A troca de farpas entre o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), está cada vez mais no passado. Agora, ambos precisam sentar lado a lado para negociar os rumos da PEC da Transição no Congresso Nacional, além de desenhar os passos seguintes para viabilizar o governo dos próximos quatro anos. O vice-presidente do Partido dos Trabalhadores, deputado Josué Guimarães (CE), anunciou ontem que a legenda pode, inclusive, fechar o seu apoio à reeleição de Lira ainda nesta semana. (leia mais abaixo)
Lira, por sua vez, reúne cada vez mais força. Durante as negociações, segue invicto com a manutenção do orçamento secreto — Orçamento Municipalista, nas palavras do presidente da Câmara. As emendas de relator têm previsão de R$ 19,4 bilhões para 2023.
"O orçamento malfadado a que chamam de secreto é municipalista, é amplo, é democrático", disse o presidente da Câmara, em palestra proferida na Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados no último dia 21. Lira alega que o orçamento controlado pelo Congresso permite mais capilaridade e precisão na aplicação dos recursos do que aquele que fica a cargo exclusivo do governo federal. "Essa escolha (de onde aplicar os recursos) é aleatória, é pela pressão do parlamentar, que, muitas vezes, tinha que ficar cinco ou seis horas na antessala de um ministro com uma pasta debaixo do braço", argumentou.
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Abrangência
Além disso, Lira recebeu publicamente nos últimos dias o apoio de diversas legendas para sua reeleição. Além do PDT, o Republicanos e, por último, o União Brasil, declararam torcer pela manutenção do deputado no cargo. Na última quarta-feira, o partido liderado por Luciano Bivar (União-PE) formalizou o apoio à reeleição do presidente da Casa. Em troca, Bivar, que era cotado para concorrer com Lira ao posto, negociou a permanência dele no comando da Primeira Secretaria da Câmara.
Assim, a reeleição de Lira pouco é questionada. Com uma aliança cada vez mais abrangente, do Centrão ao PT, o caminho para ser reconduzido ao comando da Casa está praticamente pavimentado. Com isso, Lula se vê obrigado a tê-lo como aliado para viabilizar seu governo.
Dentre os 513 deputados, o discurso de que Lira é o favorito se solidifica a cada dia. A tendência, portanto, é que a esquerda não lance candidato. "As negociações para a reeleição (de Lira) estão indo muito bem. Não acredito que a esquerda vá lançar algum candidato, mas pode ser que apareça algum avulso", analisa o deputado federal Lincoln Portela (PL-MG), 1º vice-presidente da Casa.
Portela destaca que a habilidade de diálogo precisa ser uma característica do presidente da Câmara, afinal, o resultado da eleição representa os outros 512 deputados. "Lira conversa com todo mundo. Tem que ouvir, todos os partidos têm pautas razoáveis, importantes. Por isso, hoje, não existe outro nome tão forte quanto o dele para reeleição", aposta.
O deputado Glauber Braga (PSol-RJ) critica o potencial apoio da esquerda a Lira. "Representará, para o futuro governo, um poder permanente para uma figura que deu sustentação ao governo Bolsonaro e representa a chantagem contínua do Centrão". Em relação ao PSol, Glauber diz haver um consenso. "(Dentro do partido) Ninguém vota no Lira e vamos tentar articular uma outra candidatura para a presidência da Câmara", afirma.
Segundo o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do atual governo na Câmara, Lira é sem dúvidas o favorito. "Entretanto ainda há fatos que podem acontecer. Temos aí até 1° de fevereiro, que é o dia da eleição, mas ele hoje já tem apoios declarados, como o do Republicanos e o da União Brasil. Ele também deve ter um apoio do PT e do PL", comenta.
O deputado federal André Fufuca (PP-MA), líder do Progressistas na Casa, aponta que, por causa de Lira, o protagonismo voltou à Câmara dos Deputados. "Arthur tem diálogo com todos os partidos, articulação, espírito público e sensibilidade social. Está melhor creditado no momento para a função", observou o parlamentar.
Pragmatismo
O presidente da Câmara consegue, assim, consolidar seu poder no bolsonarismo, mas sem perder o poder na transição de governo. É o que avalia o cientista político do Insper Leandro Cosentino. "Ou seja, demonstra que política não é só a questão ideológica, mas que também há uma boa dose de pragmatismo no fazer da política", observa.
Para Consentino, Lira é um importante fiador da nova base parlamentar para o governo Lula. "Ele tem um papel central. Mostra que está disposto a continuar dando as cartas dentro do protagonismo do parlamento que foi construído no governo Bolsonaro e que ele faz questão de não perder neste novo governo", explica.
O grande embate agora vai ser um novo governo eleito querendo ter protagonismo e o Arthur Lira querendo manter esse protagonismo do lado do Congresso, que acabou tomando as redes desse processo todo, sobretudo no âmbito orçamentário", conclui o especialista.
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