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Prazo para o Bolsa Família fora do teto de gastos gera impasse

Congresso se divide sobre PEC que prevê retirar programa das regras fiscais em definitivo

Integrantes da base do governo Bolsonaro sinalizaram estar dispostos a apoiar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, mas apontaram resistências a pontos da minuta do texto, apresentada ao Congresso Nacional na noite de quarta-feira. O líder do governo Bolsonaro no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), disse que é "difícil" respaldar a exclusão do Bolsa Família do teto de gastos.

"Estamos dispostos a dialogar para ter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600. É um ponto de convergência entre os parlamentares. Mas é difícil ser extrateto — e por um período de quatro anos — por conta da responsabilidade fiscal. Não adianta dar o aumento e causar inflação, crescimento dos juros. Tudo isso vai corroer o valor de compra. Ou seja, não haverá ganho", argumentou Portinho, em comunicado à imprensa. A PEC, no entanto, visa tirar definitivamente o Bolsa Família do teto, e não apenas por quatro anos.

Em busca de construir um texto com boas possibilidades de aprovação, a cúpula do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) procura integrantes da base do atual governo para chegar a um consenso. O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), teria sugerido a Portinho uma reunião.

O senador bolsonarista, porém, voltou a dizer que a PEC "não pode ser um cheque em branco", mas afirmou estar disposto a negociar sobre o aumento real do salário mínimo. "No entanto, precisamos de um ministro para avaliar os impactos de todas essas propostas para saber como acontecerá a recuperação ao longo do ano", acrescentou.

Excluir o Bolsa Família em definitivo do teto de gastos não é unanimidade nem mesmo entre aliados. A senadora Simone Tebet (MDB-MS), por exemplo, se mostrou contrária à medida. Também existe resistência na inclusão do bônus de R$ 150 por criança de até 6 anos.

O senador eleito Wellington Dias (PT-PI), que integra o Conselho Político de Transição, informou que há, no Congresso, pelo menos três posicionamentos a respeito do texto. "Temos a posição da PEC original, sustentada por vários parlamentares, de que, em se tratando de um programa permanente o Bolsa Família, não há por que ter um embate, uma tensão todo ano para decidir. Essa é a razão de excepcionalizar sem o mandato, de forma permanente", salientou.

Outra vertente identificada por Dias é de congressistas que defendem o benefício extrateto somente até o fim do governo Lula. "Nesse caso, acreditando que durante o mandato se vai encontrar uma alternativa relacionada à sustentabilidade, não só do Bolsa Família, mas também em relação à própria política fiscal, de controle das despesas", comentou.

O terceiro grupo, na visão do senador eleito, é o daqueles parlamentares que pregam a validade da proposta apenas por um ano. "Isso pode criar um tensionamento. Temos excepcionalidades para a dívida, queremos dar excepcionalidade para os mais pobres, e aqui seria uma alteração somente para o Bolsa Família", frisou.

O deputado federal Enio Verri (PT-PR), membro da equipe de Planejamento da Transição, não acredita em dificuldade de aprovação da PEC, "porque o conjunto dos deputados vê com bons olhos o Bolsa Família". "A maior questão não será o valor nem a excepcionalidade, mas o prazo pelo qual valerá: indeterminado versus quatro anos. O segundo, aí é outro debate, é o destino dos R$ 105 bilhões", ressaltou, referindo-se ao montante que se abrirá no Orçamento se o gasto com o programa for excluído do teto.

Ele destacou que as mudanças propostas pela PEC — especialmente em relação à priorização das verbas para manutenção dos programas sociais — precisariam ser debatidas qualquer que fosse o governo eleito. "Se fosse outro presidente, teria de ser feita exatamente a mesma coisa. Ou em janeiro pagariam só R$ 405 do Bolsa Família? As farmácias populares seriam extintas? Não se trata de ser um governo x ou y. É que a peça orçamentária é o caos", criticou. "Ou nós fazemos essa PEC da Transição e criamos mínimas condições, ou a crise social que teremos a partir de janeiro será grave", alertou.

Saiba Mais

Despesa de R$ 175 bilhões

O Orçamento de 2023 já tem R$ 105 bilhões previstos para bancar o Auxílio Brasil — futuro Bolsa Família —, mas no valor de R$ 400. Para manter os R$ 600 pagos atualmente e acrescentar R$ 150 por criança de até 6 anos — promessa de Lula —, serão necessários mais
R$ 70 bilhões.