O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga alertou para a realidade do cenário macroeconômico. “Hoje estamos em uma situação muito preocupante. As âncoras do lado fiscal se foram”, lamentou.
“Não temos margem de manobra. Não temos margem de segurança. Não temos uma estratégia clara de desenvolvimento”, destacou Fraga, nesta quinta-feira, (15/12), na abertura do seminário Desafios 2023 — o Brasil que queremos. Organizado pelo Correio Braziliense, o evento é realizado de forma semipresencial no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, com transmissões nas redes sociais e no site do jornal.
Armínio Fraga lembrou que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 2001, apesar de ter sido especialmente bem desenhada, não sobreviveu, como o teto de gastos, introduzido em 2016. “O teto não cumpre mais a sua missão”, frisou.
Para o economista, o Brasil precisa repensar um novo modelo de âncora fiscal e o fato de o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconhecer essa necessidade é um fator positivo, mas, na opinião dele, o cenário será bastante desafiador, pois a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição deverá criar um deficit primário mais perto de 2% do que de 1,5%.
“Hoje somos um país buscando um novo modelo de política econômica em uma situação que eu diria ser muito complicada, com uma taxa básica de juros (Selic) muito alta e uma inflação ainda elevada e sem âncora fiscal”, afirmou.
Cenário macroeconômico
Durante a introdução Fraga dividiu o cenário atual em cinco temas: macroeconomia, produtividade e crescimento, crítica social e combate às desigualdades, sonho e, por último, uma pergunta que é recorrente diante dos mesmos problemas históricos: Por que a gente não aprende?
“O cenário macroeconômico tem sido palco de muitos problemas. Temos que ter uma certa humildade e olhar para trás e enxergar a confusão atual. Houve momentos brilhantes, com a estabilização do real, mas houve muita confusão, muita crise cambial e surtos de inflação, como a mais recente”, destacou.
Na avaliação de Fraga, o principal problema da questão fiscal não é o teto de gastos, mas a falta de uma discussão sobre quais são as prioridades da sociedade para as despesas do Orçamento, uma vez que quase 80% das despesas primárias são Previdência Social e folha de pagamento, restringindo a margem para os investimentos prioritários.
“Faz sentido isso?”, perguntou. E, na sequência, lembrou que “não há país no mundo que gaste isso” no Orçamento público. “Precisamos discutir o Estado que queremos e olhar para onde vai o dinheiro público e construir políticas que lidem com temas da pobreza extrema”, sugeriu.
Correio Debate
O seminário Desafios 2023 — o Brasil que queremos reúne grandes especialistas, executivos, autoridades e integrantes da equipe de transição de governo para abordar as novidades e as transformações no próximo ano.
O formato do debate do Correio tem quatro painéis de discussão de temas que dominarão o cenário econômico do próximo ano: Responsabilidade fiscal e social, O crescimento passa pela infraestrutura, Educação: a sociedade quer ser ouvida e A saúde como fonte de sustentabilidade da nação. O encerramento do evento será feito pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
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