O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estará em Brasília para comandar a transição e se encontrar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em um momento crucial para os dois. De um lado, o petista quer negociar uma licença para gastar e cumprir as promessas de campanha. O deputado, por sua vez, tenta atrair apoio do PT para a reeleição no comando da Câmara, em 2023, e manter o poder sobre as emendas do orçamento secreto. A possibilidade de acordo entre os dois, porém, é minado por disputas internas e divisões que já ocorrem na equipe do futuro governo.
Lula e Lira deram um primeiro passo rumo ao entendimento no domingo do segundo turno, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarar o petista como presidente eleito. Segundo interlocutores de ambos, o tom da conversa foi cordial e positivo. Tanto o deputado quanto o pai, Benedito de Lira, foram por longo tempo aliados dos governos do PT no Congresso. O telefonema começou com o petista perguntando pela saúde do ex-senador, o que animou e "desarmou" o presidente da Câmara, de acordo com interlocutores.
O presidente eleito foi aconselhado a recuar dos ataques que fez durante a campanha eleitoral e virar a chave para um acordo com o Centrão em nome da governabilidade. Esse recado foi dado pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP) a Lula ainda durante o segundo turno, conforme relato que fez ao líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), aliado de Lira.
Saiba Mais
Foi quando o petista passou a considerar a manutenção do orçamento secreto, prometendo dar transparência às indicações das emendas, mas ainda mantendo o poder dos parlamentares na destinação dos recursos, com um período de transição. A decisão tomada é que o governo não vai mexer nas emendas de 2023 e começará a negociar o futuro dos recursos nos próximos anos.
Nos bastidores, parlamentares dizem que Lula precisará chegar na conversa com uma definição: se realmente vai "abraçar" Lira e já negociar o Orçamento de 2023 em troca do apoio ao presidente da Câmara ou se vai incentivar outra candidatura ao comando da Casa.
Parlamentares avisaram Lula que o PT não pode cometer o mesmo erro de governos anteriores, quando lançou candidatura própria para a Presidência da Câmara e foi derrotado. O caso mais recente ocorreu em 2015: o partido não quis apoiar o deputado Eduardo Cunha, que derrotou o PT na disputa e abriu o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff no ano seguinte.
"Não fui informado (da reunião entre Lira e Lula), mas acredito que será uma reunião proveitosa", afirmou o deputado Claudio Cajado (PP-BA), presidente em exercício do partido de Lira. "Defendo uma pacificação, seja ela qual for, em nome da governabilidade", acrescentou o deputado Fausto Pinato (PP-SP).
Antes da reunião entre o presidente eleito e o presidente da Câmara, a bancada do PT deve fazer uma reunião para discutir a negociação. "É um momento de construir pontes para uma transição tranquila. Nossa expectativa é que a conversa seja para tornar oficial essa boa relação que os dois já estão vivendo", avalia o deputado Enio Verri (PT-SP).
"A conversa será boa. Ambos no clima, hora de colocar água fria e apaziguar ânimos", disse o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), um dos petistas escalados para fazer a ponte entre Lula e Lira.