Criada em 1995 com o objetivo de reconhecer pessoas mortas ou desaparecidas em razão de suas atividades políticas; CEMDP será extinta a duas semanas da posse de Luiz Inácio Lula da Silva
Os membros da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) decidiram na manhã desta quinta-feira (15/12) por 4 votos a 3, encerrar os trabalhos do próprio colegiado, que é responsável por tratar de crimes cometidos durante a ditadura militar. O movimento de extinção do órgão tem o aval do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e acontece a duas semanas da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
A atual gestão do Executivo possui maioria na comissão presidida pelo advogado bolsonarista Marco Vinicius Pereira de Carvalho. O órgão foi criado em 1995 com o objetivo de reconhecer pessoas mortas ou desaparecidas em razão de suas atividades políticas durante a ditadura e foi responsável, por exemplo, por entregar aos familiares os atestados de óbito das vítimas. A decisão, antecipada pelo Estadão, deve agora ser publicada em decreto assinado por Bolsonaro.
A proposta já estava nos planos da atual gestão federal desde junho, mas a decisão foi adiada após contestação da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e do Ministério Público Federal (MPF).
Votaram favoravelmente à extinção da CEMDP o presidente do colegiado, Marco de Carvalho; o representante da sociedade civil, Paulo Fernando Melo da Costa; o representante das Forças Armadas, Jorge Luiz de Assis; e o deputado federal Filipe Barros (PL-SP), representante da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Foram contrários o representante do Ministério Público Federal, Ivan Claudio Marx; a representante dos familiares desaparecidos Diva Soares Santana; e a representante da sociedade civil Vera da Silva Paiva.
Paulo Fernando Melo da Costa é ligado a grupos conservadores em Brasília e foi assessor parlamentar do senador eleito Magno Malta (PL-ES).
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Fundada em 1995 no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a comissão foi resultado de um acordo entre o ministro da Justiça, Nelson Jobim, e o ministro do Exército, Zenildo Lucena. Tratava-se de cumprir o que estava nas disposições transitórias da Constituição de 1988, reconhecendo a responsabilidade do Estado brasileiro no desaparecimento e na morte de presos políticos. Ao mesmo tempo, mantinha-se a Lei de Anistia, de 1979, que impedia a punição dos torturadores e assassinos de prisioneiros sob custódia.
Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, em junho, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministros da Justiça Nelson Jobim e José Gregori, e o ex-secretário de Estado de Direitos Humanos Paulo Sérgio Pinheiro se disseram contrários à extinção da comissão.
"A CEMDP, instituição ímpar na história constitucional brasileira, deu notáveis contribuições, sob três governos sucessivos, à efetivação do direito à memória e à verdade. Mas, depois do início do governo Jair Bolsonaro (PL), uma série de retrocessos levaram à sua desmobilização", escreveram. A recomendação da procuradoria do Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF) também é contrária ao fechamento da comissão.
Ao longo do trabalho do colegiado, surgiram relatos de militares e de policiais, além de documentos, que ajudaram a esclarecer dezenas de crimes, como o sequestro, a tortura, a morte e o desaparecimento do ex-deputado federal Rubens Paiva. Também foi possível identificar na vala comum do Cemitério de Perus, em São Paulo, as ossadas de cinco desaparecidos políticos: Dênis Casemiro, Frederico Antonio Mayr, Flávio de Carvalho Molina, Dimas Antonio Casemiro e Aluísio Palhano Ferreira.
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