Leandro Lira, 41 anos, desenvolveu o primeiro software do Brasil a implementar o processo virtual em larga escala, o Projudi. Graças ao sistema, o trâmite dos processos judiciais passou a ser feito por meios eletrônicos, o que permitiu expandir a informatização dos cartórios e tribunais de Justiça do país e trouxe mais agilidade, eficiência e sustentabilidade ao meio jurídico. Ele é um dos vencedores do Prêmio Espírito Público, concedido a profissionais que se destacam na elaboração de projetos voltados à melhoria de qualidade dos serviços públicos.
O Prêmio Espírito Público, criado para valorizar servidores públicos que transformam a realidade da população brasileira, anunciou, na última quarta-feira, os nove vencedores deste ano. A cerimônia de premiação ocorreu no Rio de Janeiro. A quinta edição do prêmio teve um total de 27 finalistas. Foram premiados cinco servidores públicos na categoria "Pessoas que transformam", três "Projetos que transformam" e uma iniciativa de sucesso na categoria "Votação Popular".
Na categoria "Pessoas que Transformam", os vencedores foram Renata Valéria Sousa (PE), Leandro Lira (DF), Felipe Guimarães (SC), Joel Andrade (SC) e Kelly Cristina Carvalho (MA).
Em "Projetos que Transformam", os ganhadores foram o Programa Piauiense de Alfabetização na Idade Certa (PI), o Painel Interativo de Higiene de Mãos do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (MA) e o Outubro Movimente: De Repente a Gente Muda a Mente (MT).
Na votação popular, venceu o projeto Educação Antirracista, da Secretaria de Educação de Cachoeira (BA).
O Prêmio Espírito Público, criado em 2018, é uma iniciativa da Parceria Vamos, formada por Fundação Lemann, República.org e Instituto Humanize. Neste ano, os vencedores receberam valores que variam de R$ 10 mil a R$ 15 mil.
Revolução digital
Filho caçula de uma família de seis filhos, Leandro Lira foi incentivado desde cedo a investir em educação. Natural de Campina Grande (PB), encarou o desafio de cursar duas faculdades ao mesmo tempo, ainda que para isso tivesse que concluí-las em um ritmo mais lento. Admirado com a possibilidade de defender as pessoas, o primeiro curso que escolheu foi o de direito, na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
De acordo com Lira, a decisão se deu "muito mais pela causa do que pelo aspecto financeiro". Depois, fez ciência da computação na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O seu trabalho de conclusão de curso transformou-se em uma grande revolução para o Judiciário brasileiro. Em 2004, com apenas 23 anos, apresentou o projeto que não só garantiu o seu diploma, como viria a se tornar o primeiro software do Brasil a implementar o processo virtual em larga escala, também conhecido como Processo Judicial Digital (Projudi).
Em 2006, Leandro cedeu os direitos do trabalho desenvolvido ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que o convidou para orientar a execução como assessor da instituição. E foi assim que começou sua trajetória no serviço público, onde está há 17 anos, agora como analista concursado de tecnologia da informação da Anatel.
Graças ao sistema Projudi, o trâmite dos processos judiciais passou a ser feito por meios eletrônicos, o que permitiu expandir a informatização dos cartórios e tribunais de Justiça do país e inspirou diversos órgãos a seguirem o mesmo caminho. "Foi bem desafiador, porque era não só a questão do desenvolvimento computacional, mas quebrar barreiras culturais", conta Leandro.
"Primeiro, porque tinha a resistência do próprio meio jurídico, que é muito tradicional, e nós não éramos funcionários de um Tribunal de Justiça, éramos estudantes. Precisamos romper barreiras, apresentar algo útil e convencer as pessoas disso. Construímos o Projudi de forma heroica."
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