo de distribuição para as famílias, em geral, sem considerar o número de membros.

"Desde novembro do ano passado, quando começou a vigorar esse novo formato, nós vivemos uma explosão considerável na quantidade de famílias unipessoais. Ou seja, as pessoas estão se registrando de forma separada, simplesmente para acumular benefícios. De quem é o problema? De quem é o erro? É do governo, que não sabe desenhar uma política eficiente, bem localizada e que não fiscaliza isso", criticou.

Além disso, Juliana trouxe ao debate a realidade de haver um entendimento de que a responsabilidade fiscal se resume em austeridade com o Fisco. Para a economista, o importante é garantir que os recursos sejam gastos da maneira mais eficiente possível.

"Existe essa noção um pouco distorcida de que responsabilidade fiscal é austeridade fiscal, mas não é simplesmente você gastar menos, é você gastar melhor. Nós temos recursos escassos e a qualidade desses gastos deveriam ser prioridades", disse a economista.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

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