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Lula diz que desenho da Esplanada será quase uma reedição do segundo mandato

Presidente eleito diz que desenho da Esplanada será quase uma reedição do existente em seu segundo mandato, então com 36 pastas

Ingrid Soares
Vinicius Doria
Victor Correia
Henrique Lessa
postado em 03/12/2022 03:55
 (crédito:  Evaristo Sa/AFP)
(crédito: Evaristo Sa/AFP)

O desenho da Esplanada dos Ministérios no governo de Luiz Inácio Lula da Silva será semelhante ao do segundo mandato dele à frente do Palácio do Planalto. O presidente eleito confirmou, ontem, no CCBB, que o novo mapa das pastas terá "tudo o que a gente tinha (no segundo mandato), mais o ministério dos povos originários", cuja estrutura ainda está sendo definida pela equipe de transição. Conforme o Correio antecipou na edição de ontem, a gestão do petista deve ter, no mínimo, 34 pastas. Em seu segundo mandato, entre 2007 a 2010, havia 36.

Sobre os nomes que vão compor a equipe ministerial, Lula avisou que não pretende fazer anúncios antes da diplomação no cargo de presidente, marcada para o dia 12 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Não precisa ninguém ficar nervoso. No fundo, já tenho 80% dos ministérios na cabeça", disse ele, demonstrando bom humor com a insistência dos jornalistas.

Apesar da pressão política e do mercado financeiro para que aponte a composição de sua equipe, Lula afirmou que não pretende se antecipar. Mas admitiu a possibilidade de divulgar o ministro da Defesa na semana que vem. "Se tiver que anunciar ministro, anuncio, mas não tem nada certo", ressalvou.

O nome mais cotado para a Defesa é o do ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, que foi ministro de Relações Institucionais no segundo mandato de Lula. Em jantar na noite de quinta-feira, na casa da senadora Kátia Abreu (PP-TO), o petista confidenciou a alguns políticos que conta com José Múcio e com o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA) em seu governo.

Ao ser perguntado sobre a indicação do ex-ministro Fernando Haddad à pasta da Fazenda, Lula destacou que "o meu ministro da Economia terá essa cara do sucesso do meu primeiro mandato", em ato falho sobre o futuro do atual ministério, que será cindido em três: Fazenda; Planejamento e Orçamento; e Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

"O ministério tem um monte de coisa, mas quem ganhou as eleições fui eu. E eu, obviamente, quero ter inserção nas decisões políticas e econômicas deste país", enfatizou. "Quero construir um ministério para as forças políticas que me ajudaram a ganhar as eleições."

O futuro chefe do Executivo também confirmou a informação de que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, não será chamada para o governo. Ela permanecerá no comando da legenda. "É um reconhecimento do papel que Gleisi tem na organização política do PT no Brasil. O fato de ela não ser ministra é o reconhecimento da grandeza dela. Ela vai ter muito trabalho, certamente mais trabalho do que qualquer ministro", justificou.

Há poucas dúvidas em relação ao novo mapa ministerial. Uma delas é o status que terá o órgão responsável por cuidará dos povos originários. Na campanha, Lula havia prometido criar um ministério específico, mas, ontem, admitiu que poderá ser uma secretaria especial, com status de ministério, ligada à Presidência da República.

Outro ponto indefinido é a proposta de cisão do Ministério da Justiça, com a criação da pasta da Segurança Pública, mas o coordenador do grupo temático que trata da questão, o senador eleito Flávio Dino, é contra. Ele é o nome mais cotado para assumir o cargo.

Herança preocupante

O presidente eleito está esperando que os grupos temáticos concluam os respectivos diagnósticos setoriais para bater o martelo sobre nomes e cargos. "Vocês (jornalistas) perceberam que eu não tenho falado com a imprensa. Estou esperando a transição terminar para conversar e dizer a vocês como encontramos o país, as finanças, os ministérios. É um trabalho muito minucioso, que está sendo feito por gente muito responsável, e estou convencido de que a situação do Brasil não é das melhores", apontou.

Essa foi a deixa para que desfiasse críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Disse que, a depender da herança deixada pelo atual ocupante do Palácio do Planalto, o país não terá grande crescimento no próximo ano. Assegurou, no entanto, que os brasileiros viverão como "cidadãos livres, sem medos de milicianos e sem medo de ataques".

"Temos informações de que não teremos grande crescimento em 2023, se depender da política que está em vigor neste país, mas temos a obrigação e o compromisso de fazer este país voltar a crescer", declarou.

A entrevista, que durou cerca de meia hora, foi a primeira concedida por ele após a cirurgia na garganta a que se submeteu há duas semanas. Com a voz menos rouca do que nos discursos da campanha, frisou estar se recuperando bem. "Tem pessoas que fizeram a mesma cirurgia e ficaram um mês sem falar, eu não fiquei um dia", disse o presidente eleito. Na semana que vem, Lula se submeterá a uma nova bateria de exames. "Preciso da minha voz para governar este país."

Grupo de inteligência

Três semanas depois de iniciar os trabalhos no CCBB, o gabinete de transição contará com mais um grupo temático, que estava previsto no escopo original. O grupo de Inteligência Estratégica, que estudará a situação da Agência Brasileira de Informações (Abin) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) teve sua composição publicada, ontem, no Diário Oficial da União. Mas, dos cinco nomeados, apenas dois nomes foram divulgados: o delegado da Polícia Federal Andrei Augusto Passos Rodrigues e o agente da PF e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais Vladimir de Paula Brito. Os outros três integrantes são identificados apenas pelos números de matrícula na Abin, onde estão lotados como oficiais de inteligência.

Andrei Augusto Rodrigues foi o chefe da segurança pessoal de Lula durante a campanha eleitoral. Vladimir de Paula Brito é especialista em serviços de inteligência e defendeu, no mestrado na UFMG, a dissertação O papel informacional dos serviços secretos.

Dos atuais ministérios, apenas o da Defesa não tem grupo correlato no governo de transição, por causa da dificuldade que a equipe do presidente eleito tem encontrado para dialogar com os militares, como antecipou o Correio, duas semanas trás.

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