Novo governo

Lula se compromete a respeitar regras fiscais

Presidente eleito afirma ter humildade para ouvir os conselhos que foram dados por economistas — apoiadores da sua candidatura — por meio de carta aberta ao país. Eles alertaram para os riscos do descontrole das contas públicas

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Chateação

As incertezas fizeram com que os preços do dólar disparassem e a Bolsa de Valores de São Paulo desabasse. Segundo os economistas, a moeda norte-americana mais cara resulta em mais inflação e uma bolsa de valores desvalorizada dificulta o financiamento de empresas, fundamental para o crescimento econômico, a criação de emprego e a distribuição de renda.

"Vou contar apenas uma coisa: quando venci as eleições, em 2003, tinha uma inflação de 12%, desemprego de 12%, dívida interna de 70,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Ao terminar meu governo, a inflação estava em 4,5%, e a dívida, caído para 37,7% do PIB. O Brasil pagou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e fez reservas de US$ 370 bilhões", frisou.

Lula admitiu incômodo ao ver questionamentos sobre o que será a política fiscal em seu governo. "Fico meio chateado, mas tenho dito que ninguém tem autoridade para falar em política fiscal comigo, porque, durante todo o meu período de governo, o Brasil foi o único país do G20 — grupo que reúne as 19 economias mais ricas do planeta e a União Europeia — que fez superavit primário", assinalou.

"Portanto, não há nenhuma razão neste momento para essa flutuação da Bolsa. É importante que a gente apenas tome cuidado para não ser vítima da especulação. É importante que a gente saiba disso", destacou. "Vamos ter responsabilidade, mas sem atender tudo o que quer o sistema financeiro. Vou voltar a aumentar o salário mínimo todo ano, vou voltar a gerar emprego. Fui eleito para cuidar de 215 milhões de brasileiros e, sobretudo, das pessoas mais necessitadas."

Manifestações

As declarações de Lula foram dadas depois de um encontro com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, no Palacete de São Bento, residência oficial do governante. Antes, o líder brasileiro havia conversado por uma hora e meia com o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, ao qual prometeu retomar as relações entre os dois países. Lula foi tratado com honras, mesmo sem ter assumido a Presidência do Brasil. O presidente Jair Bolsonaro nunca esteve em Portugal e fez uma série de desfeitas a Rebelo de Sousa.

O futuro chefe de Estado desembarcou em Lisboa no fim da manhã de ontem. Almoçou no Cícero Bistrô, restaurante de propriedade do ex-banqueiro Paulo Della Nora. Comeu camarão vermelho com robalo, molho de dendê, leite de coco e arroz com salsa. Além de parte de sua comitiva, que contava com a mulher dele, Rosângela Lula da Silva, a Janja, e o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, teve como companhia à mesa o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o economista José Roberto Afonso, um dos pais da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Se na porta do restaurante Lula foi ovacionado, enfrentou protestos tanto na sua visita ao presidente português quanto no encontro com o primeiro-ministro. Apoiadores de Bolsonaro o chamavam de "ladrão" e diziam que ele não assumirá o mandato para o qual foi eleito. Um grupo de defensores do petista fazia o contraponto. Para evitar atos de violência, a polícia foi obrigada a reforçar a segurança. Houve momentos de tensão, logo contornados.

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Carlos Costa / AFP - O presidente eleito e a mulher dele, Janja, são recebidos no Palacete de São Bento pelo primeiro-ministro de Portugal, António Costa
Carlos Costa / AFP - Carlos Costa / AFP