Em busca de apoio para aprovar promessas de campanha no Congresso Nacional, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já recebe o aceno de importantes caciques do Centrão. Prova disso é que ao mesmo tempo em que a cúpula da transição, comandada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), se reunia com o relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), o deputado federal José Guimarães (PT-CE) se encontrava com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Foi quando chegaram a um entendimento para que pautas de interesse da futura gestão avancem.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) nos últimos anos, Lira disse que "topa ajudar" o governo eleito, segundo Guimarães, com pautas urgentes para o futuro chefe do Executivo e que são importantes para o país, entre elas propostas referentes à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2023 e as medidas que serão construídas em torno da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Transição.
Guimarães relatou que apesar de o presidente da Câmara ter posições diferentes do PT, vai buscar um melhor entendimento e está disposto a construir um bom termo nessas proposições. Segundo Guimarães, "as portas foram democraticamente abertas".
"Tivemos a primeira conversa oficial com o presidente da Câmara. A conversa foi boa. Ele disse que topa ajudar, topa a dialogar, que vai sentar com o Lula e, depois, discutir a pauta. Na minha percepção, o presidente Lira e o pessoal do Senado, que discute com o presidente (Rodrigo) Pacheco (PSD), vão buscar o melhor entendimento com o governo. (Lira) tem posições diferentes, mas está disposto a construir um consenso para votações de matérias que interessem ao novo governo. Isso é o saldo político da reunião", frisou Guimarães, enquanto se encaminhava para a Liderança petista no Senado, onde estava a cúpula da transição após a reunião com o relator do Orçamento.
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Volta da folga
O vice-presidente do PT também relatou que Lira aguarda um retorno de Lula da folga prolongada que esta desfrutando para a realização de uma reunião entre eles. Segundo Guimarães, o presidente da Câmara salientou que o momento era para ver "o melhor para o Brasil".
"Lira me disse que está aguardando o retorno de Lula para uma reunião dos dois. Pode sair um sinal positivo para o diálogo. Temos que acalmar o Brasil, discutir os problemas em outro nível, pavimentar a reconstrução", observou.
O aceno de Lira ao PT reforça uma possível aproximação do PP com o futuro governo. Desde o término das eleições, no domingo passado, o deputado vem fazendo movimentos nesse sentido, tanto que foi um dos primeiros a parabenizar Lula pelo resultado das urnas. Além do presidente da Câmara, interlocutores petistas acreditam que outros caciques do partido podem ajudar na negociação para uma adesão do Centrão ao governo.
Um potencial ponto de resistência à aproximação do Centrão com o governo eleito poderia ser a família Calheiros. Mas até mesmo esse ponto parece equalizado. O senador eleito Renan Filho (MDB-AL) disse que a rivalidade com Lira na política alagoana não atrapalha a eleição à Câmara, e que Lula "precisa olhar quem vai levar seu projeto adiante".
A aproximação indica que o petista não deve interferir na disputa pela Presidência da Câmara. Uma das possibilidades é o apoio do PT à reeleição de Lira — o que terminaria por garantir o apoio do PP e de deputados do Centrão sob a influência do presidente da Câmara à base governista.
Ventila-se, ainda, os nomes dos deputados Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos — que compõe o Centrão com PP e PL — e Luciano Bivar (União Brasil-SP — leia abaixo) para o posto hoje ocupado por Lira.