Relação Brasil e Portugal

"Portugal e o mundo estavam com saudades do Brasil", diz primeiro-ministro 

António Costa disse a Lula que o governo de Portugal está disposto a apoiar o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU

Vicente Nunes - Correspondente em Portugal
postado em 18/11/2022 23:00
 (crédito: CARLOS COSTA / AFP)
(crédito: CARLOS COSTA / AFP)

Lisboa - O governo de Portugal está disposto a encampar a proposta do Brasil de mudar a composição do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). E não medirá esforços para que seja fechado, o mais rapidamente possível, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Essas foram as principais mensagens transmitidas ao presidente eleito brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo primeiro-ministro português, António Costa.


“A ONU não pode ser o que era em 1948. Por isso, temos defendido uma reforma do Conselho de Segurança e temos dito que um dos países que deve ser membro permanente do Conselho de Segurança é o Brasil”, ressaltou Costa. “Mas, para isso, é preciso que o Brasil não esteja fora do mundo e ocupe, por direito, o lugar que merece”, emendou. “Além disso, temos de estar juntos no esforço que é preciso fazer para aproximar a União Europeia da América Latina em geral, e do Mercosul, em particular.”


Para Costa, era preciso que o Brasil regressasse com seu peso em favor da democracia, do combate contra as alterações climáticas, da defesa do ambiente e da cultura. “Portugal e o mundo estavam com muitas saudades do Brasil”, reforçou. No entender do primeiro-ministro, é fundamental recuperar os quatro anos em que os dois países estiveram afastados por causa da beligerância do presidente Jair Bolsonaro, que nunca visitou Portugal, quebrando uma tradição honrada até pelos governos militares.


O líder português destacou também a importância de se investir da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e apoiar o discurso de Lula de que a proteção da Amazônia é uma causa global. O presidente eleito brasileiro defende que os países mais ricos paguem para que as nações menos desenvolvidas protejam suas florestas. “A Amazônia não é uma responsabilidade exclusiva do Brasil, é uma grande reserva da humanidade e, portanto, deve ser considerado dádiva de toda a humanidade”, assinalou.

Fake news

Lula não poupou elogios a Costa e ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, com quem conversou por uma hora e meia. Na visão dele, é fundamental que o Brasil retome os laços com Portugal, onde vivem, oficialmente, mais de 250 mil brasileiros — a maior comunidade estrangeira no país europeu. “É bom estar de volta”, disse, ressaltando a emoção que sentiu durante a participação na COP27, no Egito, em que o Brasil foi saudado por retomar o diálogo e debater os temas de maior relevância para o planeta.


“Não foi o mundo que isolou o Brasil, foi o Brasil que se isolou, um país que nunca teve um contencioso nos últimos 150 anos. Um país que era considerado o mais alegre, com maior esperança, que saiu da 12ª para a sexta economia do mundo. Um país que ficou triste, com 33 milhões de pessoas passando fome”, disse o petista. Para ele, no entanto, o importante é que as eleições deram uma nova chance à democracia. E o povo não pode perder a oportunidade de reforçar essa conquista.


Antes da entrevista que concedeu ao lado de Costa, Lula desabafou com o anfitrião, num diálogo que foi ouvido pelo Correio. O líder brasileiro afirmou que, em todos os seus anos de política, nunca viu uma campanha eleitoral tão agressiva como a deste ano, em que venceu Bolsonaro por pouco mais de 2 milhões de votos. Segundo ele, houve uma fábrica de fake news, que criou um ambiente de radicalismo sem precedentes. “Nunca vi isso em nenhuma das eleições que participei”, enfatizou.


Segundo Lula, esse movimento de disseminação de notícias falsas já havia dados as caras nas eleições de 2018, quando Fernando Haddad foi o candidato a presidente pelo PT após a prisão dele. Mas nada se compara ao ambiente visto neste ano. Para o presidente eleito, toda essa estrutura de fake news, de destruição de reputações, teve como origem Donald Trump, que venceu Hillary Clinton em 2016 na batalha para a Presidência dos Estados Unidos.

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