Lisboa — Protegido por um forte esquema de segurança, que levou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a fechar a rua que dá acesso à sua sede, o vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, disse, após encontro com o presidente da instituição, Zacarias da Costa, que não são suficientes as garantias do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de que as eleições brasileiras transcorreram normalmente e de que não houve fraudes nas urnas eletrônicas. “Não basta, pura e simplesmente, respostas lacônicas do nosso Tribunal Superior Eleitoral no sentido de contestar eventuais, vamos dizer assim, denúncias ou argumentações sobre o processo (de votação). Nó teremos que evoluir nisso aí”, afirmou. “Acredito que o Tribunal Eleitoral foi parcial nesse jogo”, assinalou.
Segundo ele, as desconfianças em relação ao processo que elegeu o petista Luiz Inácio Lula da Silva presidente da República são compreensíveis e, portanto, é legítimo que parcela dos brasileiros que não se conformam com o resultado das urnas saía às ruas para protestar. “Há, no Brasil, uma parcela da nossa sociedade que considera que o processo (eleitoral) tem problemas. E eu, de minha parte, vejo que precisamos ter que dar mais transparência nesse processo”, afirmou. Ele, porém, não questionou a legalidade da eleição dele para senador. Tanto que avisou, enfaticamente, que tomará posse e será oposição ao futuro governo de Lula.
Para o vice-presidente, as manifestações organizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que vêm causando transtornos à maioria da população brasileira, não podem ser consideradas como golpistas. “Isso é uma coisa que vocês da imprensa estão colocando, isso é manifestação de gente no Brasil. É uma questão interna nossa, de gente que não se conformou com o processo (eleitoral) e considera que esse processo está viciado”, ressaltou. No entender dele, os manifestantes estão nas ruas de forma ordeira. “Estão num processo de, vamos dizer assim, catarse coletiva. Eu posso colocar dessa forma, no sentido de aceitar algo que eles consideram que não foi correto”, acrescentou.
As urnas eletrônicas do Brasil estão em vigor desde 1996 e nunca houve nenhuma prova de fraude, apesar das alegações de Bolsonaro e de seus seguidores, que tentam, a todo custo, inviabilizar o resultado já proclamado pelo TSE. O governo de transição, inclusive, já está trabalhando a todo vapor para preparar um diagnóstico da atual administração e apresentar propostas para a próxima gestão. Mourão insistiu, porém, que o tempo apontará quem está certo. “O tempo é o senhor da razão. O que eu considero muito claramente é que o árbitro deste jogo, o Tribunal Eleitoral, foi parcial ao longo desse jogo. Isso é que eu considero”, frisou.
Mourão destacou, ainda, que, aos poucos, as manifestações estão perdendo força. “O que eu vejo é que elas estão diminuindo pouco a pouco. Mas, obviamente, tem que ficar muito claro que existe uma parcela imensa da população brasileira que se sente frustrada com esse resultado. E a gente tem que entender isso”, assinalou. O vice-presidente desembarcou em Lisboa na segunda-feira (21/11) e se encontrou com autoridades do governo português, entre eles, o presidente Marcelo Rebelo de Souza e o primeiro-ministro, António Costa, que, dias antes, receberam, com pompas, o presidente eleito do Brasil.
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